Opinião

Publicado: Sexta-feira, 31 de março de 2017

Como excluir incluindo ou incluir excluindo?

Por Renan Antônio da Silva.

Como excluir incluindo ou incluir excluindo?
"Mudar não é tarefa fácil e todos sabemos disso, mas o prazer da mudança surge quando a própria escola se torna espaço de (trans)formação."

Como excluir incluindo ou incluir excluindo? Uma escola para o público gay no Brasil.

O debate sobre preconceito e discriminação homofóbicos tem ganhado espaço em pesquisas e projetos de políticas públicas na área de educação nos últimos dez anos. Entretanto, para a escola aceitar internamente a existência de casos de homofobia (inicialmente situação delicada e muitas vezes silenciada, seja pelo preconceito, seja pela falta de qualificação técnico- profissional para lidar com a diversidade sexual) ainda falta muito. Na pesquisa intitulada “Juventude e Sexualidade” realizada em 2004 pela Organização para a Educação, a Ciência e a Cultura das Nações Unidas–UNESCO, em escolas de 14 (catorze) capitais brasileiras, 25% (vinte e cinco por cento) dos alunos responderam que não gostariam de ter um homossexual entre seus colegas de classe, 59,5 % (cinquenta e nove vírgula cinco por cento) dos professores admitiram não ter informações suficientes para lidar com a questão e número substancial disse preferir não abordar assuntos relativos à homossexualidade em sala de aula, reforçando a heterossexualidade e, via de consequência, silenciando ante as práticas homofóbicas.

Após anos de lutas e muito sangue LGBTTT derramado, alguns países resolveram tomar atitudes, pois já estava alarmado um combate entre orientações sexuais, em que pessoas estavam sendo mortas por serem “diferentes” da maioria. O primeiro país que adotou leis severas diante do devastador preconceito foi a Argentina, abrindo espaços para os casamentos igualitários, adoção por casais homoafetivos, a Lei de Identidade de Gênero o coletivo trans (com o apoio da Comunidade Homosexual Argentina–CHA, da Asociación de Lucha por laIdentidad Travesti y Transexual– ALITT e a Federación Argentina de Lésbianas,Gays, Bisexuales y Trans–FLGBT)e apoiando a criação da primeira escola para o público LGBTTT, a Mocha Celis.

No Brasil, Deco Ribeiro e Lohren Beaty, levando em conta os ideais do Bachirellato Mocha Celis, em 2009, formularam um projeto de uma escola semelhante a essa da Argentina para funcionar no Brasil e tiveram a aprovação pelo Governo Federal brasileiro juntamente com o financiamento do Ministério da Cultura (MINC). Essa escola foi denominada de E-JOVEM e, reitera-se, voltada para o público jovem gay do Brasil. Quando iniciou foi implementada somente uma escola instalada na cidade de Campinas, interior de São Paulo.

A cidade de Campinas avançou com o estabelecimento do E-JOVEM, representando uma iniciativa de resistência ao conservadorismo e de emancipação do respeito à visibilidade LGBTTT. As políticas para a juventude ganham com ações da natureza apresentada pela Escola Jovem e a sociedade, mesmo resistente, passa a enxergar (o que é muito importante em um processo de ruptura e desenvolvimento) o trabalho da Instituição.

Mudar não é tarefa fácil e todos sabemos disso, mas o prazer da mudança surge quando a própria escola se torna espaço de (trans)formação. E somente através desta prática (trans)formadora é que poderemos construir uma sociedade mais justa, que inclui e não exclui, que perceba a escola como espaço de construção, através da valorização das individualidades, do respeito para com as diferenças, com a cultura de cada um, onde a educação é o elemento essencial para um mundo menos violento.

A implementação dos programas de políticas públicas contra a homofobia vem atender dispositivo constitucional e garantia suprema dos direitos humanos, objetivando ações proativas dos organismos de segurança pública no combate aos crimes de intolerância, assim como promover no seio da sociedade a cultura da tolerância e respeito às diferenças.

Renan Antônio da Silva é doutorando do Programa de Pós-Graduação em Educação Escolar da Unesp de Araraquara. Realizou estágio doutoral com bolsa CAPES/PDSE junto ao Centro em Investigação Social (CIS/ISCTE-IUL), em Lisboa/Portugal, na linha temática Gênero, Sexualidades e interseccionalidade (2015-2016). 

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