Economia & Negócios

Publicado: Sexta-feira, 28 de maio de 2010

Estudo afirma que Bolsa Família não acomoda beneficiados

Economista discorda e lembra que pesquisas apontam o oposto.

Crédito: Instituto Millenium Estudo afirma que Bolsa Família não acomoda beneficiados
Rodrigo Constantino questiona fatores da pesquisa

Por Leandro Sarubo

Estudo coordenado pela pesquisadora Clarissa Gondim Teixeira, do Centro Internacional de Políticas para o Crescimento Inclusivo (CIP-CI), órgão do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), afirma que a probabilidade de quem recebe o Bolsa Família estar trabalhando é maior do que entre pessoas da mesma faixa de renda que não participam do programa.

Segundo o levantamento, a taxa de ocupação de quem recebe o Bolsa Família pouco difere da referente a quem não recebe. Entre as razões para o cenário exposto, uma é destacada nas análises lançadas por aí - a condição de manter os filhos matriculados na escola para que as famílias sejam beneficiadas. O argumento é simples e direto: sem precisar cuidar das crianças, as mães disporiam de mais tempo para trabalhar remuneradamente.

“O Programa Bolsa Família não causa ‘desencorajamento’ ao trabalho”, avalia Clarissa Gondim. A pesquisa, sob o título “Uma análise da heterogeneidade do efeito do Programa Bolsa Família na oferta de trabalho de homens e mulheres”, foi publicada também em inglês e se baseia em dados colhidos pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD, feita pelo IBGE) de 2006, quando o benefício era válido apenas para famílias com renda per capita de até R$ 100 (hoje são R$ 140) e o valor máximo pago era de R$ 95 (hoje são R$ 200).

Não acomoda mesmo?

O economista Rodrigo Constantino tem uma visão menos positivista para estes dados, que certamente serão utilizados durante a campanha eleitoral.

Ele lembra que a pesquisa do CIP-CI, divulgada pelo governo federal, não é soberana. “Que eu saiba, há pesquisas que mostram o contrário também, ou seja, gente acomodada ou na informalidade por causa da esmola estatal.”

Constantino assinala ainda uma questão não debatida intensamente pelos defensores do programa: o caráter eleitoral da ideia, que pode tornar os governos dependentes da política social: “O cão não morde a mão que o alimenta. Como a candidata do governo faz terrorismo eleitoral, alegando que a oposição acabaria com o privilégio, os dependentes votam no candidato do governo”. Atrelado ao argumento do economista está um dado do instituto Datafolha divulgado em março de 2010. 76% dos brasileiros consideram o Bolsa Família muito importante para o país.

Resta  saber até quando esta esteira ascendente de gastos públicos  se sustentará. 

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