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Publicado: Quarta-feira, 21 de abril de 2010

21 de Abril - O sufocado grito da Inconfidência

Falta de fé ? Fidelidade? Ou arrojada vontade a criar civilidade?

Eram os ares do novo mundo

a que já nenhum poder podia mais corromper ! .  .  .

Foram ilusões, certezas, insanas lutas,

longos e maquinados sonhos de grandeza

e liberdade, aspirações sinceras, emulação  ou puras  ilações, visões proféticas a sugerir novas nações ? .  .  .

Foram valores, valores, valores sim, caldeados enfim  em bolores  e fulgores de angustiada , infinita e ansiada espera ,

germinados sigilosa e  sub-repticiamente em cadinho

de horrores indescritíveis, deglutidos no burburinho de vozes, de cheiros fortes e odores brotando espontâneos de poros e suores de gente colorida,

sofrida, brutalmente hostilizada e ferida no mais íntimo , ínfimo e magno valor ou virtude, insultada no seu ego natural  e na massa musculosa e forte submetida ao tronco e grilhões, da senzala. Dores morais, imorais, sutis, dores físicas, frias, finais, febrís, reais, intermináveis. Dores incríveis, mitigadas apenas na bondade da fé, no olhar carinhoso e conformado da mãe preta, voz lacrimosa, entoação dolente, olhos na cruz sacrificiante, suplicantes à

gratidão de poucos justos e de alguns inconfidentes, na ilusão de lealdade a ideais  ou  esperanças ao  perdão da própria culpa, culpa de não saber de que culpa se culpavam.  E a derrama? A frustração ao saber que a derrama já não se derramaria e o sofrido povo  não se levantaria  .  .  .

Foram chicotadas e chicotadas de chicotes, crueldade  trespassando carnes  e respingando sangues sobre olhares e faces hirtas,  de olhos esbugalhados, incrédulos, corações exaltados a desgarrar-se sem atinar ao certo se era dantesco castigo aberto à alma sofredora, - tão perto de outras almas gêmeas compungidas a repelir no íntimo essa barbárie e a testemunhar silenciosa ou  em névoa de lágrimas, gritantemente ao vivo, ou ainda em contrito  segredo, o indizível, - ou postigo a trancar para sempre consigo aspirações da mente e corações libertos? Se a única  aceite e indiscutível verdade era a do dono,  senhor dos corpos, dos metais  e consciências, a fazer das aparências o gáudio de suas Excelentíssimas Excelências , não restava mais o mínimo de nada , que o grito cristalino, belo e glorioso da Inconfidência , arrancado tão bravamente à carne e alma dos oprimidos que sofrem e clamam desde sempre ao infinito:

“LIBERTAS QUAE SERA TAMEN”  

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