Opinião

Publicado: Quinta-feira, 31 de julho de 2014

O sucateamento de uma nação

por Roberto Lacerda Barricelli.

Crédito: Arquivo Pessoal O sucateamento de uma nação
No Brasil atual a ética e a moral estão tão distorcidas que indivíduos viram heróis ao fazerem apenas suas obrigações, como um juiz ao mandar criminosos para a cadeia.

Infelizmente o Brasil é o contrário do que podemos chamar de “nação digna”, pois os valores essenciais para a convivência civilizada foram esquecidos e substituídos por arremedos de valores.

No Brasil atual a ética e a moral estão tão distorcidas que indivíduos viram heróis ao fazerem apenas suas obrigações, como um juiz ao mandar criminosos para a cadeia. Ora, essa é uma das obrigações dele como juiz e apenas a cumpreNo país da malandragem e onde os conchavos substituíram o trabalho honesto e a integridade moral, um ato de responsabilidade nos parece de extrema coragem.

Vemos o sucateamento da moral e da ética em discursos contraditórios do dia a dia, como: “você viu que X achou um celular e devolveu para o dono?”, “Nossa, quanta honestidade, está certo, tem que devolver...”, “Você devolveria?”, “Eu não, pois achado não é roubado”. É o império da hipocrisia.

A honestidade causa espanto, enquanto os crimes não chocam mais. A desonestidade e a malandragem viraram parte comum do cotidiano do brasileiro. Admitimos abertamente votar em candidatos “menos piores”, ou até “que roubam menos”, pois junto com esse sucateamento da nação, vem a desesperança e o comodismo.

Quem busca uma vida honesta é considerado “trouxa” no Brasil. Fez o trabalho da escola, ou universidade, corretamente e sem “encheção de lingüiça”, nem o copia e cola da internet? Trouxa! Devolveu o dinheiro que caiu do bolso de outra pessoa? Trouxa! Claro que esse “trouxa” é sempre acompanhado de espanto pela “boa ação”, que não passa de cumprir com sua obrigação moral e/ou ética.

Não tentar levar vantagem sobre tudo e todos causa espanto e gera desconfiança, afinal, “o que você está querendo sendo tão honesto assim?”. Houve uma flagrante inversão, onde a desconfiança recai sobre o indivíduo honesto, enquanto o desonesto é encorajado.

Produzimos falsos heróis, baseados na aversão à responsabilidade, honestidade e integridade; causados pela carência de valores concretos e não relativizados de acordo com o que for conveniente, mas também por um projeto de sucateamento desses valores, que iniciou há mais de 60 anos, no Brasil, e atualmente está em seu auge.

Setores fundamentais da sociedade como educação, cultura, jornalismo e mídia, saúde, política, etc, passam por um processo de domínio e aparelhamento ideológico, advindo de um projeto de doutrinação em ampla escala, consideravelmente atuante desde os anos 50 do século XX, que tem por objetivo coletivizar e alienar as consciências individuais, destruir o próprio indivíduo e sucatear os valores éticos, morais e cívicos, transformando os cidadãos em uma grande massa burra, distorcida e que acha Valeska Popozuda uma grande pensadora moderna, enquanto chama autores como Mises, Hayek, Hoppe, Meira Penna e João Pereira Coutinho, de “velhos”, “coxinhas” e “elitistas”; que chamam o funk ostentação de genial e Beethoven de “chato”, “ultrapassado” e “burguês”.

Nada contra os gostos individuais, pois cada um tem o direito à individualidade. Contudo, não posso deixar de observar o sucateamento promovido pelo projeto citado e que está diretamente relacionado com a disseminação de gostos individuais como parâmetros do “bom gosto”, da “modernidade”, da construção/definição de uma cultura nacional e de valores distorcidos, seletivos e contraditórios.

 Roberto Lacerda Barricelli é Jornalista, Assessor de Imprensa e Comunicação do Instituto Liberal e Diretor de Comunicação do Instituto Pela Justiça. 

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