Educação

Publicado: Quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Alfabetização e Inclusão Social em Itu

No Dia da Alfabetização (14/11) conheça um projeto inovador

Crédito: Alan Dubner / www.itu.com.br Alfabetização e Inclusão Social em Itu
Mais de 800 pessoas foram alfabetizadas no projeto
Por Camila Bertolazzi

“A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”.
Artigo 205 da Constituição Brasileira.

Criado em 2000 com o objetivo de reduzir o número de analfabetos em Itu, o Curso de Alfabetização de Adultos é um projeto inovador que reúne alfabetização e inclusão social. Em seus nove anos de existência, mais de 800 pessoas - na sua maioria adultos - passaram pelas salas de aula e tiveram a oportunidade de se tornar cidadãos.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que em todo país existem mais de 16 milhões de analfabetos. Na tentativa de mudar esse quadro, o Rotary Clube de Itu colocou em prática o Curso de Alfabetização de Adultos, dando uma chance aos que foram excluídos da escola antes de aprender o básico da educação.
 
O projeto tem um aspecto muito abrangente. Não ensina apenas a ler e a escrever, mas também coloca os alunos dentro do contexto atual enquanto seres humanos humanizados. “Em todo o Brasil existem vários projetos com o objetivo de alfabetizar, mas o nosso é diferente, nós percebemos a necessidade de incluir o recém alfabetizado na sociedade,” afirma Clara Maria Franco Bueno, coordenadora pedagógica voluntária do projeto.
 
Durante os seis meses de curso, eles aprendem para que serve e também como usar os documentos (RG, CPF, Título de Eleitor) e o talão de cheque, a importância do nome e da idade, e são instruídos sobre o que podem fazer em cada etapa da suas vidas, colocando em prática as necessidades básicas da cidadania, tudo de acordo com a Constituição.
 
Para poder passar tudo isso da melhor maneira possível, os professores recebem um treinamento especial, além de se reunirem mensalmente com as coordenadoras do projeto, que também fazem visitas periódicas às salas de aula. Já o material utilizado vem de uma parceria entre o Rotary e a Secretaria do Ensino Fundamental de Brasília, através do projeto “Viver e Aprender”. Nas apostilas, além do português gramatical, muita poesia e ensinamentos de vida.
 
Outra característica positiva do projeto é a assistência prestada para alunos que demonstram algum impedimento, por exemplo, se o aluno apresentar problemas visuais, o Rotary encaminha-o para um médico especialista e se for preciso, fornece os óculos. “Isso é o nosso diferencial, a forma com que nós trabalhamos, sempre auxiliando as pessoas para que elas possam ser incluídas na sociedade”, afirma Maria Eliza Coelho Chierighini, coordenadora administrativa do projeto.
 
Segundo Maria Eliza, várias turmas foram formadas com deficientes, principalmente mentais. “Nós colocamos todos juntos, e têm dado resultado, afinal, a ideia hoje em termos de educação, não é mais a segregação, e sim a integração”. A coordenadora afirma também que o projeto já atendeu pessoas alfabetizadas, que frequentaram as salas de aula para terem as noções básicas de cidadania e inclusão social. “O que mais os alunos precisam é de inclusão, ser considerado gente, e quando eles não sabem ler isso é muito complicado, sofrem preconceito da sociedade, da família e deles mesmos”.
 
O pontapé inicial

“O projeto é a concretização do sonho de quatro pessoas”, afirma Clara. Em 2000, Maria Eliza Coelho Chierighini e Cidinha Pinheiro, ambas do Rotary Itu; Clara Maria Franco Bueno, da área pedagógica; e Márcio Barbosa, do Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), juntaram-se e criaram o Curso de Alfabetização de Adultos.

Foto: Maria Eliza Chierighini e Clara Maria Bueno

“Na época, o Senai tinha um projeto de alfabetização voltado para a indústria, e nos fornecia todo o material, mas com o tempo o projeto tomou outro rumo, e essa parceria se desfez”, afirma a coordenadora pedagógica.
 
O Rotary Clube de Itu, que abraçou o projeto desde o início, fez então uma importante parceria com a prefeitura da cidade, na qual o órgão atesta o trabalho feito e a aprendizagem dos alunos. “Eles fazem uma prova para testar se os alunos realmente estão alfabetizados. O resultado positivo significa que eles estão aptos para cursar a 2ª série do Ensino Fundamental”, explica Maria Eliza. E continua: “Nós também já tivemos casos de pessoas reclassificadas, ou seja, o nível delas é superior para entrar na 2ª série, e entram na 3ª ou até mesmo na 4ª”, afirma, feliz.
 
“Alguns, mesmo depois do curso, ainda não estão em condições de cumprir todas as exigências da prova e não passam, mas mesmo assim, já têm uma qualidade de vida melhorada, diferente. Têm condição de ler uma receita, ler o letreiro do ônibus e escrever cartas para parentes que moram longe”, afirma Maria Eliza. Quem não passa na prova pode realizar o curso novamente ou começar a 1ª série no Eja (Educação de Jovens e Adultos). O projeto é apenas a primeira etapa. Muitos deles, depois que concluem essa fase, continuam nos Ejas da prefeitura, e o Rotary dá início a uma nova turma.
 
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