Cultura

Publicado: Terça-feira, 6 de outubro de 2015

O SUMIÇO DO MUNDO - Capítulo 1

Cenário dos acontecimentos
O fenômeno inexplicável


ENTREVISTA

Tive o privilégio de comandar o inquérito oficial sobre o Sumiço do Mundo. Nessa posição, tomei conhecimento pormenorirado dos acontecimentos, alguns dos quais classificados como informação relativa à Segurança Nacional e, portanto, vedados à divulgação pública. Foi contudo a leitura desta reportagem impressionante que me revelou toda a dimensão do fenômeno. Enquanto a Comissão Emergencial de Investigação de Fenômenos a Identificar (CEIFI) se empenhava em descobrir suas causas físicas ou metafísicas, o relato do jornalista Carlos Knapp não procura explicações para o inexplicável. Ocupa-se do destino de uma ínfima fração da humanidade que, como náufragos perdidos no espaço e no tempo, tinha escassas possibilidades de sobreviver.
Não sou daqueles que procuram no sobrenatural e no misticismo a causa dos mistérios que não sabemos deslindar. Só sei que nada sei, disse um filósofo, já não me lembro se foi Sócrates ou outro. Se não sabemos explicar o que aconteceu em 2007, podemos pelo menos aprender a lição. Aprender a ser humildes.

Almirante Franchotone Pereira Miranda.


Cenário dos acontecimentos

Na latitude 23° 46’ 41” S, longitude 45° 21’ 29” W, a Serra do Mar projeta uma de suas ramificações em direção à costa e lá afunda no mar. Mas logo em seguida ela reaparece (neste ponto, convém mudar o tempo dos verbos para o passado:) ela reaparecia, erguendo-se como uma ilha majestosa de montanhas altas, íngremes e intensamente verdes. Era a Ilhabela, onde a mesma floresta tropical da Serra se reproduzia, com as mesmas espécies vegetais e animais, apenas modificadas pela proximidade do mar. Das encostas brotavam centenas de nascentes cujas águas não chegavam a formar rios; elas iam caindo, tropeçando nas rochas, formando cascatas e piscinas naturais. O perímetro da ilha media 130 km e a população se concentrava à margem do estreito que separava a ilha do continente e do porto de São Sebastião. O lado oposto, voltado para o mar aberto, era bastante acidentado e apenas povoado por comunidades caiçaras. O interior da ilha pertencia à floresta e seus bichos, ali não morava ninguém.

Américo Vespucio, enviado em expedição pela coroa portuguesa dois anos depois da descoberta das terras de Santa Cruz, chamou a ilha de São Sebastião, o santo do dia em que nela desembarcou. Não tinha como saber que os índios Tupinambás a chamavam Ciribaí. Em 1805, seu único povoado foi elevado à Vila e batizado de Vila Bela da Princesa, numa possível homenagem à princesa da Beira, Maria Teresa de Bragança, filha primogênita de D. João VI que, fugindo de Napoleão, abandonara Lisboa em 1808 para instalar sua corte na colônia Brasil. O nome da ilha passou então a ser confundido com o nome da Vila, abreviado para Vila Bela. Em 1939, o presidente Getúlio Vargas decretou que a ilha se chamaria Formosa, mas esse decreto não pegou. A partir de 1944, foi adotada a denominação Ilhabela. Digamos que este passou a ser o nome da Vila e o apelido da ilha, que geograficamente continuava conhecida pelo nome que Vespucio lhe dera, São Sebastião.

Durante 300 anos, desde a metade do século XVI, a Ilha de São Sebastião ou Ilhabela serviu de base para os piratas ingleses, franceses e holandeses que costumavam pilhar as naus e os povoados da costa e se refazer nas abrigadas enseadas e baías do lado de fora da ilha. Os ingleses Edward Fonton, Thomas Cavendish e o francês René Dugay-Trouin foram os mais notórios desses corsários. Conta-se que eles costumavam esconder fabulosos butins na ilha e isto vinha alimentando a imaginação de caçadores de tesouro que, munidos de mapas cifrados, cavoucavam as areias e procuravam cavernas ocultas na Baía dos Castelhanos, no Saco do Sombrio e na Praia da Serraria.

