Estudo afirma que Bolsa Família não acomoda beneficiados
Economista discorda e lembra que pesquisas apontam o oposto.
Leandro Sarubo
Por Leandro Sarubo
Estudo coordenado pela pesquisadora Clarissa Gondim Teixeira, do Centro Internacional de Políticas para o Crescimento Inclusivo (CIP-CI), órgão do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), afirma que a probabilidade de quem recebe o Bolsa Família estar trabalhando é maior do que entre pessoas da mesma faixa de renda que não participam do programa.
Segundo o levantamento, a taxa de ocupação de quem recebe o Bolsa Família pouco difere da referente a quem não recebe. Entre as razões para o cenário exposto, uma é destacada nas análises lançadas por aí - a condição de manter os filhos matriculados na escola para que as famílias sejam beneficiadas. O argumento é simples e direto: sem precisar cuidar das crianças, as mães disporiam de mais tempo para trabalhar remuneradamente.
“O Programa Bolsa Família não causa ‘desencorajamento’ ao trabalho”, avalia Clarissa Gondim. A pesquisa, sob o título “Uma análise da heterogeneidade do efeito do Programa Bolsa Família na oferta de trabalho de homens e mulheres”, foi publicada também em inglês e se baseia em dados colhidos pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD, feita pelo IBGE) de 2006, quando o benefício era válido apenas para famílias com renda per capita de até R$ 100 (hoje são R$ 140) e o valor máximo pago era de R$ 95 (hoje são R$ 200).
Não acomoda mesmo?
O economista Rodrigo Constantino tem uma visão menos positivista para estes dados, que certamente serão utilizados durante a campanha eleitoral.
Ele lembra que a pesquisa do CIP-CI, divulgada pelo governo federal, não é soberana. “Que eu saiba, há pesquisas que mostram o contrário também, ou seja, gente acomodada ou na informalidade por causa da esmola estatal.”
Constantino assinala ainda uma questão não debatida intensamente pelos defensores do programa: o caráter eleitoral da ideia, que pode tornar os governos dependentes da política social: “O cão não morde a mão que o alimenta. Como a candidata do governo faz terrorismo eleitoral, alegando que a oposição acabaria com o privilégio, os dependentes votam no candidato do governo”. Atrelado ao argumento do economista está um dado do instituto Datafolha divulgado em março de 2010. 76% dos brasileiros consideram o Bolsa Família muito importante para o país.
Resta saber até quando esta esteira ascendente de gastos públicos se sustentará.