Opinião

Publicado: Quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

A profundidade de um simples elogio

Por Rafael Ramires.

A profundidade de um simples elogio
"Não há quem não goste de receber elogios."

Elogio, palavra de origem grega ‘eulogia’, que significa ‘falar bem de’. Divide-se em ‘eu’ (boa, bela) e ‘logia’ (fala, discurso). Você já foi elogiado ou elogiou alguém hoje?

Em 2014, quando trabalhava na emissora SBT, vivenciei um momento ímpar: fui ao departamento de arquivos pedir um determinado material e na sala havia cinco pessoas: quatro responsáveis pelo setor e uma faxineira.

Ao entrar, cumprimentei a todos - um hábito comum em nossa sociedade, pelo menos deveria ser - mas fui além. Me aproximei da faxineira, a cumprimentei com um beijo no rosto, perguntei seu nome e a parabenizei pelo seu trabalho. Ela, um pouco tímida, abriu um sorriso lindo. Os outros se viraram e observaram com os olhos arregalados.

Depois que ela saiu da sala, um dos funcionários me perguntou impressionado: Você cumprimentou a faxineira com um beijo no rosto? O espanto dele me assustou! Eu disse que sim e retruquei questionando se havia algo de errado nisso. Ele, meio que sem graça, respondeu que não via isso há um bom tempo.

Infelizmente, o ‘ser educado’ e ‘elogiar o outro’ tem se tornado algo incomum e digo até raro, seja em nosso círculo de familiares, amigos, colegas e, com frequência muito maior, com os desconhecidos. Não é preciso ser um gênio para entender a relevância e os benefícios do ato de elogiar as pessoas, seja em casa, no trabalho ou nas ruas.

Quem nunca vivenciou um momento em que seu elogio pôs um sorriso no rosto de alguém, que fez os olhos brilharem, enfim, que alegrou o dia desse alguém e, claro, o seu. A sensação é tão boa que fica difícil descrevê-la!

Um exemplo simples, que mostra a força do elogio, são os aplausos. No circo, ao entrar no picadeiro, o palhaço é recebido por uma grande salva de palmas. Isso já é um elogio! Ao terminar sua apresentação ele também é aplaudido e se sente motivado a fazer mais e melhor. O mesmo acontece com todos que se apresentam no circo. Não digo que eles fazem o que fazem esperando os aplausos, porém são impulsionados, energizados a fazer cada vez melhor!

Dentro das empresas não é diferente. Especialistas em gestão afirmam que o reconhecimento profissional – ELOGIO – é sinônimo de lucro. A Harvard Business Review comprovou isso em uma pesquisa realizada na Best Buy (empresa multinacional de eletrônicos com sede nos EUA), onde o envolvimento (proximidade, atenção, serenidade e elogio) de 0,1% dos funcionários representou 100 mil dólares a mais no faturamento anual.

Chester Elton, autor de ‘O princípio do reconhecimento’, afirma que o elogio é o principal fator de motivação, em qualquer ambiente ou qualquer pessoa, conforme revelam pesquisas como a da Best Buy. “O estudo de Harvard mostra que você não deve ter apenas funcionários satisfeitos, mas também engajados, pois esse envolvimento faz com que eles dispendam esforços extras”, diz Elton. Ele aconselha: elogie rápido (quanto mais próximo do ato melhor) e elogie frequentemente (quanto mais você destacar o que é importante, mais as pessoas ficarão atentas a isso).

Mas fica o alerta: Todo e qualquer elogio tem que ser sincero, tem que vir do coração, com afetividade, intensidade, admiração, enaltecimento, afeição, enfim, tem de ser puro. Afinal, que bem fará uma pessoa te elogiar tendo um interesse por trás, esperando algo em troca, sendo falsa? Será efêmero, sem sentido, não surtirá efeito e, às vezes, até fácil de identificar.

As vantagens que o elogio traz às pessoas são vários. Entre eles: Aumenta a autoestima individual, traz o sentimento de fazer parte do grupo, é um meio para alcançar um comportamento desejado no outro, aumenta a produtividade das pessoas e da empresa, ajuda a fortalecer amizades e a criar novas, aumenta a resistência física e psicológica contra situações de doença ou desesperança e pessimismo, melhora a postura pessoal e protege as pessoas contra o stress e pressão do quotidiano, incrementa a identidade profissional para o sucesso, aumenta o valor da imagem profissional de quem recebe e dá mais poder pessoal a quem emite, facilita/promove a comunicação interpessoal, promove mudanças comportamentais, pessoais e profissionais, serve como ferramenta educacional e o melhor......é de graça!! Veja a diferença que um simples elogio faz na vida das pessoas.

Em um estudo realizado pelo jornal britânico ‘The Guardian’, pesquisadores sugerem que existe um viés neurológico que dá mais importância aos pontos negativos do que aos positivos. “Nós evoluímos para responder rapidamente e intensamente aos estímulos negativos.

