Sustentabilidade

Publicado: Terça-feira, 31 de maio de 2016

MG volta a liderar ranking de desmatamento da Mata Atlântica

Confira novo estudo do Atlas dos Remanescentes Florestais.

Os novos dados do Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica foram divulgados no dia 25 de maio - na semana em que se comemora o Dia Nacional da Mata Atlântica (27 de maio) - pela Fundação SOS Mata Atlântica e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

O estudo aponta desmatamento de 18.433 hectares (ha), ou 184 Km², de remanescentes florestais nos 17 Estados da Mata Atlântica no período de 2014 a 2015, um aumento de apenas 1% em relação ao período anterior (2013-2014), que registrou 18.267 ha.

Minas Gerais, que vinha de dois anos de queda nos níveis de desmatamento, voltou a liderar o desmatamento no país, com decréscimo de 7.702 ha (alta de 37% na perda da floresta). A vice-liderança fica com a Bahia, com 3.997 ha desmatados, 14% a menos do que o período anterior. Já o Piauí, campeão de desmatamento entre 2013 e 2014, ocupa agora o terceiro lugar, após reduzir o desmatamento em 48%, caindo de 5.626 ha para 2.926 ha.

A exemplo dos últimos anos, os três estados se destacam no ranking por conta do desmatamento identificado nos limites do Cerrado. O Piauí abriga o município Alvorada do Gurguéia, responsável pela maior área desmatada entre todas as cidades do Brasil. Entre 2014 e 2015, foi identificado decremento florestal de 1.972 hectares no local. Os municípios baianos de Baianópolis (824 ha) e Brejolândia (498 ha) vêm logo atrás, seguidos pelas cidades mineiras de Curral de Dentro (492 ha) e Jequitinhonha (370 ha), localizadas na região conhecida como triângulo do desmatamento, que abriga ainda Águas Vermelhas (338 ha), Ponto dos Volantes (208 ha) e Pedra Azul (73).

Em Minas, a perda de florestas nativas mais emblemática foi da atividade de mineração. Um fato marcante foi o registro de um desmatamento de 258 hectares na cidade de Mariana, 65% deles (169 ha) decorrentes do rompimento de uma barragem em novembro do ano passado. Há cerca de três semanas, a Fundação SOS Mata Atlântica entregou relatórios de desmatamento do município e de qualidade da água do Rio Doce a uma comitiva formada pelo Ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho, pelo prefeito de Mariana, vereadores e autoridades locais, durante visita à região. Mapas compilados em parceria com o Inpe mostraram o impacto do maior desastre ambiental já ocorrido na Mata Atlântica. Acompanharam também a visita a Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda), representantes do movimento Mar e Serras de Minas, da Samarco e de movimentos de comunidades locais. Porém, a maior parte do total de desmatamento no estado aconteceu na região de Jequitinhonha, no noroeste do estado, denominado Triângulo do desmatamento.

Além de Minas Gerais, Piauí e Bahia, o Paraná também se encontra em estado de atenção. Enquanto os três primeiros lideram a lista geral, o Paraná foi o que apresentou o aumento mais brusco, saltando 116%, de 921 ha de florestas nativas entre 2013-2014 para 1.988 ha no último período. O retorno do desmatamento nas florestas com araucária é o principal ponto de alerta, responsável por 89% (1.777 ha) do total de desflorestamento no estado paranaense no período 2014-2015. Restam somente 3% das florestas que abrigam a Araucaria angustifolia, espécie ameaçada de extinção conhecida também como pinheiro brasileiro.

Os dados completos e o relatório técnico podem ser acessados no servidor de mapas da SOS Mata Atlântica: mapas.sosma.org.br

Diminuição de estados no nível de desmatamento zero

Nesta edição do estudo, todos os 17 estados apresentaram desmatamento. Enquanto o período anterior trouxe 9 estados no nível do desmatamento zero, ou seja, com menos de 100 hectares de desflorestamento, nesta edição há apenas 7 nesta situação: São Paulo (45 ha), Goiás (34 ha), Paraíba (11 ha), Alagoas (4 ha), Rio de Janeiro (27 ha), Ceará (3 ha) e Rio Grande do Norte (23 ha).

