Esportes

Publicado: Quinta-feira, 17 de maio de 2012

"Eu nasci para correr"

Atleta ituano fala com exclusividade ao portal Itu.com.br!

Crédito: Arquivo CRIA-ITU "Eu nasci para correr"
'Atualmente também faço natação e ciclismo, e fui arrastado, por uma amiga cadeirante, para jogar golf'

Por Camila Bertolazzi

Aos 54 anos, Edmar Wilson Teixeira de Souza corre em média 3.120 Km por ano. São mais de 110 mil Km desde 1975 quando competiu pela primeira vez. Em 37 anos, o atleta ituano já deu quase três voltas completas ao redor do planeta Terra, cujo perímetro é 40 mil quilômetros.

Treinos diários, dieta balanceada e muita persistência deram a Edmar incontáveis medalhas e um recorde mundial. O atual presidente da CRIA-ITU (Corredores Reunidos de Itu e Adaptados) convida as pessoas (deficientes ou não), que queiram mudar seus estilos de vida através do esporte, para entrar em contato com ele pelo e-mail [email protected], e conhecer mais sobre o trabalho realizado pela organização desde 2007. “Nós desenvolvemos o esporte adaptado por considerar o esporte a maior ferramenta de resgate e inclusão”.

Como você vê a questão do preconceito no esporte? Ainda hoje existe discriminação com os deficientes físicos?

Apesar de ter melhorado bastante, isto ainda é um problema muito complicado. Com a criação do CRIA, Itu deu um passo importante para a inclusão. A opção pelo esporte é por considerar que o mesmo pode ajudar a mudar o cenário brasileiro da exclusão social, pois, além de priorizar a disciplina, ajuda a desenvolver o controle motor e emocional, capacita para a atuação em equipe, melhora a saúde física e a autoestima, e promove a interação do indivíduo com a sociedade de forma geral, enfatizando as relações de convivência e incorporando valores positivos. Criamos um modelo diferenciado de inclusão, pois enquanto outros grupos separam para incluir, nós simplesmente incluímos para incluir; nosso atleta convive e treina no mesmo ambiente de atletas sem deficiência, esse é nosso diferencial, pois foi desta forma que conquistei meu Record mundial: atitude e motivação sem muita ciência.

Comparando o seu rendimento nas provas de 10 Km nos últimos anos percebe-se uma melhora significativa. Ao que você acredita esse desenvolvimento?

Em primeiro lugar à tecnologia, às constantes evoluções da qualidade dos calçados, suplementação e, também às novas técnicas de treinamentos - que sempre busquei. Segundo alguns estudos, podemos baixar nosso tempo até os 50 anos; a minha melhor marca nos 10 km foi 31’30’’, aos 42 anos de idade, tempo este que até hoje é recorde entre os ituanos, falando nos atletas sem deficiência.

Qual é a sua rotina de treinamento?

Sempre treinei com muita técnica, devido às palestras, workshops e cursos de treinamentos que participo frequentemente. Os treinos são periodizados e variam de 30 a 90 dias. Quando treino focado em índices, o bicho pega. Treino em dois períodos. Pela manhã faço trabalho de rodagem (à vontade, sem tempo) correndo de 12 a 15 km, e à tarde, trabalho de tiros (acelerado ou intervalado), que varia entre 8 e 10 km. Isso significa uma média de 180 quilômetros por semana nos picos de treinamento.

Você segue uma dieta balanceada com acompanhamento de profissionais?

Sim. A alimentação, assim como dizem as melhores literaturas, é um dos alicerces que forma a base do sucesso do atleta juntamente com bom treino e repouso.

Antes de correr na categoria PCD (pessoa com deficiência), você chegou a competir na mesma categoria dos atletas sem deficiência?

Sim claro, a maior parte de minha vida. Competi por 32 anos - entre 1975 e 2007 – na categoria normal (pessoas sem deficiência), o que me deu ainda mais vontade para superar as limitações, pois corria no meio de pessoas em perfeitas condições físicas. Como consequência, meus melhores resultados são desse período.

Quais foram suas principais conquistas?

> Maratona de Nova York, que é o sonho de todos e qualquer corredor, não tenho palavras pra descrever isso. Competi lá em 2009, 2010 e 2011 e tive excelentes classificações em 2009 e 2010. São mais de 40 mil corredores, saindo de vários pontos da bela cidade de NY, para chegar ao Central Parque. Durante a prova, os corredores enfrentam subidas e muito frio.

> Maratona de Blumenau em 1995, onde obtive a melhor marca da minha carreira – 2’28’’09’’’ – recorde ituano até hoje, e recorde mundial na categoria PCD - não homologado, porque na época eu não estava representado nenhuma entidade ou clube paradesportivo.

> Ultra maratona de 100 km que conclui em 8 horas e 03min. Fiquei em quarto colocado competindo na categoria para não deficientes. Na época fui convocado para disputar o mundial na Rússia, mas não fui por falta de patrocínio.

Você vive do esporte?

Nos anos de 2009 e 2010 eu recebi a Bolsa Atleta do Governo Federal. Mas, por consequência de algumas lesões, não consegui ficar entre os três melhores do ranking no ano passado. Independente disso, sempre trabalhei, pois no Brasil é muito difícil viver do esporte; são muitos altos e baixos. Recebo apoio para viagens aos EUA, da Achilles International, e uma ajuda de custo da prefeitura de Itu.

Como você vê o aumento de pessoas praticando esse esporte em Itu?

Com muito otimismo. Quando comecei, em 1975, correr na rua era feio, era coisa de vagabundo, e vândalos, cheguei a treinar muitas vezes escondido por vergonha, ou depois das 22 horas. Hoje correr é status. Não só Itu, mas o mundo está correndo, como pude presenciar em de Nova York, onde mais de 100 mil pessoas se inscreveram para participar da maior maratona do planeta, que não comporta mais que 40 mil.

A corrida é o segundo esporte mais praticado no país, atrás apenas do futebol. Você acha que um dia os adeptos à corrida liderarão a ponta da tabela?

Tenho certeza que isso vai acontecer muito breve, e quando esse dia chegar, muitos valores mudaram e, como consequência, criaremos uma nossa consciência de vida, com novos conceitos. A corrida, como esporte, prioriza a disciplina, ela muda seu estilo de vida; o indivíduo interage com a sociedade de forma geral. Só quem é picado por esse “bichinho correr” sabe o que eu estou falando.

Além de atletismo, você pratica e compete em outros esportes?

Sim. Atualmente também faço natação e ciclismo, e fui arrastado, por uma amiga cadeirante, para jogar golf, e hoje peguei amor por esse esporte. Já ganhei inclusive algumas medalhas, mas nada que se compare à corrida. Só não tenho medalha de Golf, mas estou com esperança, quem sabe nesse ano ainda.

Você já sofreu alguma contusão séria que o impedisse de correr? Como foi a recuperação?

Sim, várias. Isso

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