Opinião

Publicado: Quarta-feira, 30 de abril de 2014

Comer é um ato político

por Ines Trost.

Crédito: Arquivo Pessoal Comer é um ato político
Decisões são sempre atos políticos, pois através delas sinalizamos o que achamos bom ou não, incentivando ou desestimulando assim os diversos elos da cadeia produtiva de alimentos.

Alimentar-se, assim como outras atividades, pressupõe escolhas: qual fruta/legume/verdura eu prefiro? Carne vermelha ou branca? Vegetarianismo ou veganismo? Comprar hortifrutis na feira ou no supermercado? Comer em casa ou no restaurante? Cozinhar ou chamar alguém que o faça por nós? Decisões são sempre atos políticos, pois através delas sinalizamos o que achamos bom ou não, incentivando ou desestimulando assim os diversos elos da cadeia produtiva de alimentos. Se comprarmos produtos hortícolas na feira é sinal que valorizamos alimentos frescos, e a feira tende a se expandir, já se compramos uma pizza pronta no supermercado o fabricante saberá que preferimos comida industrializada, e vai procurar oferecer novos sabores. Se nos alimentamos majoritariamente em lanchonetes e restaurantes, estes vão se multiplicar para satisfazer a demanda; já se cozinhamos em casa, a loja de utilidades para a cozinha procurará oferecer sempre novidades para os chefs em potencial.

Há um jornalista americano chamado Michael Pollan que há três décadas pesquisa a nossa cadeia alimentar e já publicou vários livros a respeito. Num recente vídeo ele nos alerta que através da forma como são preparados/processados os alimentos que consumimos também determinamos o tipo de agricultura que produz estes alimentos. Para exemplificar ele relata de onde vem as batatas usadas pelo Mac Donald’s nos EUA, que só utiliza o tipo Russet Burbank por ser uma batata grande e alongada que permite a obtenção de palitos longos que ficam bonitos na embalagem, parecendo um buquê. Esta batata, porém, é extremamente vulnerável a uma necrose que afeta a casca e o miolo da batata, provocado por um vírus disseminado por um ácaro. Para combater este último usam-se inseticidas tão fortes que os próprios agricultores não se aproximam da lavoura tratada durante cinco dias – isto quando não se usa a espécie transgênica. Além disso, usam-se agrotóxicos sistêmicos, ou seja, são aqueles misturados à terra durante o plantio e que exigem no mínimo 150 dias de espera até a colheita (dizem que daí perdem sua toxicidade...). Considerando os grandes volumes que o Mac Donald’s compra dá para imaginar quantas monoculturas e quantos agrotóxicos são usados só para contentar a demanda dele. Assim, ao consumirmos batatas fritas do MD estamos estimulando este tipo de agronegócio.

Um parênteses: Em geral se usa muita soja e muito milho (e seus derivados) na produção de comida industrializada, pois são ingredientes relativamente baratos, já que são produzidos em imensas monoculturas totalmente mecanizadas, e geralmente transgênicas. A indústria alimentícia alega que usando ingredientes baratos colabora para acabar com a fome no planeta, mas nem sempre é bem assim, pois com freqüência substituem ingredientes caros por estes mais baratos, sem, no entanto, reduzir o preço de acordo (por exemplo, o chocolate feito com gordura vegetal – leia-se soja – em vez de manteiga de cacau, que é bem mais cara).

A opção para quem não quer incentivar o agronegócio com todos os problemas ambientais que gera (avanço sobre as florestas, empobrecimento do solo, uso desenfreado de agrotóxicos devido à monocultura, etc.), nem as grandes indústrias alimentícias com seu imenso poder de negociação (junto a governos e produtores) e fortíssima influência sobre os consumidores desavisados (através de propaganda desonesta do tipo: produtos X tem todas as vitaminas de que seu filho precisa) é não somente preparar suas refeições em casa, como também escolher ingredientes de procedência conhecida, como os orgânicos que passam por um processo de certificação.

A agricultura orgânica, além de não empregar agrotóxicos, é sempre feita em pequena escala e em propriedades que preservam uma parte de mata, pois é esta que protege as águas e dá abrigo aos insetos polinizadores.

Se você prefere estimular este tipo de agricultura, vá às compras na feira de produtos orgânicos e artesanais de Itu, que acontece todos os sábados das 9 às 12 horas, no Bosque Alceu Geribello (esquina das ruas Niterói e Florianópolis, no bairro Brasil). Sua saúde e o planeta agradecem!!

Inês Trost vive atualmente em Itu. É socióloga que se dedica às questões de sustentabilidade - do meio-ambiente, da sociedade e do indivíduo. É empreendedora no ramo de produtos orgânicos e uma ativista desta causa. É também colunista do itu.com.br, com a coluna Sustentabilidade.

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