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Publicado: Segunda-feira, 4 de junho de 2007

A Conferência de Aparecida

A Conferência de Aparecida
Terminou nesta quinta-feira, 31 de maio, em Aparecida, a V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e Caribenho que teve início dia 13, com a presença do Santo Padre o Papa Bento XVI. Depois de empenhativo trabalho e muito esforço das comissões, foram aprovados dois textos que, sem dúvida, serão de grande importância para a vida do Povo de Deus neste continente. Um menor que é uma mensagem à população e outro mais extenso que tem caráter de Documento. Este último deverá ser ainda levado à aprovação do Sucessor de Pedro, em Roma, para a devida autorização, antes de ser publicado.
 
Visitei o Santuário de Aparecida na segunda-feira passada, quando pude estar fraternalmente com vários bispos brasileiros e de outros países. Fui a propósito de encontrar o amigo Dom Cláudio Hummes e conversar sobre detalhes a respeito da Congregação para a Educação Católica para a qual fomos, há poucos dias, nomeados pelo Santo Padre Bento XVI. Também desejei encontrar-me com o Senhor Núncio Apostólico, para expressar-lhe, como representante que é do Papa no Brasil, a minha gratidão por este gesto de confiança do Santo Padre em minha modesta pessoa, o que muito me honra por poder colaborar mais estreitamente com o Pastor universal da Igreja.
 
Na referida visita, recebi espontânea e cordialmente dos queridos irmãos bispos felizes comentários sobre o andamento da Conferência.
 
O trabalho de redação que girou em torno do tema “Discípulos e Missionários de Jesus Cristo, para que nossos povos, nEle, tenham vida” obedeceu a um novo método baseado no tradicional ver-julgar e agir, mas modificando-o, pois, na verdade, já se torna um pouco envelhecido. Na análise geral da realidade, nesta nova modalidade da Conferência, não prevalece a visão puramente sociológica, mas prima por um olhar que parte da fé. São discípulos de Cristo que vêem a realidade e não simplesmente sociólogos. Assim sendo, entram nesta visão global, além dos aspectos das relações e dos problemas sócio-econômicos, também os aspectos culturais, religiosos, históricos etc. O novo esquema tenta corrigir possíveis problemas que podiam levar à ideologização da fé. Um ver unilateral facilmente resulta em respostas já previstas, com o perigo de instrumentalização da Palavra de Deus para justificar posições ideológicas.     
 
Os Bispos, em Aparecida, estão muito mais preocupados em enxergar a realidade com olhos de Pastores que simplesmente de analistas conjunturais. Sua missão é dar subsídios para que cada fiel se sinta perpétuo discípulo do Senhor, ou seja, perene aprendiz das lições do Mestre, com experiência de convivência pessoal e amorosa com Ele, e se impulsionem a serem verdadeiros missionários dEle no mundo de hoje, vencendo os desafios da atualidade, buscando nEle a vida em plenitude.
 
A preocupação dos Bispos vem em consonância da palavra do Santo Padre Bento XVI, no discurso de abertura, quando questionou sobre o conceito de “realidade”, pois esta não pode ser reduzida somente aos aspectos dos bens materiais, econômico e políticos, mas certamente é muito mais ampla. O perigo de se cair numa Igreja espiritualista, descompromissada com a transformação da realidade social, levou o Papa a fazer uma boa reflexão, para auxiliar os presentes a verem a realidade de forma nova e abrangente.
 
Na América Latina e no Caribe uma extensa história da fé cristã resulta numa sociedade com características próprias que devem ser levadas em consideração nas análises. Pergunta o Papa: “O que é real? São realidades somente os bens materiais, os problemas econômicos e políticos? Aqui está precisamente o grande erro das tendências predominantes no último século, erro destruidor, como demonstram os resultados tanto do sistema marxista quanto também dos capitalistas. Falsificam o conceito de realidade com a deturpação da realidade fundante e por isso decisiva , que é Deus”. E asseverou em seguida: “Quem exclui Deus do seu horizonte falsifica o conceito de realidade".
 
O Documento de Aparecida não pretende ser longo como o da Conferência de Puebla, mas parece que terá bom espaço em vários capítulos no qual estes problemas são julgados à luz da missão eclesial.
 
Nesta visita que tive ocasião de fazer a Aparecida, pude saber que o clima entre os membros da Conferência era de grande fraternidade e cordialidade mesmo com tendências particulares muito naturais nestes encontros.
 
Pela mensagem final agora publicada, podemos perceber que novos caminhos e novo ânimo surgem para que o povo de Deus presente na América-Latina e no Caribe seja mesmo de Discípulos e Missionários para que os povos, em Cristo, tenham vida plena e ajudem a criar um mundo novo em vista do Reino de Deus.
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