Bem estar

Publicado: Quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Entrevista com Jamil Aidar

Entrevista com Jamil Aidar
"Muitas famílias optam por alimentos pré-preparados e industrializados. Os alimentos classificados como "fast-food" são habitualmente mais calóricos"
Jamil Aidar é médico pediatra e psicoterapeuta. É também colunista do itu.com.br. 

Itu.com.br - Qual são os principais desafios dos profissionais que lidam com o tratamento de obesidade?
O principal desafio dos profissionais que lidam com a obesidade é seu caráter multicausal. Há fatores emocionais, endócrinos, constitucionais, genéticos e culturais envolvidos. A maior das dificuldades reside no fato de que independentemente da causa, o tratamento da obesidade implica em mudanças de hábitos de vida relacionados à alimentação e sedentarismo. Mudar hábitos é sempre muito difícil!
 
Itu.com.br - Por que a obesidade tem se tornado cada vez mais comum?
Novamente lidamos com uma questão multifatorial. Há mudanças nos hábitos alimentares das famílias, que envolvidas em muito trabalho, optam por alimentos pré-preparados e industrializados. Os alimentos classificados como "fast-food" são habitualmente mais calóricos. Outro fator é a grande oferta de "novidades" alimentares, que nos impulsionam a consumir, provar, testar.
Ainda pensando em hábitos, as "comodidades" da modernidade podem aumentar o sedentarismo. Temos controles remotos para tudo, nos locomovemos de automóvel, caminhamos pouco. Outro fator é o papel que o alimento desempenha em nossa vida. Não comemos apenas quando sentimos fome. Comemos quando estamos ansiosos, carentes, nervosos, sozinhos. Quais são nossas "fomes" verdadeiras?

Itu.com.br - Quais são as principais causas da obesidade infantil?
Na infância, as principais causas de obesidade são o sedentarismo e os erros nas orientações alimentares. São raras as doenças hormonais, constitucionais ou os medicamentos que causam obesidade na infância.
 
Itu.com.br - Quais os principais problemas causados pela obesidade?
A obesidade causa problemas em vários setores do nosso corpo:
- prejudica nosso sistema cardiovascular, aumentando as chances de hipertensão, dislipidemias (problemas de colesterol e triglicérides), acidente vascular cerebral (os derrames);
- prejudica nosso sistema osteo-articular: ossos, músculos e articulações sofrem pela sobrecarga de peso;
- prejudica nosso sistema hormonal: há grande associação entre obesidade e diabetes. Diz-se hoje de doença plurimetabólica (associação de obesidade, diabetes, dislipidemia e hipertensão);
- prejudica nosso sistema emocional/relacional: há prejuízo em nossa auto-estima e na maneira como nos relacionamos, podendo causar isolamento social, constrangimentos, dificuldades afetivas e sexuais.

Itu.com.br - Você acha que a mídia colabora para piorar ou amenizar o problema da obesidade?
Nem sempre. Se por um lado hoje a mídia nos oferece informações sobre prevenção de doenças e promoção de saúde, por outro lado oferece um modelo estético desejável - magro - que faz com que todos nos sintamos acima do peso ideal, estimulando algum tipo de dieta. A mídia também oferece inúmeras dietas "milagrosas", mágicas, que prometem emagrecimento rápido, sem muito sacrifício, porém sem estimular as necessárias mudanças de hábito alimentar ou combater o sedentarismo.
Na contra-mão, podemos constatar que a quantidade de propagandas que nos estimulam a consumir "guloseimas" é infinitamente superior àquelas que nos estimulam a desenvolver hábitos alimentares e de vida mais saudáveis.

Itu.com.br - Como os pais devem fazer para ajudar seus filhos nessa questão?
A primeira ajuda começa no supermercado, quando escolhemos o tipo de alimentos que deixaremos à disposição para nossos filhos. Dificilmente uma criança usará uma fruta no lanche, se o armário da cozinha estiver cheio de bolachas de chocolate. Além disso, as crianças comem o tipo de alimentos que os pais preparam e disponibilizam. Outro ponto é o exemplo alimentar que os pais dão: pais que fazem careta ao olhar um prato de legumes, dificilmente terão filhos que gostarão de legumes. Uma questão a ser pensada é "limite" e desejo de mudança; é possível substituir refrigerantes por sucos, hambúrgueres industrializados por outros caseiros, que levem em seu preparo ovos e legumes, etc... Se não é possível abolir completamente alguns alimentos, podemos negociar a quantidade de consumo. Por exemplo, se seu filho "não vive sem refrigerante" o que não é uma verdade absoluta, ao invés de oferecer-lhe uma garrafa de refrigerante de 2 litros por semana, use uma latinha... A quantidade já será menor!
Finalmente, o estímulo à prática de atividades físicas é importantíssimo. Limitar as horas gastas em frente da televisão ou do computador, substituindo-as por atividades recreativas.
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