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Publicado: Sexta-feira, 18 de novembro de 2011

A caiçara urbana

Crédito: Arquivo pessoal A caiçara urbana
Água Marinha conta a Santos secreta...

Não tem como evitar: a estigmatização sempre acompanha quem mora nesse pedaço do mundo. Ora pela imagem de vida tranquila e preguiçosa que sempre habita o imaginário de quem não é da praia, ora pela má fama de leniência e procrastinação dos seus moradores, também presente na imaginação de quem pouco conhece a cultura litorânea. Como se fossemos uma enorme legião de Dorivais Caymmis contemplando o mar deitados numa rede, ladeados pela água de côco interminável.

Somos lembrados no verão e Campos do Jordão no inverno. Quem mora longe daqui meio que confunde Santos com Peruíbe. É possível ainda encontrar pessoas que, por simplesmente terem descido a serra, estiveram em Santos (a distância entre Santos e Peruíbe é de 80 km).

Levando-se em consideração que Santos deve ser mais velha do que o estado inteiro de Minas Gerais, por exemplo, é de se considerar que, no século XXI, tal cidade praiana caminhe com as próprias pernas. Onde o santista arregaça as mangas numa segunda de manhã, ainda que ouçamos a praia nos dizer: venha... venha...

Água Marinha é uma coluna que, além de tratar das coisas à beira-mar, vem mui respeitosamente descrever uma cidade que vive, respira e pulsa, de temporada à temporada.

Uma cidade que também é outono, inverno e primavera. Que possui seus personagens urbanos, seus locais de encontro, seus pensamentos, suas idéias, seus sucessos, fracassos, virtudes e defeitos. Quem sabe, para o(a) querido(a) leitor(a), um guia de sobrevivência e de vivência de uma Santos que existe fora dos seus lugares turísticos e tradicionais.

Água Marinha conta a Santos secreta, quase invisível, para aquele que decidiu passar a temporada aqui. Não se trata de um roteiro turístico. Trata-se do prazer da leitura em torno de uma Santos que não está nas fotos e que não sai na televisão.

Quem vibra na mesma frequência de onda que temos aqui encontrará uma Santos bem diferente das lendas urbanas e do imaginário comum que existe por aí. Descobrirá que o humor do santista é muito mais britânico do que ibérico, que Santos é uma espécie de cidade-estado, onde apenas uma rua separa culturalmente um morador do Campo Grande de um morador da Vila Belmiro, por exemplo.

Descobrirá que a cidade não está somente na região da orla. Conhecerá seus personagens, as rixas, os dissabores, as manhãs de sol, o cheiro do mar.

Conhecerá a diferença entre um container carrier e um roll-roll, entre uma catraia e um rebocador. Descobrirá que nem tudo o que bóia na água é barco.

Entre a proa e a popa, entre o bonbordo e o estibordo, sejam meus convidados nesse grande passeio e todos a bordo nessa jornada. Porque já estamos a zarpar e singrar águas nunca d'antes navegadas.

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