Mais realistas eram os caçadores de tesouros submersos. Os últimos cem anos registram um número incomum de naufrágios na extremidade sul da ilha. Há quem acredite que as montanhas de Ilhabela emitiam um poderoso magnetismo que, nos dias de cerração e nas noites de borrasca, era capaz de desviar as bússolas de bordo, levando os barcos a perder o rumo e se chocar contra os rochedos das pontas da Pirabura, do Boi e da Sepituba. O fato é que o lugar, que alguns gostavam de chamar “triângulo das Bermudas brasileiro”, era um cemitério de navios, com as carcaças de mais de 100 embarcações de todos os calados, entre elas 23 navios de grande porte. Era também o paraíso dos mergulhadores à cata de objetos de valor.

A cana-de-açúcar e o café determinaram a prosperidade econômica da Ilhabela no século XIX. Em 1836, havia 7 engenhos, 15 alambiques e 32 fazendas de café na ilha. O comércio dos escravos, que eram descarregados, “tratados” e revendidos na ilha, contribuía para a riqueza do lugar. Foi a abolição da escravatura em 1888 que, ao acabar com o tráfico e o uso da mão de obra gratuita, precipitou a decadência da ilha. A construção, em 1863, da ferrovia que ligou São Paulo ao litoral desenvolveu o Porto de Santos, anulando toda a significação comercial que Ilhabela e São Sebastião chegaram a ter.

Em 1920, não havia mais do que 8.000 moradores na ilha. Em 1948, o recenseamento contou 5.000, quase todos caiçaras dedicados à pesca e à agricultura de subsistência. Não havia nenhum carro nesse lugar desprovido de estradas e a comunicação com o continente se fazia por um serviço de lanchas que saía de São Sebastião, cruzava o estreito e parava em dois ou três pontões antes de chegar ao ponto final, o embarcadouro da Vila.

Ilhabela não foi poupada pela afluência turística que, dos anos 50 em diante, ocupou toda a costa norte do estado de São Paulo. Entretanto sofreu uma ocupação mais lenta e, aparentemente, menos selvagem. Para atravessar o braço de mar existia um serviço de balsas, com longas filas de espera que cresciam nos fins de semana e dissuadiam até certo ponto o turismo de massa. A discriminação era ostensiva: os ônibus lotados de turistas de um dia, os chamados farofeiros, só podiam abordar as balsas mediante licença especial requerida com três dias de antecedência e, se chegassem a desembarcar, deviam ficar confinados num estacionamento-gueto; não podiam circular. A ilha dispunha também de uma formidável defesa natural contra intrusos: o borrachudo, atrevido mosquito endêmico que perfura insaciavelmente a pele dos banhistas, provocando pruridos insuportáveis e inflamação. São incontáveis as pessoas que, ou por terem sofrido essas picadas, ou por conhecerem o sofrimento que elas infligiam, se recusavam a desembarcar na ilha e espalhavam a má reputação do inseto.

Uma estrada foi construída de norte a sul, bordejando o Canal do Toque-Toque, o canal de São Sebastião. Ligando os novos bairros e aglomerações, era a rua principal e quase única da ilha. Só havia uma outra estrada, aquela que cortava a ilha de oeste a leste. Não pavimentada, ela subia e descia montanhas íngremes, atravessava matas fechadas, passava corredeiras e chegava à Praia dos Castelhanos, morada de alguns caiçaras e conhecida como o mais forte reduto de borrachudos.

A urbanização da Ilhabela estava sujeita a severos regulamentos. Por isso, não se avistavam edifícios de mais de dois ou três andares. As terras acima da cota de 150 m pertenciam à reserva florestal e nelas não era permitido construir. Contudo, as encostas de frente para o estreito ostentavam imponentes residências equilibradas sobre pilotis. Para edificá-las foi preciso rasgar o terreno e concretar taludes, abrir e pavimentar acessos às vezes tão inclinados que só veículos 4x4 podiam galgá-los. Essa agressão à natureza parecia ser compensadora porque, do alto dos terraços de suas casas, os proprietários desfrutavam de uma deslumbrante vista das praias a seus pés, do estreito com o seu movimento de navios, com a imponente Serra do Mar ao fundo.

