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Publicado: Quarta-feira, 29 de maio de 2013

Ituano 66 anos: Batata, o zagueiro que ganhou destaque no Galo

Ex-atleta agora é treinador na Arena Soccer Ball.

Crédito: André Roedel - www.itu.com.br Ituano 66 anos: Batata, o zagueiro que ganhou destaque no Galo
Batata posa com a garotada da Arena Soccer Ball, onde treina mais de 130 alunos para o futebol

Por André Roedel

Dando prosseguimento a série de entrevistas especiais em homenagem ao aniversário de 66 anos do Ituano FC, a equipe do Itu.com.br conversou com Wanderley Gonçalves Barbosa, o Batata, zagueiro que ganhou destaque nacional jogando pelo Galo. O ex-atleta participou da marcante campanha na Série A-2 de 1997, que garantiu o acesso do rubro-negro à primeira divisão estadual.

A identificação de Batata com Itu foi tão forte que, quando decidiu se aposentar, escolheu a cidade para residir. Hoje ele segue no meio do futebol, mas num ambiente totalmente diferente: ele treina a garotada da escolinha de futebol society da Arena Soccer Ball. Confira toda a trajetória deste grande jogador:

Ituano 66 anos: Batata, o zagueiro que ganhou destaque no Galo

O início em Limeira

Apesar de ter nascido em Barra do Piraí, município no interior do Estado do Rio de Janeiro, Batata - que tem esse apelido por sempre ser pego comendo batatas escondido enquanto a mãe preparava - começou sua carreira no Internacional de Limeira (SP) no ano de 1993. No time campeão paulista de 1986, o zagueiro participou da campanha que rebaixou o clube para a segunda divisão do Paulistão. Apesar de iniciar sua carreira com um revés, Batata não desistiu e seguiu em diante.

“Fiquei três meses no Inter de Limeira. O Celinho, treinador de lá, foi mandado embora e veio para o Ituano. Depois de uma semana me mandaram embora também, eu liguei pra ele, que me disse: ‘nem volta pro Rio, vem para Itu’. Aí peguei o ônibus em Limeira e desembarquei aqui”, conta o ex-atleta.

Batata se profissionalizou no Ituano. Jogou pouco por aqui e logo foi emprestado ao Remo, clube do Pará. Lá, em 1993, foi campeão estadual num time recheado de veteranos, como Biro-Biro, João Santos, Alberto e Cacaio. “Na verdade eu fui de contrapeso. Era novo, estava com 19 anos, aí fui junto com o Romeu na época”, explica.

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Queda pelo Galo e experiência internacional

Depois da excelente passagem pelo time paraense, Batata retornou ao Ituano em 1994, ano em que Juninho Paulista fez seus últimos jogos com a camisa rubro-negra. Nessa temporada o Galo caiu para a Série A-2. No início de 1995, o zagueiro aceita um novo desafio: jogar no Monterrey, do México. Lá, Batata disputa algumas partidas pelo time principal e acaba parando no segundo time, que disputa a Primeira A.

“Eles (diretores do clube) não queriam que eu saísse de lá. Eles queriam que eu jogasse o ‘futebol rápido’, que é o showbol deles. A liga é super organizada, como se fosse a NBA”, conta Batata, que não aceitou a proposta por estar muito tempo distante da família.

“Se bem que eu era garoto, não era casado ainda. Poderia até ter ficado. A liga que eles disputam é americana. Eles falaram que iam me dar uma bolsa, morar nos Estados Unidos, estudar e só jogar o futebol rápido. Mas falei ‘pra mim não interessa’”, explica Batata, que retornou ao Galo depois disso. 

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Acesso com o Galo e ida ao Corinthians

Sua terceira passagem pelo Ituano é a mais longa das três: Batata fica de 1996 até 1998 no rubro-negro. No primeiro ano do retorno, o clube fica bem próximo de conseguir o acesso à Série A-1, mas acaba em último no quadrangular final. Em 1997, o time dá a volta por cima e conquista o acesso com o vice-campeonato.

Em 1998, na primeira divisão, Batata começa a colher os louros das boas atuações. “Foi o melhor campeonato paulista que eu disputei. Fui considerado o melhor zagueiro, fui para a seleção paulista e acabei vendido para o Corinthians”, conta o zagueiro, que iria enfrentar um de seus maiores desafios na carreira.

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No Corinthians

No Corinthians, Batata teve, segundo ele próprio, “bons e maus momentos”. “Em seis meses consegui ser campeão brasileiro. No comecinho de 1999, tive uma lesão no tendão de Aquiles e fiquei quatro meses parado. Voltei, joguei mais seis meses e tive uma lesão de tendão patelar. Aí fiquei oito meses parado”, conta o ex-atleta.

Mas as lesões não impediram Batata de voltar a ser campeão pelo Corinthians. “Consegui voltar. Fui campeão brasileiro de 1999. Só fiquei de fora, voltando ainda da lesão, do Mundial. Depois dei sequência”, registra. Batata também diz que jogar no Timão é diferente.

