Opinião

Publicado: Quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Alan Dubner: Sintonizando a TV Digital

Crédito: Arquivo Pessoal Alan Dubner: Sintonizando a TV Digital
"A revolução não está propriamente na TV e sim na interatividade da mídia digital", afirma Alan Dubner.
Com a chegada da TV Digital, o que muda? Nada!
 
Apesar de parecer que a TV Digital já existe, ela só será realmente efetivada em 2 ou 3 anos. Façamos um paralelo com a Internet. Criada no início da década de 60, ela só começou a ser realmente utilizada na década de 90 (no Brasil em 1997). Eu participei dos bastidores da chegada da Internet ao Brasil, quando a Cybermind lançou na COMDEX 1995 o primeiro CD-ROM tutorial, que ensinava a navegar na Internet, um cenário remotamente parecido com a Internet de hoje. Só agora, 12 anos depois, é que a Internet está realmente se tornando uma das mídias mais poderosas do planeta e realizando a sua verdadeira vocação: unir comunidades, tornar o conhecimento de domínio público, romper as barreiras (paredes da sala de aula) da educação, popularizar a distribuição de conteúdos, levar o turista para uma experiência inesquecível a um preço muito mais baixo, explicitar a virtualidade da moeda e permitir a unificação mundial, incluir e emancipar a população mais carente, integrar as medicinas e muito... muito mais.
 
Com a TV Digital será assim também: levaremos mais uns bons anos para torná-la viável em relação a sua verdadeira vocação: ser apenas mais um meio de transmissão e interatividade de conteúdo (digital). Assim, a revolução não está propriamente na TV e sim na interatividade da mídia digital, da qual a TV Digital é apenas um dos meios utilizados. A TV Digital não será responsável pela criação de novas linguagens. O que vai acontecer é que ela abrirá mais um espaço para essas criações. Ela terá a importância que tem um celular, um computador, um ipod, um outdoor digital, uma rádio. Na verdade, essa revolução já começou há alguns anos, mas só agora sentiremos sua força transformadora na cultura das mídias.
 
Do ponto de vista do padrão tecnológico, o único interesse, mais como curiosidade, trata de sua criação (HDTV) nos anos 70, da implantação nos anos 90, até os 2 bilhões de motivos para o governo brasileiro ter escolhido o padrão japonês (ISDB) ao invés do americano (ATSC) e do europeu (DVB). Mas nós, consumidores, não temos participação nisso, assim como ocorreu na escolha do Pal-M (sistema de TV) ou em outras decisões tecnológicas apoiadas em interesses políticos e econômicos do país. Portanto, tecnologicamente, só nos cabe escolher se vamos pagar R$ 400 pelo conversor, que deveria custar R$ 200 e que, na verdade, não serve para nada.
 
Mas em compensação, na questão mais importante dessa revolução digital que é o conteúdo programático, as propagandas e o consumo... aí sim, somos nós quem comandamos e cada vez mais de forma organizada e em rede. Seremos, em pouco tempo, uma rede social de relacionamentos que fará com que os fornecedores de conteúdo tenham que nos atender para que consigam a verba de seus patrocinadores. A Mídia Social (Social Media) como está sendo chamada essa rede, será a principal plataforma de relacionamento na TV, Internet, Celular, iPods, cinema, radio, e-books, computadores e outros meios de comunicação digital.
 
Migrações
 
Nesse ano e o no próximo teremos mudanças significativas: a verba da propaganda migrará, cada vez mais da TV para web (pesquisas inglesas mostram que em 2009 verbas para anúncios on-line superarão as da TV); o jornalismo, ao contrário de hoje, será totalmente regido pela demanda, o conteúdo conterá inúmeros links formando uma teia integrada de informações; a educação passará por uma gigantesca transformação e será bem mais interessante e eficaz; a medicina e as terapias em geral vão ter que aprender a lidar com essa nova realidade em que o paciente também sabe; o turismo já está sentido o poder digital, mas será ainda mais potencializado principalmente para os destinos “menores”.
 
Todos os setores da mídia passarão por uma mudança gigantesca. Refiro-me não somente à TV Digital, mas à convergência do meio digital como distribuidor de informações. Novamente: a propaganda e o jornalismo serão uns dos mais afetados. O que estamos vendo hoje está com os dias contados. O jornalismo diminuirá o caminho entre o fato gerador e a notícia e a importância das agências de notícias será bem menor. As agências de propaganda terão que entender muito de Mídia Social (Social Media) para conseguirem manter seus clientes. A maioria não está pronta para isso. Espero (e acredito) que esse novo meio digital permita uma maior interatividade entre as pessoas, as comunidades e entre as próprias mídias. Teremos uma mídia muito mais desenhada por quem consome do que por quem produz. Isso sim é o interessante dessa mudança!  
 
O desafio, portanto, é muito mais aprender a gerar conteúdo dentro de uma nova cultura de TV Digital, do que propriamente de tecnologia ou equipamentos. A tecnologia está chegando muito antes do que os meios para utilizá-la. Basta olhar em volta e ver toda a tecnologia que os celulares, i-phones, i-pods, blackbarrys e tantos outros “brinquedos” oferecem. Mas ainda assim: quem usa tudo isso? Será que isso melhorou a vida de cada um de nós, ou está se tornando fonte de maior estresse? Como estão sendo utilizados pelas empresas? Qual a filosofia que está por trás de cada decisão estratégica? Com a TV Digital, o caminho é o mesmo: é preciso mudar a mentalidade.
 
Exemplo: hoje estamos assistindo ações que vão na contramão desse desenvolvimento, como por exemplo o projeto de lei 29/2007 proposto pelo deputado Jorge Bittar (PT/RJ) que quer obrigar as TVs por assinatura a transmitir 50% de conteúdo nacional em sua programação. Essa
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