Vou completar 18 anos. E ai?
Por Claus Peter Willi.
Jéssica Ferrari
À medida que a criança e o adolescente em um abrigo vão ficando mais velhos, menor a chance de serem adotados. Dos aproximadamente 28.000 interessados em adotar no Brasil, apenas 3% do total querem crianças e adolescentes de 8 a 17 anos de idade. É o que mostra levantamento do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) sobre o Cadastro Nacional de Adoção (CNA).
A maioria dos pretendentes quer crianças com até 2 anos de idade. Das crianças e adolescentes disponíveis para adoção a grande maioria - 64% - estão na faixa de 12 à 17 anos de idade.
Acredita-se que uma criança mais nova tem menos história que uma mais velha ou é mais fácil lidar com essa criança que tem poucas lembranças. Se o adolescente chegar ao abrigo mais velho, a adoção fica mais difícil ou quase impossível. Quanto maior a idade com que o jovem entra em uma instituição, menor a chance de adoção.
A lei prevê que a criança e o adolescente podem ficar no abrigo pelo prazo de dois anos. Depois do período, e se não forem adotados, o juiz prorroga a permanência deles na instituição de acolhimento numa solução “tampão” em tentativa canhestra de aplacar as próprias consciências ou encontrar soluções – mesmo que provisórias – para esta verdadeira “chacina emocional” perpetrada aos jovens que não criaram as situações com as quais tiveram que conviver e sofrer as consequências pelo resto de suas existências!
Na realidade esta permanência de apenas 2 anos nos abrigos é peça de ficção científica.
Muitos destes adolescentes chegaram aos abrigos com 3 ou 4 anos – em sua grande maioria – e não tendo sido possível sua reinserção na própria família ou tendo sido devolvidos aos abrigos após alguns períodos de convivência com os candidatos a adoção – permanecem à espera nos abrigos por uma quase impossível adoção tardia ou lá permanecem por toda a adolescência até completarem 18 anos.
Com a maioridade, os jovens moradores de abrigos já são considerados independentes – sabe-se lá como - e aptos a viver por conta própria, mesmo quando não possuem capacitação profissional. Além da falta de apoio financeiro, eles são abalados pela ruptura repentina do convívio com os funcionários e colegas do abrigo. Some-se à este abalo emocional todo o sentimento de rejeição acumulado diariamente e ao longo dos anos que acaba por destruir – na grande maioria dos casos de forma completa e avassaladora – a auto-estima destes jovens.
Como iniciar uma vida independente com apenas 18 anos, um histórico de abandono familiar, baixa escolaridade e sem dinheiro até para se alimentar?
Como se adaptar à vida fora dos abrigos sem nunca terem recebido noções do que seja uma casa ou convivência em sociedade uma vez que dentro das instituições não são obrigados a fazer nada. Tudo chega às mãos como de forma miraculosa e sem esforço pessoal.
Alguns não conseguem superar o impacto das tragédias que ocorreram em suas vidas e também há casos de jovens abandonados com deficiência mental. Infelizmente a alternativa das drogas, criminalidade e vida nas ruas se faz presente de forma relevante para a grande maioria destes jovens!!! Podemos conscientemente recriminá-los???
Não estamos TODOS errando por ação e/ou por omissão???
Pergunto novamente: QUE ESCOLHAS SOBRAM PARA ELES???
O que dizer então de todo o trabalho de psicólogos e assistentes sociais realizado junto à estas crianças tornadas adolescentes, abrigadas ao longo de todos os anos?
A resposta é simples: TUDO EM VÃO!!!
Felizmente existem alternativas sérias e com grande índice de sucesso acontecendo em nosso país, que não cuida dos seus cidadãos à altura do mínimo indispensável.
Refiro-me às REPÚBLICAS.
Trata-se de casas para acolher os jovens que saem de abrigos. Em forma conveniada com o poder público as casas – com público feminino e/ou masculino em funcionamento – atendem os garotas e garotos dos 18 até os 21 anos. As prefeituras destinam às instituições uma verba que cobre todas as despesas, como água, luz, alimentação e até transporte quando os jovens estão procurando emprego.
O objetivo é ensiná-los a se tornar independentes em começando a viver sozinhos e sentir que a casa é mesmo responsabilidade deles. Os gestores destas casa – via de regra de ONG´s – gerenciam os problemas de relacionamento, a escala das tarefas domésticas de cada um, orientam na procura de trabalho, entre outras coisas.
Os órgãos públicos – via de regra prefeituras – investir mais três anos no adolescente por conta de um projeto de vida que ele apresentar. Quando completar 21 anos terá que estar preparado, porque vai encarar o mundo lá fora. Vai ter que se virar sozinho depois.
De acordo com levantamento do site G1 com as prefeituras de todas as capitais do país, São Paulo e Curitba são as únicas que mantém repúblicas. No restante de todo o país estas casas são objeto de convênios entre as prefeituras e ONG´s.
Em todos os projetos os jovens são estimulados a participarem de cursos profissionalizantes recebendo também suporte psicológico e econômico até que tenham condições de sobreviver de forma independente.
Infelizmente em nosso município – e nas cidades vizinhas às quais cooperam com o Setor Técnico do Forum de Itu - apesar da existência de adolescente chegando à casa dos 18 anos – não existe nenhuma iniciativa à este respeito.
As razões para esta OMISSÃO das autoridades públicas locais me são desconhecidas oficialmente, mas fico analisando como podem os setores voltados à ação social deste e dos municípios vizinhos voltarem as costas para esta triste realidade.
Resta à estes jovens o olhar humano e consciente dos juízes – e ainda bem que eles existem - à prorrogarem sua permanência nas instituições que os acolhem.
Uma vez mais à estes jovens e adolescentes que não são reinseridos à suas famílias ou adotados resta apenas mais incertezas, angústias, revolta quanto ao futuro.
O passado eles já conhecem e para estes jovens o futuro não se avizinha nada promissor!
Lamentável é a única descrição que me ocorre!!!
Em tempo.
Sou pai de dois adolescentes maravilhosos, q