Opinião

Publicado: Terça-feira, 4 de dezembro de 2018

Analfabetismo funcional: vamos falar sobre isso?

Por Janaína Spolidorio.

Analfabetismo funcional: vamos falar sobre isso?
"Apenas ler, codificando, não vale! É importante verificar se a criança compreendeu o que acabou de ler."

Vivemos um tempo de grandes mudanças. Com o avanço da tecnologia, novas formas de comunicação foram e continuam sendo criados e elas têm um impacto gigantesco na aprendizagem social, em geral. Mesmo com tantos avanços que temos, a quantidade de analfabetos funcionais no país continua alarmante. Cerca de três a cada dez adultos estão dentro deste tipo de analfabetismo.

Chamamos de analfabeto funcional o indivíduo que tem dificuldade de compreender textos simples. Geralmente são pessoas que conseguem ler decodificando, ou seja, dão a impressão de leitura, mas esta leitura não é funcional, pois não há interpretação do que se lê.

Ser plenamente alfabetizado é uma necessidade para que tenhamos sucesso em várias áreas e a alfabetização deve ser encarada, desde cedo, com muito seriedade, não apenas na escola, mas também pela família. O processo de alfabetização começa muito cedo, ainda na Educação Infantil, quando a criança começa a ter contato com letras e números. Cabe à família incentivar, do modo que melhor conseguir, para que a criança tenha apoio nesta fase, que é vital para sua futura aprendizagem.

A família pode – e deve - ajudar a criança incentivando a leitura de formas variadas. Sempre que tiver contato com algo escrito, pode chamar a atenção da criança para as letras ( ou números ). Perguntar sobre as letras, fazer brincadeiras envolvendo leitura e escrita, incentivar anotações de lembretes do mercado, escrever lista com nomes para a festa de aniversário são situações cotidianas que ajudam a chamar a atenção da criança para a função social da leitura e da escrita e incentivam-na a se interessar pelo assunto.

Com tantos recursos para comunicação, como as mensagens de voz, por exemplo, pode acontecer deste estímulo ser afetado. O exemplo ainda é a melhor aprendizagem. Se os pais não usam nunca a leitura e a escrita, a criança não tem um parâmetro de uso em casa e a escola, neste caso, se torna distante de sua realidade.

Atualmente há uma grande quantidade de crianças que apresentam demora na alfabetização e a culpa não é totalmente da escola. Durante o período de estudo o professor promove o contato e situações de aprendizagem diversas, mas se o mesmo não ocorre fora do ambiente escolar, se torna um fenômeno isolado, sem sentido para a criança. Ela deve ser cobrada e incentivada fora da escola também, para que se interesse pelo próprio processo de aprendizagem e tenha maior sucesso na alfabetização. É preciso que ela sinta a necessidade de ler e escrever, que se interesse por suas funções sociais.

Apenas ler, codificando, não vale! É importante verificar se a criança compreendeu o que acabou de ler. Quando a família lê um livro para a criança é legal fazer brincadeiras de perguntas sobre a história, por exemplo, para verificar se ela prestou atenção, se consegue lembrar dos detalhes da história. Cada pessoa aprende de uma forma diferente, a metodologia não tem total relevância nesta parte. O que importa é o que se aprendeu e como aconteceu. O correto é perceber o modo de aprendizagem da criança para poder utilizar metodologias e estratégias que sejam eficazes para ela. O que conta, contudo, nesta fase de alfabetização, é o estímulo e o interesse. Assim como aprendemos a andar andando, aprendemos a falar, falando, também aprendemos a ler lendo e a escrever escrevendo. Aos poucos estas habilidades se ajustam.

O que acontece e que preocupa é que há ainda muitas pessoas que aprendem a parte básica e não conseguem ultrapassar este limite e é então que ocorre o analfabetismo funcional. Por este motivo, é preciso estar atento se a criança está realmente lendo e interpretando ou se apenas junta letras e palavras, mas não entende o motivo da importância de fazê-lo. A alfabetização é a época que irá impactar de forma memorável o restante dos anos de aprendizagem, portanto deve-se sempre estar atento aos sucessos – e fracassos – deste período. Desta forma, é possível já incentivar o aluno a buscar maior aprendizagem, evitando que tenha problemas futuramente.


Janaína Spolidorio é designer de atividades pedagógicas, formada em Letras, com pós-graduação em consciência fonológica e tecnologias aplicadas à educação e MBA em Marketing Digital. Ela atua no segmento educacional há mais de 20 anos e atualmente desenvolve materiais pedagógicos digitais que complementam o ensino dos professores em sala de aula, proporcionando uma melhor aprendizagem por parte dos alunos e atua como influenciadora digital na formação dos profissionais ligados à área de educação.

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