Sustentabilidade

Publicado: Quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

A arte de salvar a Natureza

Conheça o trabalho do eco designer Pedro Petry!

Por Camila Bertolazzi

Ecologicamente correto, socialmente justo e economicamente viável! O tripé da sustentabilidade é também a base do projeto do eco designer Pedro Petry. Em suas mãos, peças brutas que não costumavam despertar interesse e eram utilizadas apenas como lenha ou serragem ganham formas únicas e surpreendentes. Com muita criatividade, Petry reaproveita madeiras de diferentes procedências, e as transforma em peças que exploram cores, texturas e nós. A marca principal do artista está no acabamento dos objetos, que geralmente exibem detalhes costurados com fios de cipó.

Todo o material utilizado pelo designer vem do manejo, principalmente urbano: árvores descartadas em construções - troncos e galhos de eucalipto e árvores frutíferas como mangueira, ameixeira, abacateiro, caquizeiro e até pé de café –, que sob o olhar do profissional se tornam luxuosas peças decorativas. A outra parte são madeiras que vem do manejo florestal, ou seja, de áreas certificadas onde um conjunto de técnicas é empregado para colher cuidadosamente parte das árvores grandes de tal maneira que as menores, que futuramente serão colhidas, sejam protegidas. Leia mais sobre o manejo florestal!

O ciclo do manejo é de 25 anos, segundo Petry, tempo suficiente para que as árvores possam crescer novamente. “Com a adoção do manejo a produção de madeira pode ser contínua ao longo dos anos e o ambiente pode ser maior e melhor aproveitado”, afirma Petry, que por vários anos deu consultoria, ensinando empresas de manejo sustentável como aproveitar pedaços de madeira que não seriam utilizados pela indústria. Apesar de simples e com todos esses benefícios, essa técnica ainda é pouco utilizada no Brasil.

Justamente por causa do manejo, o designer catarinense chegou a Itu há cinco anos, por meio de uma parceria feita com a Ecolog, uma grande exportadora de madeiras de manejo sustentável. Parte do material não aproveitado pela empresa era comprado e utilizado pelo profissional. Mesmo com a parceria desfeita, Petry continuou na cidade. Agora ele tem um acordo com a prefeitura: ele limpa o terreno para futuras construções e em troca, fica com a madeira. Não importa qual. Em 20 anos de atividade, ele contabiliza ter trabalhado com mais de 230 espécies - e, a título de registrar essa memória, faz uma caneta com cada uma delas.

Petry acredita que a natureza é tão farta em espécies de árvores que não faz sentido esgotar as fontes de algumas poucas em nome do comodismo. “Estamos mal acostumados e jogamos muita coisa fora. Temos que aprender a aproveitar melhor os materiais que já existem. Aqui, nós transformamos o lixo em produtos luxuosos do dia-a-dia”.

Atualmente quatorze profissionais trabalham com o designer em Itu, onde todas as peças são produzidas. “Eu entro com a criatividade e eles com o volume de produção”. E completa: “Isso só funciona devido à sintonia que existe entre as pessoas que trabalham comigo e eu; muitos estão juntos há anos”. E em São Paulo, o produto final é posto à venda no showroom Atmosfera Brasil, no nº 123 da Benedito Lapin, uma ruela do Itaim Bibi.

Segundo Petry, a maioria dos seus clientes são os lojistas, entre eles, muitos arquitetos; poucos consumidores finais compram diretamente na “Atmosfera Brasil”. As peças do designer também já estão nas mãos de funcionários do Banco Real e da Fiat, que foram presenteados por seus chefes em datas especiais. Mas as obras primas do brasileiro não se limitam ao território nacional; moradores de Londres, Milão e Paris também podem ver e comprar tais produtos.

Petry define seu trabalho como sendo um processo industrial semi-artesanal, pois, segundo ele, são fabricados produtos em massa, como por exemplo, os coorporativos – canetas, lapiseiras, chaveiros, castiçais e abridor de carta – que podem ficar iguais, e também, peças exclusivas, como as fruteiras, vasos, enfeites, mesas, cadeiras, estantes e assessórios masculinos e femininos, principalmente bolsas e jóias. Quando perguntei de onde vem toda essa criatividade, a resposta foi simples. “É da peculiaridade do material disponível que vem a inspiração”.

Um fato curioso é que a espécie da madeira é identificada em todos os objetos. “Tive essa idéia depois das pessoas começarem a perguntar e então resolvi simplificar”, afirma Petry. Um outro aspecto interessante é o tempo de produção das peças. Uma caneta, por exemplo, é feita em aproximadamente três minutos, já uma mesa – a maior peça da coleção do profissional – pode demorar até um mês para ficar pronta. O preço também varia muito e algumas vezes pode ser bem alto.

Pedro Petry é engenheiro mecânico e administrador de formação. Nascido em Joinville, começou há duas décadas, meio por brincadeira, a trabalhar com madeira em casa. Na época, tinha uma empresa de móveis. Depois de um ano e meio na Alemanha, onde fez cursos de marcenaria com especialização em torno – um processo antigo, manual, que transforma madeira em objetos cilindros, redondos e ovais – voltou para o Brasil e hoje é um famoso eco designer.

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