Educação

Publicado: Quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Um olhar para a Educação no século XXI: caminhos, desafios e sonhos

Entrevista com a diretora do Colégio Monteiro Lobato.

Crédito: Arquivo Pessoal Um olhar para a Educação no século XXI: caminhos, desafios e sonhos
Joyce Barsotti: "O professor não é mais o dono do saber; hoje seu papel é de mediador. Depois de quebrado esse paradigma, o maior desafio do professor é saber estimular o aluno a sempre ir além."

A diretora pedagógica do Colégio Integrado Monteiro Lobato, Joyce Barsotti Cunha, compartilha sua visão sobre educação nos dias atuais, desafios, sonhos e necessidades para o futuro próximo. Ela reflete também - em entrevista exclusiva - sobre as mudanças no papel do professor, posicionamento dos pais e alunos e fala sobre alguns projetos diferenciais da escola para incentivar e promover a necessária mudança. Uma entrevista que traz boas reflexões para pais e educadores!

Sobre a Educação

itu.com.br -  Ultimamente temos ouvido muitas opiniões, por vezes controversas, em relação ao futuro da educação. Como você vê a educação nos próximos 10 anos?

Joyce - Quando a escola for realmente transformadora, ela enfim terá encontrado sua importante função. É algo que há muito tempo vem sendo discutido entre educadores, mas acredito que ainda há um longo caminho a percorrermos. Muitas escolas ainda insistem numa educação tradicional, às vezes até apresentando um embrulho moderno, mas cuja essência é meramente a reprodução de conhecimentos. Os alunos ainda são doutrinados a pensar de forma homogênea; a instrução em massa funciona como uma máquina de ajustamento, que se propõe a preparar o aluno sempre para aquilo que ainda está por vir: a próxima série, o mercado de trabalho, a vida adulta. Muitas escolas inclusive adotam o slogan “preparar para a vida”. Fico me pensando o que seria isso. É como se a vida só fosse começar lá na frente. O aluno está sempre sendo preparado para algo que virá no futuro, e não tem a oportunidade de viver o presente, de experimentar, de errar, sem cobranças ou pressões.

Acredito que a escola já entendeu qual é o seu papel, mas não consegue mudar porque ainda está presa à cultura do século XIX, adequada ao padrão industrial que infelizmente ainda é esperado dela e que prioriza a quantidade de conteúdo, estimula a competitividade e premia aqueles que se adequam melhor ao sistema. Nos próximos 10 anos, vejo muitos novos capítulos desse eterno cabo-de-guerra, e desejo que pouco a pouco a escola consiga ganhar espaço e autonomia para que possa exercer sua verdadeira missão, que é desafiar, estimular e encantar os alunos para ajudá-los a desabrochar e desenvolver todo o seu potencial.

itu.com.br - As crianças vêm para a escola muito mais preparadas do que antigamente. Informações de qualquer tipo estão disponíveis para qualquer pessoa. Diante deste cenário, qual deve ser o papel do professor em relação ao ensino?

Joyce - O professor não é mais o “dono do saber”; hoje seu papel é de mediador. Depois de quebrado esse paradigma, o maior desafio do professor é saber estimular o aluno a sempre ir além. Os alunos têm muitas informações, e a tarefa do professor é contribuir para que elas sejam transformadas em conhecimento. Muitas vezes, é difícil compreender que, mesmo de posse de milhões de informações, o aluno pode não saber nada sobre determinado assunto. Sim, por que saber pode ter dois significados diferentes: o de estar informado sobre algo e o de ser capaz de fazer algo com aquilo. Perceba que o primeiro significado é estático, e o segundo é dinâmico, envolve uma ação. Assim, saber fatos e dados pode não servir para muita coisa, se o aluno não souber como agir a partir daquilo. Esse “pulo do gato” é o grande desafio do professor atualmente: conseguir fazer com que o aluno extrapole as informações dos livros, da internet ou da TV, criando conexões e exercendo seu papel no mundo.

itu.com.br - Diante das mudanças que estão ocorrendo no mundo e das novas formas de trabalho, com novas profissões e novas maneiras de ganhar dinheiro, como a escola pode preparar os alunos para lidar com esta nova realidade?

Joyce - A nossa geração foi estimulada a estudar para ter boas notas nas avaliações. Estudar tinha um objetivo bem claro: tirar boas notas para passar de ano. Essa é uma cultura já incorporada à Educação, e é difícil romper com ela. Ainda hoje, os alunos vêm para a escola com essa mentalidade, e muitas famílias ainda ficam satisfeitas apenas quando há bons resultados nos boletins. Há uma pesquisa muito interessante da McKinsey&Company que aponta as 13 características mais valorizadas e menos encontradas pelas empresas nos profissionais recém-formados: criatividade, ética, comunicação, liderança, resolução de problemas e trabalho em equipe são algumas delas. Estas habilidades, porém, são muito mais difíceis de ser mensuradas, e nem sempre ficam claras por meio de avaliações formais. Por isso, muitas vezes ficam relegadas a segundo plano.

Todo mundo conhece alguém que patinava nas provas nos tempos de escola e hoje tornou-se um profissional brilhante e bem-sucedido. Isso é cada vez mais comum, mas mesmo assim a sociedade, e consequentemente as escolas, continuam valorizando apenas as boas notas. O grande desafio é garantir a valorização das diferenças, despertar e incentivar as potencialidades individuais e trabalhar para que todos tenham uma boa autoestima. Se este tripé estiver forte, o caminho será natural. O papel da escola não é injetar informações nos alunos, mas sim incentivá-los, ajuda-los a enxergar as oportunidades e a pensar fora da caixa. A escola deve servir como uma grande laboratório, que permita ao aluno experimentar e descobrir-se, assumindo-se como um ser único. Assim, maduro e fortalecido, ele poderá assumir o papel que desejar, e escolher o caminho que quiser.

Sobre o Colégio Monteiro Lobato

itu.com.br - Como o Colégio Monteiro Lobato trabalha o mundo digital com seus alunos? O que é permitido e o que não é? O que é incentivado? O que é incorporado?

Joyce - O mundo digital, como tudo mais, tem um lado positivo e um lado negativo. Sempre procuramos incentivar o uso dos recursos tecnológicos, mas sem esquecer que existem outras estratégias que podem, e devem, ser exploradas. Os alunos navegam natural e intuitivamente pelo mundo digital, mas muitas vezes se veem perdidos se são desafiados a fazer algo sem o auxílio desses recursos. A escola procura integrar todas as formas de informação a que os alunos têm acesso, para ampliar sua visão de mundo.

Nós utilizamos as ferramentas digitais como o que elas são: ferramentas que nos ajudam a atingir um fim. Em 2015, temos um laboratório completo de comunicação digital, que permite

Leia mais: www.monteirolobato.net

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