A meta do desmatamento zero no bioma foi reforçada durante o Viva a Mata 2016, evento da SOS Mata Atlântica em que se realizou o Segundo Encontro dos Secretários de Meio Ambiente dos Estados da Mata Atlântica. Com a incorporação de representantes de Goiás e Mato Grosso do Sul durante o encontro, a carta “Nova História para a Mata Atlântica” tem agora a assinatura dos 17 secretários de Estados da Mata Atlântica, em um acordo coletivo que prevê a ampliação da cobertura vegetal nativa e busca do desmatamento ilegal zero no bioma até 2018.

“Em termos gerais, os dados mostram pontos de atenção neste último período. Houve uma queda no número de estados no nível do desmatamento zero e um aumento total de 1% do desmatamento no país, em comparação à queda de 24% no período anterior. Isso mostra que é preciso reforçar as políticas de proteção do bioma, em compromissos como o que firmamos com os secretários de Meio Ambiente dos 17 estados. Esta e outras ações fazem parte de uma agenda estratégica para evitar retrocessos na conservação dos 12,5% de Mata Atlântica que ainda restam no país”, afirma Marcia Hirota, diretora executiva da Fundação SOS Mata Atlântica.

Mangue e Restinga

No período de 2014 a 2015 foi identificada supressão da vegetação de mangue apenas em Santa Catarina, em uma área total de 4 hectares. Bahia (62.638 ha), Paraná (33.403 ha), São Paulo (25.891 ha) e Sergipe (22.959 ha) são os estados que possuem as maiores extensões de mangue.

Já a supressão de vegetação de restinga foi de 680 ha. O maior desmatamento ocorreu novamente Ceará, com 336 ha, seguido do Piauí (224 ha), Santa Catarina (55 ha), Paraíba (49 ha), Paraná (12 ha) e Rio Grande do Norte (4 ha).

Histórico do desmatamento

Criado em 1985, o monitoramento feito pelo Atlas permite nesta edição quantificar o desmatamento acumulado em alguns estados nos últimos 30 anos. O Paraná lidera este ranking, com 456.514 hectares desmatados, seguido por Minas Gerais (383.637 ha) e Santa Catarina (283.168 ha). O total consolidado de desmatamento identificado pelo Atlas desde a sua criação, que não incluiu alguns Estados em determinados períodos, chega a 1.887.596 hectares.

Flávio Jorge Ponzoni, pesquisador e coordenador técnico do estudo pelo INPE, ressalta os avanços tecnológicos obtidos ao longo dos anos de monitoramento. “O trabalho começou em formato analógico, tudo era feito no papel e identificávamos fragmentos acima de 40 hectares. Hoje, na tela do computador, observamos áreas acima de 3 hectares. E há total transparência, tudo o que mapeamos e produzimos é aberto ao público de maneira gratuita. É um serviço que prestamos para toda a sociedade com o objetivo final de garantir a conservação de um patrimônio nacional“, diz ele.

Mapa da Área da Aplicação da Lei no 11.428

Desde a sua quinta edição, de 2005-2008, o Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica considera os limites do bioma Mata Atlântica tendo como base o Mapa da Área da Aplicação da Lei nº 11.428, de 2006. A utilização dos novos limites para os biomas brasileiros implicou na mudança da área total, da área de cada Estado, do total de municípios e da porcentagem de Mata Atlântica e de remanescentes em cada uma destas localidades.

A Mata Atlântica está distribuída ao longo da costa atlântica do país, atingindo áreas da Argentina e do Paraguai nas regiões Sudeste e Sul. De acordo com o Mapa da Área de Aplicação da Lei nº 11.428, a Mata Atlântica abrangia originalmente 1.309.736 km2 no território brasileiro. Seus limites originais contemplavam áreas em 17 Estados: PI, CE, RN, PE, PB, SE, AL, BA, ES, MG, GO, RJ, MS, SP, PR, SC e RS. Nessa extensa área vivem atualmente mais de 72% da população brasileira.

Leia mais: www.sosma.org.br

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