Há milhares de anos, estímulos negativos eram sinônimo de morte, então, quanto mais rápido você os absorvesse, melhores eram suas chances de sobreviver”, diz um dos pesquisadores. Mesmo diante do constante desenvolvimento de nosso cérebro ao longo dos anos, nossos comportamentos parecem manter as mesmas características de antes.

Outra questão analisada foi quanto à natureza humana, que afirma sermos todos egocêntricos por enxergarmos os outros a partir de nossas experiências e opiniões e, quando somos gentis com alguém, esperamos que este(a) também seja conosco em algum momento ou de alguma forma.

Algumas teorias também dizem que as críticas negativas têm um peso maior para nós por termos um alto nível de autocrítica e por vivermos em um mundo onde somos cobrados e analisados por nossas atitudes, comportamentos e palavras a todo momento.

Apesar dessas informações não tão agradáveis citadas acima, médicos neurologistas e cientistas comprovam que ao receber um elogio, o cérebro produz e libera hormônios do prazer, como a dopamina, serotonina, endorfina e ocitocina, que nos deixa alegres, sociáveis, motivados, serenos, além de aumentar nossa autoestima.

“O elogio é uma ferramenta essencial para um desenvolvimento emocional e social saudável ao longo de todo o ciclo da vida. Elogiar é vital para criar um bom clima dentro da família, do trabalho, entre os amigos, com qualquer outra pessoa ou em qualquer lugar” (Sara Guelha).

No ambiente de trabalho, o psicólogo Wayne Nemeroff, da consultoria PsyMax Solutions, afirma que o elogio pode ser mais intenso e trazer mais resultado quando você detalha o mesmo, isto é: Seja Específico. “Lembre uma situação determinada e descreva um comportamento específico, destacando o impacto dessa situação ou desse comportamento no grupo ou no projeto. Assim você obtém um equilíbrio entre o elogio e o feedback construtivo.”

Para a psicóloga Laura Carstensen, de Stanford, as empresas muitas vezes negligenciam o valor do elogio. “Quando você compra um bilhete de loteria, os matemáticos perguntarão: sabe qual é a sua chance de ganhar? Os psicólogos veem isso de forma diferente. Comprar um bilhete barato significa sonhar e antecipar situações de prazer, o que já vale seu custo.”

“Elogios são grátis, requerem pouco esforço e dão muito resultado” (Paulo Eduardo Nogueira).

Existem estudos comprovando que tanto os elogios em excesso como as críticas podem ser prejudiciais para qualquer um, já que ambos afetam o jeito como nós nos percebemos. E é aí que o peso do negativismo parece ser maior.

Um desses estudos, da Universidade de Ohio, nos Estados Unidos, concluiu que elogios exagerados prejudicam crianças com baixa autoestima. Se lhe dissermos que fez algo incrivelmente bem, ela vai achar que terá de fazer sempre tudo incrivelmente bem e, com receio de não o conseguir, evitará novos desafios.

Não há quem não goste de receber elogios. Eles são como vitaminas para a autoestima, fazem a gente se sentir mais forte e confirmam que estamos no caminho certo. O problema é quando se passa a depender deles para dar um passo. “Isso acontece quando a pessoa, sem autoconfiança, duvida de si mesma e da sua capacidade. Então, precisa que a aprovação venha de fora”, explica a psicoterapeuta Cecília Zylberstajn, de São Paulo. “Para ela, o outro é como um espelho: é só através dele que a segurança se reconhece”.

Tem gente que é assim o tempo todo: se desdobra a fim de colecionar amostras da admiração alheia como uma forma de camuflar as próprias fraquezas. “Como, no fundo, a pessoa não acredita que merece o elogio, precisa que ele seja repetido o tempo todo. Funciona como uma droga mesmo, de que ela sempre precisa mais”, completa Cecília.

Essa “caçadora de aplausos” costuma ser especialista em atraí-los. “Ela age de olho no reconhecimento que vai receber e de maneira a não dar brecha para críticas”, descreve o psiquiatra e psicoterapeuta Eduardo Ferreira Santos, de São Paulo. “Desse modo, evita se expor e ousar, porque prefere apostar naquilo que dá retorno certo a correr o risco de errar.”

Por incrível que pareça, o elogio pode produzir orgulho, tristeza, inveja, engano, exaltação, insegurança, medo, se usado em excesso!

É indiscutível que o elogio é essencial na vida das pessoas e deve ser feito com frequência, mas, ao mesmo tempo, deve-se tomar cuidado com o excesso de seu uso. Não existe uma fórmula exata, cada caso terá sua devida ‘dose de elogio’, vai da percepção de quem o emite, de acordo com a reação de quem o recebe.


Rafael Ramires é jornalista, formado pela Faculdade Prudente de Moraes (FPM), com atuações em diversos meios de comunicação em Itu e região. Hoje trabalha como freelancer, produzindo matérias, reportagens e artigos, além de fazer marketing digital para empresas.

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