“Para um jogador que vai de um time considerado pequeno para um time grande, a transformação é enorme. Pressão de torcida, cobrança todo dia por títulos... É o que eu sempre falo para os amigos: no Corinthians você joga um ano e envelhece dez”, conta Batata, que também diz que o alvinegro é o melhor time pra se jogar na fase boa. “E o pior na fase ruim”, brinca. 

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Novos desafios

Após ser campeão da Copa do Brasil em 2002, Batata é envolvido em uma negociação vai parar no Atlético-MG, onde fica pouco tempo. Em 2003, o zagueiro jogou pelo Brasiliense, na fase em que o clube da capital federal era administrado pelo senador cassado Luís Estêvão.

“Falam muito do Luís Estêvão, mas ele é um dos dois melhores dirigentes com quem trabalhei: ele e o José Roberto Guimarães (gerente de futebol do Corinthians no final da década de 1990 e atual técnico da seleção brasileira feminina de vôlei)”, conta Batata, que saiu do clube após realizar boa campanha, mas que não foi coroada com o acesso à Série A nacional.

De lá, Batata desembarca em Pernambuco, mais precisamente no Náutico. Depois de Django, o zagueiro entra para o quadro de jogadores com passagens marcantes no Ituano e que também fizeram sucesso no Recife. “A torcida do nordeste respira futebol, ama o futebol”, conta Batata, que ficou cinco anos no clube. 

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A batalha dos Aflitos

Pelo alvirrubro, Batata participou da lendária “Batalha dos Aflitos” (em referência ao estádio dos Aflitos), como ficou conhecido o último jogo do time pernambucano na Série B, contra o forte Grêmio de Mano Menezes. “Eu era o capitão do time. Só tinha um resultado: era ganhar, ganhar e ganhar. Tivemos dois pênaltis, perdemos um no primeiro tempo e outro aos 45 do segundo tempo”, conta o zagueiro.

Batata também contou que o árbitro Djalma Beltrame disse o seguinte: “bate, que se eu der mais acréscimo eu vou beneficiar o time do Grêmio. Bate, faz, que eu vou colocar a bola no centro e acabar com o jogo”. Na mente dos jogadores do Náutico, a cobrança seria revertida, eles iriam vencer e subir para a 1ª divisão.

“Ninguém esperava. Bateu, perdeu, e logo o goleiro do Grêmio foi tão rápido que ele já jogou para o Anderson. Na hora eu lembro que estava com o olho fechado (...) e quando eu olhei a bola já estava com ele. Eu fui expulso na jogada seguinte”, conta. Batata levou o segundo cartão amarelo e foi para o chuveiro mais cedo. A falta foi cobrada rapidamente, Anderson, recebeu, driblou a zaga do Náutico e marcou o gol que subiu o Grêmio e manteve o Timbú na segundona. “Parecia que o mundo tinha acabado”, disse o ex-zagueiro.

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Acesso com o Náutico e aventura na Europa

Depois do sofrimento na Batalha dos Aflitos, o Náutico conseguiu o tão sonhado acesso para a Série A no ano seguinte (2006). “Foi muito difícil pelo baque que foi o ano anterior”, disse. Depois da conquista, Batata resolve se aventurar em outro continente: ele é contratado pelo Pogón Szczecin, da Polônia.

“Foi uma das piores experiências da minha vida. Já estava em final de carreira e fiz contrato de dois anos. Sai do Recife com 42 graus e cheguei na Polônia com menos 28. Quase enlouqueci”, conta Batata, em meio a risadas. “Não me adaptei ao futebol (de lá). Muita correria, o futebol é totalmente diferente, o idioma, comida... Tudo diferente”, relata.

Batata acabou ficando apenas quatro meses na Polônia. Ele rescindiu o contrato e voltou para o Náutico, onde ficou apenas quatro meses. Identificado com o futebol pernambucano, ele ainda passou pelo Central de Caruaru e pelo Salgueiro, quando decidiu pendurar as chuteiras. “Comecei a atrapalhar mais do que ajudar, (...) estava tirando o espaço dos garotos daí eu percebi que estava na hora”, explica.

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Arena Soccer Ball

Aposentado, Batata volta à Itu, cidade que criou forte identificação. Mas logo é convidado para se tornar auxiliar técnico do Náutico. “Trabalhei no Náutico e no Santa Cruz. Só que é uma vida como jogador, mas fora de campo. Você tem que se concentrar, viajar e sem pode fazer nada lá dentro. E outra: tem que trabalhar com a cabeça de 30 jogadores. É complicado”, explicou.

Ele decidiu que não era isso que queria da vida e resolveu encerrar a carreira também como auxiliar técnico. Em Itu, Batata inicia uma nova fase: agora ele é treinador de futebol na escolinha da Arena Soccer Ball, que é uma opção de entretenimento para os amantes de futebol na cidade.

A iniciativa veio após uma parceria com os proprietários do campo de futebol society, Leandro Morais Dragão e Michel Morais Santos, que já pensavam em abrir uma escolinha para a garotada. “Hoje eu tenho 130 alunos e sei o perfil de cada um, sei como lidar com todos, sei que um eu posso puxar a orelha, no bom sentido, o outro tenho que levar com jeito”, conta, explicando seu modo de trabalhar na Arena.

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