Opinião

Publicado: Quinta-feira, 11 de março de 2010

Marluci Longarez: "A Educação e a Ação"

Crédito: Arquivo pessoal Marluci Longarez: "A Educação e a Ação"
"O Brasil, apesar das diversas lutas e manifestações, é um país dependente"

Há anos sabe-se que, verificando a história da educação, podemos constatar importantes transformações na vida da humanidade, “a educação, tanto em suas ideias orientadoras quanto em seus fatos escolares, não poderia deixar de interagir com essas transformações, mais no sentido de sofrer sua influência do que atuando em sua ocorrência”, segundo Pilleti (1991).

O Brasil, apesar das diversas lutas e manifestações, é um país dependente – vemos isso com a história, quando deixamos de ser colônia portuguesa e passamos para domínio inglês, logo então nos tornarmos fadados a dívidas norte-americanas. A educação foi instrumento para que essa condição de dependência não se desfizesse. Era claro e certo que o interesse estava não apenas em impedir que muitos tivessem acesso às escolas, mas também, ensinar a submissão àqueles que nela estavam, sem espaço para questionamentos e criticidade. E ainda convivemos com essa situação.

Sabemos que os professores são agentes formadores de opinião. Quando desenvolvem uma aula, podem fomentar em seus aprendizes uma visão de mundo que sim, é capaz de transformação verdadeira e consciente.

No entanto, mesmo diante dessa premissa, os professores e alunos da rede pública recebem um material pronto e preestabelecido, tão repleto de tolhimentos, que fica claro não existir real interesse do governo em fazer as cabecinhas - que hoje carregam bonés e presilhinhas -, um dia, venham a pensar criticamente acerca da atuação monstruosa que os acometem. Além de tudo, o material preestabelecido nunca chega ao bimestre certo, prejudicando infinitamente o curso dos aprendizes.

Enquanto convive com adaptações no material desajustado, o profissional da educação também precisa instituir disciplina e valores em uma sala de aula absurdamente numerosa e diversificada, tendo de adaptar-se e buscar soluções para questões de culturas diferentes, bloqueios e desvios psicológicos, obstáculos na aprendizagem, dificuldades sociais e familiares, crianças com deficiência sem material ou suporte adequados, mau comportamento e violência, analfabetismo no ensino fundamenta II; ver e ter de aceitar as provas absurdas para expor números utópicos de melhoria na qualidade do ensino nacional, e ao mesmo tempo não poder reprovar um aluno com problemas, levando adiante um erro que no futuro o aponta como culpado. Irônico, uma tragédia vista por todos nós.

Além disso, esse professor na maioria das vezes cumpre uma dupla jornada para poder formar um salário aceitável, mas a maioria persiste por amor a profissão, e porque acreditam em algo intangível e distante... Simplesmente acreditam e trabalham por isso!

E o desfecho dessa triste crônica escolar é que os alunos tornam-se cidadãos de senso comum e de anseios limitados!

Mas o que os índices mostram? Eles mostram, leitor, que quem está prejudicando a educação é o próprio educador!

O que observamos é que o professor está cansado de sua estafante luta solitária. O professor está carregando culpas de uma passada e atual má administração humana. Toda indisciplina e problemas sociais da atualidade são decorrentes disso.

Existe o imenso compromisso educacional em colaborar com a transformação social; o direito à educação está expresso na Declaração Universal dos Direitos dos Homens e, sabendo disso, muitos profissionais mobilizam-se para fomentar as vivências em sala de aula com o máximo de consciência e participação, sendo claros com os aprendizes, (tentando) plantar sementes para poder colher bons frutos. E o trabalho não é fácil, ele enfrenta uma situação de superação enquanto indivíduo e professor.

Paulo Freire (2007) nos ensina que é “(...) na formação permanente dos professores, o momento fundamental é o da reflexão crítica sobre a prática. É pensando criticamente na prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima prática”.

As lutas solitárias que travamos todos os dias desgastam nossa força, são verdadeiros duelos intelectuais, financeiros, emotivos, financeiros, orgânicos, financeiros e financeiros... Todos temos estes duelos e, são diversificados e de infinitos tamanhos.

Na nossa solidão, independente de nossa carreira, enfrentamos as nossas pragas e cóleras! Por vezes a praga é tão grande, a cólera tão cruel e cheia de poder, que faz propaganda enganosa para ludibriar os eleitores, para benefício próprio coloca em risco o futuro da própria educação do país, tratando os educadores como rivais... E quando nos assombram de forma arrasadora, torna-se impossível prosseguir com as lutas solitárias, e estas se encontram em uma única força - então são formadas as greves, leitores... Um direito constitucional, e que apenas é levantado quando a causa é justa.

Se a problemática já vem de tempos, quantas outras gerações vão ter de pagar por falhas antigas? 2010 iniciou o ano letivo com (muitos) profissionais da educação mobilizados em favor de melhorias na qualidade do ensino público e na melhoria da condição do educador em nosso país hoje. E, envoltos de reivindicações de absoluta coerência, os professores e seus devidos sindicatos dão as mãos e exigem respeito, por eles e pelos que usufruem do sistema de ensino deste país.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. 36 ed. São Paulo: Paz e Terra, 2007.
PILETTI, Nelson, História da Educação. 2 ed. São Paulo: Ed Ática, 1991.

Marluci Longarez: “No intervalo da fragilidade de palavras e pensamentos, um ou outro texto ganha forma e dá o ar da graça por aqui. E os intervalos continuam... Formada em Letras. Professora. Eterna estudante de linhas e entrelinhas”.

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