Cotidiano

Publicado: Quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

O passado ensina o caminho do futuro

Por Laurentino Gomes.

Crédito: Eduardo Anizelli/Folhapress O passado ensina o caminho do futuro
"Um povo que demonstrou tão grande vitalidade no passado deveria temer o futuro? Obviamente, não"

Itu vive uma óbvia crise de identidade. Nossa cidade, que já foi das mais importantes do Brasil, enfrenta hoje dificuldades enormes na sua caminhada em direção ao futuro. Em 2014, virou notícia nacional devido à crônica falta d’água, apontada como paradigma nacional da ausência de prioridades na gestão dos recursos públicos. Essa é apenas a face mais visível do problema. A preservação do nosso rico patrimônio histórico, artístico e cultural deixa muito a desejar. A devastação ambiental na região tem ocorrido de forma acelerada, repetindo um fenômeno tipicamente brasileiro, de falta de respeito e sabedoria no uso dos recursos naturais e coletivos. É uma imagem ruim, que nem mesmo a alegria do último campeonato paulista conquistado pelo nosso valente Ituano conseguiu melhorar muito. O que fazer?

Acredito que a melhor forma de sonhar com um futuro melhor para Itu é observar o passado. Ao longo de mais de quatro séculos os ituanos tem demonstrado uma capacidade invejável de superar obstáculos e encontrar soluções para os seus problemas. Na época da colonização, estiveram na vanguarda do movimento bandeirantista, responsável pela ocupação e pela consolidação das futuras fronteiras nacionais. Na Independência, Itu se fez ouvir nas Cortes Constituintes de Lisboa pela voz de seu representante, o padre Diogo Antonio Feijó, futuro regente do Império. A contribuição dada ao país naquele delicado momento nacional tão decisiva que a cidade recebeu do imperador Pedro I o título de “Fidelíssima”. Meio século mais tarde, Itu reaparecia com destaque no cenário político nacional ao sediar a famosa Convenção Repúblicana de 1873, passo fundamental para a troca do regime dezesseis anos mais tarde. Ao lado desses importantes acontecimentos históricos, Itu contribuiu também para a cultura brasileira em áreas tão diversas quanto a Religião – a Roma brasileira dos padres do Patrocínio – , e as Artes, onde brilham expoentes como padre Jesuíno do Monte Carmello, Almeida Junior e Elias Lobo.

Um povo que demonstrou tão grande vitalidade no passado deveria temer o futuro? Obviamente, não. Acredito que essa centenária história de vitórias, conquistas e superação de desafios contém em si mesma todas as lições que nossa comunidade precisa para vencer as dificuldades do presente. Existem várias maneiras de se avaliar e reconhecer uma cidade. Pode ser pela sua história, pela sua arquitetura, pelo seu urbanismo, pela sua economia, pelos serviços, atrações ou pela qualidade de vida que oferece aos seus moradores. Itu é reconhecida por tudo isso e muito mais. Na minha opinião, porém, uma cidade vale mesmo é pelos cidadãos, pelas pessoas que ela ajuda a formar ao longo de sua jornada. E foi exatamente isso que Itu fez de forma bem sucedida no passado: formou pessoas ousadas, corajosas, honestas, solidárias, determinadas, capazes de mudar não apenas a comunidade em que viviam, mas a própria realidade nacional. Assim foi no passado. Assim pode ser no futuro.

Laurentino Gomes é Cidadão Honorário de Itu e seis vezes ganhador do Prêmio Jabuti de Literatura, é autor dos livros ""1808", "1822" e "1889".

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