Opinião

Publicado: Quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Quem rega?

por Deborah Dubner

Crédito: Arquivo Pessoal Quem rega?
A diversidade de nossas florestas é algo que impressiona estrangeiros do mundo todo!

Há algumas décadas, quando eu era criança, minha família recebeu um jovem de Israel que veio pela primeira vez ao Brasil. Assim que ele saiu do aeroporto em direção ao carro, olhou para as árvores, tudo verde, e perguntou: “Quem rega?” Minha mãe, surpresa com a pergunta, respondeu... “Deus!”

Esta cena ficou marcada em minha lembrança. Hoje, já adulta, reflito sobre o quanto esta história tem para nos ensinar. Para um jovem que passou a vida num país de solo deserto e que há 40 anos conheceu um país árido que necessitava de muito esforço para ter uma natureza viva, não era fácil imaginar que as árvores poderiam crescer simplesmente “sozinhas”. É preciso regar e cuidar todo dia para que tudo floresça. Foi assim que ele aprendeu. Atualmente, Israel ganhou reconhecimento mundial por sua habilidade de transformar desertos estéreis em terras úteis e cultiváveis. O mesmo exemplo pode ser conferido na comunidade de Findhorn (Escócia), uma ecovila que é considerada referência pela ONU, e que literalmente tirou leite de pedra. Eu pude presenciar e registrar a exuberância de suas lindas e coloridas flores, nascidas praticamente num chão de pedras.

Agora... voltemos ao nosso Brasil, um “país tropical abençoado por Deus e bonito por natureza.” Que bênção recebemos ao nascer aqui! A diversidade de nossas florestas é algo que impressiona estrangeiros do mundo todo! A riqueza da nossa Mata Atlântica, que em Itu também pode ser apreciada, é de uma beleza sem igual. A variedade de nossas frutas deixa europeus e americanos sedentos por provar desses sabores. Em cada esquina vemos árvores que teimam em viver em solos de concreto, florescendo em todas as cores, embelezando nossas alamedas. Somos um país verdejantemente rico!

Ainda assim... estamos vivendo uma crise absurda de falta de água. Não é apenas em Itu, embora aqui esteja realmente uma calamidade (não pública rs)! As notícias sobre o desmatamento na Amazônia são estarrecedoras. Engana-se quem acha que isso não tem nada a ver com as mudanças climáticas e com a falta de água. Pura miopia e falta de informação! O brasileiro não aprendeu – como aquele jovem do início de minha história – que é preciso cuidar. Infelizmente, algo que poderia ser uma vantagem tornou-se um fardo. Ganhamos de graça e por isso não soubemos dar valor. E as consequências batem forte à nossa porta!  O que estamos vivendo hoje é consequencia de decisões errôneas tomadas há muitos anos!!! O problema não é de agora!!!

O que mais precisará acontecer para que o governo brasileiro acorde para isso? A necessidade urgente é de reparar os danos que foram feitos, e não de ampliá-los. Embora eu não seja o tipo que fica apenas culpando governos, eu acho sim que aberrações foram feitas em nível nacional e local. Omissões, decisões equivocadas, gestão por interesses pessoais, enfim... uma conta cara que o brasileiro está pagando!

Por outro lado, sei também que um país é feito por todos e que, enquanto cidadã, eu também tenho muito a evoluir. Essa crise de água em Itu - a cidade que há 15 anos escolhi para viver - tem mexido muito comigo. Percebi que, apesar de ser cuidadosa, eu poderia estar fazendo muito mais! Tenho aprendido, mudado hábitos, dado mais valor às pequenas coisas. Minha consciência se ampliou. Ainda há muito desperdício na maneira de tratar a água na minha casa. Por exemplo, usar água limpa na privada é puro desperdício! Mas quem pensava nisso? Que casas foram construídas com o princípio de reutilização de água? Este é apenas um pequeno exemplo que se somado aos exemplos de milhões de brasileiros poderia fazer grande diferença.

Voltamos àquele jovem israelense que sempre soube que para uma árvore viver é preciso cuidar. Acredito que temos muito a aprender com ele. Valorizar a tarefa humana de semear, colocando-nos como agentes ativos da vida é uma tarefa que deveria ser ensinada a todas as crianças, em casa e na escola. Honrar a água que habita nosso planeta em seus rios, lagos e mares - lar de tantas espécies animais, vegetais e minerais - deveria ser algo tão natural como tomar oito copos de água por dia. Cuidar de nossas águas internas, trazendo fluidez para nossas ações, valorizando toda a vida que nos cerca, poderia ser a prática de nossas manhãs.

Nosso país é abundante. Nossa natureza é abundante. Nossa beleza é abundante. O Brasil tem tudo! Mas por favor.... que não nos esqueçamos desse precioso ensinamento: é preciso aprender a cuidar! A hora de começar é já! Nos pequenos hábitos, nas grandes decisões, como cidadão, eleitor, pai, mãe, professor. Que este grande Brasil tão diverso, de tantas raças e cores, com tantas árvores e flores, possa mostrar sua grandeza pacificamente, nas ações conscientes de seu povo. AMÉM!
 

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