A caixinha misteriosa
A cidade estava em polvorosa. Os munícipes, desgostosos com certas atitudes do Prefeito, faziam-lhe ameaças terríveis e ele estava apavorado.
Naquela manhã, quando abriu o portão da garagem, viu no chão, junto à porta de entrada da casa, uma caixa cuidadosamente embrulhada para presente.
Temeroso pegou-a com cuidado e viu que era muito pesada para o seu tamanho. Que conteria? Seria uma bomba? Quanto poderia pesar uma bomba-relógio?
Sabia que podia ser uma brincadeira, aliás, esta era a maior probabilidade, mas, e se não fosse?
Resolveu telefonar para a polícia.
Os policiais vieram prontamente e, embora considerando a pequena possibilidade de ser um atentado, acharam melhor isolar a área, evacuar as casas vizinhas e requisitar de outra cidade. especialistas em desmontar bombas.
Repórteres e curiosos logo souberam do fato e acotovelavam-se junto ao cordão de isolamento, todo mundo querendo e temendo ao mesmo tempo presenciar a explosão da "coisa”.
Vieram os homens e, cuidadosos e cerimoniosamente,desataram os laços, tiraram o papel e abriram a caixa.
Dentro não havia bomba alguma. Apenas areia, pedras e sobre elas uma flor murcha e um bilhete lacônico:
"Isto é tudo o que você merece, pelo seu aniversário".
O aniversário do prefeito seria dali a uma semana e a mensagem foi prontamente interpretada como uma ameaça de morte.
Terra, pedras, flor murcha... só podia significar sepultura, cemitério...
E o prefeito, cada vez mais apavorado pediu para reforçar a sua segurança pessoal.
O delegado dizia que estava tomando todas as providências para apurar quem era o autor daquilo, brincadeira ou ameaça, mas, na verdade, sentia-se um tanto ridículo.
Não é crime perder um embrulho na rua.
O bilhete não tinha destinatário.
Como provar que era dirigido ao Prefeito? Só porque estava perto da casa dele? Já tinha resolvido não fazer nada, esperar que a poeira abaixasse por si mesma, quando foi procurado por dois garotos.
O maior, adolescente, bem vestido e bem falante, o outro um menino de rua, assustado.
- Queremos falar sobre o presente do prefeito.
- Ah! E o que vocês sabem?
O rapazinho falou:
- Aquele embrulho, fui eu que fiz e paguei dez reais para este moleque entregar para a minha namorada. Eu tinha brigado com ela e estava com muita raiva. Achei que ela não merecia um presente de verdade.
Quando vi o que aconteceu fiquei sabendo que este malandro não fez a entrega Ele vai contar porque deixou a encomenda perto da casa do Prefeito.
O pivetinho tremendo gaguejou:
- O pacote estava muito pesado. A casa da menina era muito longe. Por isso deixei ele na rua. Eu nem sabia que aquela era a casa do Prefeito.
E já chorando:
- Não me prenda, doutor! Eu juro que quando eu tiver dez reais eu devolvo pra ele.