Opinião

Publicado: Quinta-feira, 27 de abril de 2017

Preconceito e a banalidade do mal

Por Breno Rosostolato.

Preconceito e a banalidade do mal
"O preconceito não busca aprofundamentos e se satisfaz através de equívocos. "

Quando refletimos sobre o preconceito, devemos subdividi-lo, porque pensar nele é admitir que existem muitos preconceitos. Pensar nestas divisões é admitir a ideia de pré-conceito, ou seja, uma formulação antecipada, julgadora e precipitada sobre uma ideia e concepção (do latim conseptus, que se refere à construção ideal do ser ou de objetos).

Ao antecipar-se ao real, sem se aprofundar e conhecer as questões envolvidas, o preconceituoso constrói-se a partir de seu individualismo narcísico, uma solidão embrutecida, e que não busca compreender, mas, distorce aquilo que não reconhece como pertencente à ele, na prepotência de quem acha que possui o poder e o saber necessário para a existência.

O preconceito torna-se verbo na ação de ignorar as diferenças, de não aceitar o outro e, portanto, incapaz de olhar-se no espelho. Ao contrário, o incompleto lhe é o bastante. O empobrecimento do preconceituoso cria raízes na mentira, na raiva e no ódio.

O preconceito não busca aprofundamentos e se satisfaz através de equívocos. Reproduz violência e cria seguidores. Exemplos desta lógica são visíveis em passagens históricas, desde a formação de família, que insiste em manter-se tradicional, nuclear, mas infelizmente, identificamos outras manifestações preconceituosas e sustentadas por uma cultura do ódio: violências raciais, injustiças e ressentimentos sociais, a opressão contra a mulher, divisões políticas e classistas, censura de identidades, assassinatos ‘da’ e ‘na’ diversidade.

Permanecer preconceituoso num universo de informações, de possibilidades de estudar o assunto, romper com estruturas atravancadas de um passado que deveria ensinar e não continuar perpetuando-se é naquilo que Hannah Arendt denominou como banalidade do mal. O mal e a violência são naturalizados e passam a ser comuns.

Para entendermos melhor esta diferença entre natural e comum, basta confrontar o próprio preconceito, que nos fornece uma dialética. Uma relação homoafetiva é natural, mas não é comum, dado que, a violência projetada aos gays chega ao absurdo, em alguns países, de ser considerado crime, passível de condenação à morte.

Uma mulher ter os mesmos direitos de um homem, desfrutar de liberdade de opiniões, escolhas, respeito à sua dignidade, ao seu desejo e ao próprio corpo, é natural, mas não é comum. Neste caso, além de não ser natural, nem um pouco comum, sendo que, a violência que elas sofrem acontece pelo fato de serem mulheres. Vejamos os altos índices de feminicídio.

Banalizamos nosso desprezo ao outro através dos discursos, e geralmente, o preconceito para ter voz precisa se agrupar, encontrar outros que compartilham de seu ódio para assim, silenciar aqueles não seguem as normas. As mesmas normas que, pasmem, escravizam os mesmos preconceituosos, e produzem repetições. O preconceito de ontem não é muito diferente do de hoje. O que existe atualmente são mais questionamentos, confrontações, debates e movimentos dispostos à encorajar as pessoas a sair do ostracismo. Hoje desnuda-se o que até então era arbitrário e impositivo.

Por isso que a educação torna-se uma ameaça. Porque revela a verdadeira face da ignorância. A educação é democrática e se posiciona politicamente. Já o preconceito, se alimenta do medo e da insegurança. Por isso, não devolvo com violência ao agressor, mas o que talvez possua de mais acolhedor, o diálogo.

Breno Rosostolato é professor de psicologia da Faculdade Santa Marcelina (FASM).

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