Impressionavam bem mais as propriedades que existiam nas adjacências das praias. Algumas exibiam magníficos jardins irrigados e floridos, emoldurando suntuosas residências que podiam ser de estilo barroco, colonial, moderno, rústico, greco-romano ou indefinido, e nada ficavam a dever às mansões do Guarujá e dos bairros jardins de São Paulo, ou às casas de veraneio da Flórida. As propriedades situadas junto ao mar, de frente para a praia ou cavalgando rochedos, tinham o privilégio de “possuir” uma fatia da paisagem fronteira. Muitas realmente se apropriavam do pedaço, construindo piscinas, decks, edículas e pontões de embarque em território público. Legalmente, a faixa que avança 33 m terra adentro (contados desde o início da vegetação que cresce depois da areia ou das pedras) pertence à Marinha Brasileira. Mas esta raramente reclama devolução.

A sucessão de propriedades ao longo da costa acabava fechando o acesso a certas praias, que ficava reduzido a poucas e estreitas passagens para pedestres caminhando em fila indiana entre cercas e muros. Esse “costume”, assim como o desrespeito à faixa da Marinha, não era notado apenas na Ilhabela, ele se repete em numerosas praias do país, especialmente aquelas muito procuradas e sujeitas à especulação. O Brasil pertence a todos os brasileiros, mas bem mais aos brasileiros ricos.

A população de Ilhabela, estimada em 23.886 habitantes em 2007, era composta principalmente de famílias de pescadores, trabalhadores não qualificados, pedreiros, carpinteiros e marceneiros; pintores, operários da prefeitura, pequenos comerciantes, fiscais e guardas de segurança; caseIros, domésticas, garçons, cozinheiros, arrumadeiras, faxineiros, jardineiros, funcionários da administração municipal, professoras primárias, militares aposentados, balconistas, coletores, motoristas, eletricistas, mecânicos de automóvel, reparadores de eletrodomésticos, costureiras, manicures, cabeleireiros e gerentes diversos. Havia também a população flutuante dos turistas que lotava a ilha no verão e atraia todo um séquito de vendedores ambulantes, oportunistas e gatunos.

Poucas dessas famílias tinham o privilégio de viver confortavelmente nos lugares aprazíveis. A maioria morava em casas pequenas e feias, longe dos olhos do turista. Este, passeando pela estrada/rua principal, percorria um cartão postal panorâmico da ilha. Passava pelas mansões de praia e de encosta, por hotéis de quatro ou cinco estrelas e pousadas aconchegantes; restaurantes, bares de praia, lojas de suprimentos para barcos e piscinas, pizzarias, sorveterias e imobiliárias, imobiliárias e mais imobiliárias. Passava também diante de dois iate-clubes com seus píers e ancoradouros repletos de esplêndidas lanchas e veleiros.

A antiga Vila Bela deixara de ser o centro comercial da ilha que se deslocara para o bairro do Perequê, onde a desordem de lojas de todo tipo e tamanho, ostentando letreiros e ofertas berrantes na luta pela freguesia, fazia lembrar que estávamos no Brasil. A Vila em si estava transformada num shopping center horizontal a céu aberto, composto de butiques de luxo, lojas de artigos de grife, cafés finos, tabacaria, uma boa livraria, restaurantes elegantes, enfim, não era mais o lugar onde a maioria da população podia fazer compras.

O fenômeno inexplicável

Quando as nuvens baixam sobre a serra, baixavam também sobre a Ilhabela, cobrindo os seus picos mais altos. Às vezes as nuvens baixavam tanto que se deitavam como um lençol sobre a superfície do mar, entre a ilha e o continente. O nevoeiro ficava então tão espesso que toda a navegação no estreito era interrompida.

Ninguém jamais esquecerá aquela quinta-feira de inverno, 9 de agosto de 2007. Fazia frio mas o céu estava azul e limpo. No fim da tarde, uma nuvem branca penetrou no canal pelo norte e rasteira, deslizando sobre as águas, foi avançando até preencher inteiramente o espaço entre a terra e a ilha. E assim ficou, ocultando tudo. A cerração era extraordinariamente forte. Mesmo com os faróis acesos, os carros e caminhões não se atreviam a circular pelas ruas de São Sebastião. O serviço das balsas foi suspenso até que as condições meteorológicas melhorassem, o que podia tardar horas, como em tantas outras vezes.

