Cotidiano

Publicado: Quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Consciência Negra: a corrida pela igualdade

Confira a programação da V Festa da Consciência Negra em Itu

Crédito: Guilherme Martins / www.itu.com.br Consciência Negra: a corrida pela igualdade
"Nós não vemos negros ocupando cargos de chefia em Itu
Por Guilherme Martins

De uns tempos pra cá, muita coisa mudou no Brasil. Houve uma evolução econômica, tecnológica, científica, mas diante de toda essa melhora, um fator social permaneceu praticamente estável: o preconceito.
 
Há exatamente 121 anos da assinatura da Lei Áurea, que aboliu o regime de escravidão no Brasil, os negros ainda são sujeitados ao preconceito racial em seu dia-a-dia. O governo brasileiro, através de projetos de inclusão e sensibilização, tenta diminuir a distância social entre as raças. Uma das ações foi a implantação do Dia da Consciência Negra, que foi aderido por vários municípios, entre eles, Itu. Na cidade, durante todo o dia 20 de novembro, haverá a V Festa da Consciência Negra, com várias atrações.
 
O mês da consciência negra conta com o apoio da União Negra Ituana. A secretária da UNEI, Fátima do Carmo Silva dos Santos está engajada no objetivo da inclusão e sensibilização há mais de 15 anos, e apóia totalmente essa iniciativa, para que o negro comece a ser mais valorizado e reconhecido. Ela conta que quando foi procurar sobre a história dos negos em Itu, não achou nenhum registro, e teve que levantar informações com idosos. “Um povo sem história, é um povo que não existe. E muitos dos casarões de Itu, foram construídos pelos negros”, afirma a secretária.
 
Quando questionada a respeito das dificuldades enfrentadas pelos negros desde a abolição da escravatura, Fátima diz que depois de se tornarem um povo livre, os negros não tinham condições de desfrutar dessa liberdade. “O 13 de maio foi na verdade uma demissão em massa do povo negro, já que eles não tinham emprego, educação ou qualquer condição de conseguir um trabalho que não fosse com os seus senhores em troca de um teto”. E completa: “Agora, nós apenas estamos correndo atrás da igualdade”.
 
De acordo com Fátima esse é um mês de reflexão, conscientização e aprendizado que é extremamente necessário, já que as pessoas sabem pouco sobre os negros. Também é importante a inclusão do negro no mercado de trabalho. “Nós não vemos negros ocupando cargos de chefia em Itu”.

Uma pesquisa organizada pelo economista Marcelo Paixão, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e divulgada pela revista Época, na edição de 17 de novembro de 2008, o Relatório Anual de Desigualdades Raciais no Brasil, mostra como os negros são segregados no ambiente corporativo.
 
Paixão afirma que os negros e pardos (que o estudo reúne num só grupo) são quase 50% da população, mas ocupam apenas 3,4% dos cargos executivos. Os de cor amarela, 0,5% da população brasileira, têm 2,2% dos cargos executivos. Além do mercado de trabalho, o estudo analisou a posição do negro no ensino, na demografia e nas relações com o poder.
 
Para a secretária da UNEI, uma das razões para que isso ocorra é o enfoque que a mídia e a sociedade acabam dando ao povo negro. “Os negros em novelas sempre fazem papel de empregados ou escravos. A única novela em que a protagonista era uma personagem negra, teve como nome 'A Cor do Pecado', e eu não sou pecadora”, brinca. Atualmente a segunda novela com uma negra-protagonista está no ar, no horário nobre da Rede Globo.
 
Recentemente, com a eleição de Barack Obama para presidente do maior país do mundo, Fátima acredita que a distância entre os povos ficou menor e tende a diminuir bem mais. “A eleição de Obama nos Estados Unidos foi um passo gigantesco na busca pela igualdade, e mostra que só com a união conseguiremos algo”, finaliza.

Nara Hailer
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