A cena paulistana de inverno
Oi
Ia deixar mais uma semana sem escrever, mas fui ameaçada com manifestação na Paulista...o que me deixou bem vaidosa, confesso. Então, encho o peito e vou ao computador. Assumo que esta semana vou me dedicar a aspectos da vida cultura paulistana.
Estive num restaurante onde a carta de vinhos vem num tablet. Não necessariamente isto ajuda a escolher, mas faz o cliente se sentir ou mais importante ou mais incompetente (porque eu não consegui acessar o oráculo para pegar mais informações sobre o vinho, tive que consultar diretamente quem respondia pelo papel de sommelier). Falando em restaurante, tive a oportunidade de me dar conta de que sou quase normal: ouvi mais de uma mulheres (nenhum homem teve a coragem de confessar) dizendo que usaram lipoaspiração e/ou cirurgias de retirada de gordura como alternativa a dieta de emagrecimento. Uma chegou a me contar que depois de fazer a emagrecedora plástica de barriga, quando voltou a engordar, a gordura não coube inteira no abdome, tendo se dirigido aos seus braços, que ela também operou. E que a cicatriz, desde que ela use mangas compridas, nem a incomoda! Aproveitando este assunto, consta que a cirurgia bariátrica de fato está substituindo a alimentação racional, aquela que todos os nutricionistas preconizam. Uma amiga de rede social informou que começou e induziu todos os seus colegas de trabalho a começarem a dieta francesa das proteínas. Documentou seus primeiros e sacrificados passos diariamente e depois parou. Acho que vou perguntar como vai. Afinal, consta que uma das garotas propaganda desse novo hábito alimentar é a mãe do ano, que deve dar à luz proximamente – Lady Kate, além da J. Lo.
Cada vez mais observo que não é incomum famílias de gordos e gordinhos, bem como de magros e magrinhos. Mais grave, porém, são meninas de 13 anos que decidem que precisam emagrecer porque têm amigas magrinhas. Por outro lado, a imagem dos homens é muito injusta. Podem ficar velhos, gordos, calvos, enrugados, continuam sendo vistos como atraentes, e não como exceção. Enquanto isso, conversando com duas mulheres acima de 40 anos, ouvi uma delas dizer a uma gorducha (bem gorducha) de 17 anos que antigamente não se via meninas tão jovens tão gordas. E a menina sorriu e disse que sua mãe diz a mesma coisa. Eu teria chorado.
Por outro lado, depois de eu ter escrito sobre o hábito de fumar, assisti o dispensabilíssimo filme do Almodovar. Antonio Banderas e Penélope Cruz fazem um bico, provavelmente por amor ao cineasta. As duas cenas imperdíveis: um dos comissários de bordo abre um oratório extremamente kitsch para rezar durante o vôo e um número musical que não faria feio no Apertem os Cintos: o piloto sumiu. Mas o que achei uma ode ao passado e ao kitsch é que no vôo em que tudo ocorre os passageiros fumam compulsivamente.
Saí desse filme e fui a um Bar de Tapas, muito bom, nada pretencioso. E metade dos (quase todos jovens) frequentadores saiam constantemente para fumar.
Falando em maus hábitos, estava eu fazendo as unhas num salãozinho de bairro e ouvindo as conversas sobre a atual novela das 21, da Globo. Perguntei à manicure que me atendia o que ela achava e ela respondeu que depois da penúltima, Avenida Brasil, parou de assistir os folhetins. Por que? Porque a novela tinha ensinado maldades excessivas, que ela não queria aprender e muito menos que seus filhos aprendessem. Essa é uma forma de censura muito adequada.
As vezes me pergunto o que é pior, principalmente entre a nova geração. Por exemplo, perguntaram-me – em São Paulo - se 09/07, data comemorativa da Revolução Constitucionalista de 1932, era comemoração do dia da consciência negra. Eu disse que não, que esse feriado era em novembro. E perguntei por que a pergunta. Resposta: como o feriado não era nacional, existia em poucos estados – como em São Paulo, a pessoa só lembrou dessa.
E para fechar o aspecto cultural, fui a um concerto na sexta feira, no qual tocava-se basicamente músicas de Elgar, compositor inglês, de quem se diz ser o da monarquia britânica (possivelmente por causa de pompa e circunstância). Essa introdução foi para dizer que o maestro, também inglês, chamado Frank Shipway, deve estar próximo dos 80 anos. Pois este músico passou mal durante a segunda peça, foi até o final, recebeu os aplausos sentado e, depois do intervalo, começou a reger sentado. Para alegria do público.