Mas a interrupção da travessia perdurou a noite toda. Das quatro balsas em serviço, duas estavam atracadas na ponte de embarque, sendo que uma fora detida quando ia zarpar com a lotação de carros completa. Seus motoristas impacientes não tiveram mais remédio que esperar.

Como todas as noites, a viúva D. Genuína Silva (46) esperava para jantar Gesualdo (21), seu filho único que trabalhava na Ilhabela como frentista de um posto de gasolina. Ele sempre ia e vinha de bicicleta; a travessia não demorava mais do que 20 minutos. Ela já sabia que ele estava retido na ilha, mas depois das 23 horas começou a se inquietar. Aí ele telefonou, para dizer que a cerração não estava com cara de acabar logo e que iria dormir na casa de um colega para poder pegar no serviço logo cedo no dia seguinte. Justamente quando ela perguntava se ele tinha jantado, o que tinha comido, a ligação caiu e no mesmo instante ela percebeu um leve tremor. Foi nítido, ela estava justamente olhando para um copo cheio sobre a mesa e viu a superfície da água tremer. Mas isso podia ter sido efeito da passagem de uma jamanta na avenida. D. Genuína ficou com o celular na mão, esperando o restabelecimento da ligação, o que não aconteceu.

Alguns outros moradores de São Sebastião também notaram mas não deram importância ao leve tremor, entre 23h20 e 23h30. Entretanto, muitos telefonaram para a Embratel e a Telefônica para reclamar providências – e mais ou menos a partir daquela hora, ninguém mais conseguiu falar com qualquer número de Ilhabela, fosse telefone fixo ou celular.

Perto da meia-noite, o vigia da balsa lotada de carros observou um imprevisto crescimento da maré e o progressivo encapelamento do mar. Foi até o alojamento e avisou:

— Mestre, vai haver uma ressaca das brabas.

— Chame o pessoal para desembarcar os carros. Não quero encrenca – respondeu o mestre, que virou de lado no catre e continuou a dormir.

Às 5 horas, no passadiço do petroleiro Maembipe, que tinha atracado no cais flutuante da Petrobrás um pouco antes que a cerração paralisasse a movimentação do porto, o imediato Jesus Tanaka Cohen (42) terminava o seu quarto e registrava no livro de ocorrências que o mar estava muito grosso e, para evitar o risco de derramamento, conforme as normas de segurança, mandara desligar as bombas de transbordo de petróleo. Hesitou um pouco e acrescentou: “A névoa dissipou-se. A boreste avistamos a iluminação do porto e da cidade de São Sebastião. Mas a bombordo, nenhuma luz. Um apagão estranho. Outrossim, não se avista a ‘árvore de Natal’ que estava fundeada junto à ilha”.

Ele aludia à ausência do transatlântico Costa Chimera, da Linha C, que parecia ter zarpado sorrateiramente no período em que toda a navegação no estreito estava suspensa. Esses mastodônticos navios faziam periodicamente escala na Ilhabela e estavam sempre feericamente iluminados.

Ao clarear do dia, os poucos pescadores do Saco de São Francisco, que tinham saído horas antes, estavam todos de volta, e assustados – não se lembravam de ter visto aquele pedaço de mar tão agitado e, de qualquer modo, tão vazio de peixes. Ventava tanto que era inútil tentar acender velas no pequeno oratório de São Pedro cavado na parede do galpão da cooperativa de pesca.

A polícia começou a receber telefonemas e o sargento de plantão ligou para o delegado:

— Doutor, temos problemas na ilha.

— O que é?

— Não sei.Tem apagão de luz e telefone. O nosso rádio não responde.

— Mande já prá lá uma viatura.

— Certo, mando na primeira balsa que sair.

Uma parte dos motoristas que não puderam atravessar o estreito desistira da viagem e voltara a São Paulo. Outros tinham se recolhido aos hotéis da cidade. Os que ficaram dormitando nos seus carros, estacionados em terra firme, acordaram cedo, na esperança de poder reembarcar logo. Alguns deles foram ver se a ressaca diminuíra e se aproximaram da balsa, que oscilava e rangia intensamente. Ela estava com o motor desligado e sem tripulação. De repente, um dos homens apontou para o mar e gritou:

— Meu Deus, cadê a ilha?!

Todos correram para o parapeito. E na contraluz da aurora contemplaram sem entender a ausência espantosa. O cenário, antes dominado pelas majestosas montanhas de Ilhabela, estava vazio. A uns 500 m estava o Maembipe, balançando junto com o terminal flutuante da Petrobrás. Depois dele não havia mais nada, apenas uma linha de horizonte entrecortada pela elevação das vagas que buscavam aquela costa pouco habituada a tamanha agitação. Alguém riu nervosamente e arriscou:

— Ilusão de ótica.

Menos de duas horas depois todas as emissoras de rádio e televisão do país interrompiam seus programas para noticiar que “nesta madrugada um tsunami se abateu sobre o litoral paulista tragando a Ilhabela”, informação logo corrigida por outra, mais aterradora, “a Ilhabela afundou sem deixar vestígio”. O helicóptero da Rede Globo foi o primeiro a obter permissão para chegar perto da zona do sinistro, porque sobrevoar mesmo só a FAB podia. A bordo, o repórter indicava o lugar onde, até a noite anterior, sempre estivera a grande ilha e assinalava os dois rebocadores da Marinha que, muito cautelosamente, tomavam posição ao norte e ao sul do estreito que já não existia, talvez para disciplinar a retirada dos navios que deixavam apressadamente seus ancoradouros. Enquanto as equipes de reportagem não chegavam ao local para investigar os acontecimentos e entrevistar as autoridades, não havia muito o que dizer e as emissoras de TV mostravam cartões postais da ilha e imagens de arquivo, dando alguns dados históricos e físicos copiados de folhetos turísticos ou da Wikipédia.

A grande preocupação era a possibilidade de o fenômeno se repetir, qualquer que fosse ele – tsunami, maremoto ou fratura tectônica, o que vem a dar no mesmo. A Defesa Civil mobilizou-se para proteger a população de São Sebastião e mandou divulgar pelas rádios locais e os serviços de alto-falantes que o acesso à orla marítima estava interditado, aconselhando que todos se refugiassem nos morros e nas partes altas da cidade. Isto provocou um início de pânico, pondo a correr uma multidão que, a pé, de carro ou bicicleta, carregava eletrodomésticos, sacolas, trouxas e crianças de colo. Mas também houve um movimento contrário, de gente que, a despeito da orientação da Defesa Civil, passou a se concentrar no Aterro, entre a Rua da Praia e o mar, assim como no pontão das balsas. No começo eram moradores da cidade, perplexos, ansiosos, querendo saber de parentes, amigos, interesses que tinham na ilha. Pouco a pouco, à medida que diminuía o medo e a divulgação aumentava, a Rua da Praia foi se enchendo de populares, jornalistas, fotógrafos, cinegrafistas, correspondentes estrangeiros e muitos, muitos curiosos que chegavam de fora em avalanche para documentar e testemunhar aquilo que ainda nem sabiam o que era, só sabiam que devia ser grande.

Foi uma comoção nacional. O espanto estava em todas as expressões. As empresas dispensaram o pessoal, o comércio fechou, os templos de todos os credos se encheram, pessoas desconhecidas se abraçavam nas ruas. Os jogos do campeonato brasileiro foram suspensos e os shopping centers ficaram desertos. Depois de alguma deliberação, as emissoras decidiram levar ao ar, assim mesmo, os capítulos das novelas programados para aquela noite. De acordo com os psicólogos consultados, era uma forma de comunicar um pouco de tranquilidade à população, uma forma de dizer: aconteça o que acontecer, a vida continua.

Na mídia internacional, onde explodiu quase que simultaneamente com a brasileira, a notícia causou um assombro só comparável à destruição das torres gêmeas de Nova York em 11 setembro de 2001 e ao grande tsunami da Indonésia de 26 de dezembro de 2004. A diferença é que estas duas catástrofes tinham causas e efeitos claros, enquanto a desaparição súbita de uma ilha marítima, de 348 km2 de extensão, com picos de mais de mil metros de altura, era um mistério fechado, que prometia alimentar por muito tempo os jornais, revistas, rádios e televisões do mundo inteiro.

O SUMIÇO DO MUNDO
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