Cultura

Publicado: Quinta-feira, 10 de março de 2011

Dia do Bibliotecário: valorizando as páginas do conhecimento

Uma profissão que educa e encanta.

Crédito: Arquivo Pessoal Dia do Bibliotecário: valorizando as páginas do conhecimento
'É importante destacar a função do bibliotecário como agente de transformação social'

Por Camila Bertolazzi

"O único lugar que preservo de todos é a minha biblioteca, pois através das minhas leituras conhecerão os meus segredos". As palavras do general Golbery, chefe da Casa Civil do governo Figueiredo, são umas das poucas alusivas à importância de uma profissão raramente valorizada num país onde a média de leitura anual da população é de 4,7 livros - incluindo a Bíblia e livros didáticos e técnicos, segundo pesquisa feita em 2008 pelo Instituto Pró-Livro.

Outro estudo foi realizado - em 2007 - com 5.012 pessoas em 311 municípios brasileiros, e constatou que 45% dos entrevistados se declararam não-leitores, pois nos últimos três meses não tinham lido um livro. A mesma pesquisa confirmou que as mulheres leem mais que os homens: 5,3 contra 4,1 por ano.

Esse número só não é pior graças a projetos independentes como a Biblioteca Comunitária “Prof. Waldir de Souza Lima”, um exemplo vivo de energia, talento e boa vontade, que reúne jovens voluntários desde março de 2008. O espaço abriga dezenas de eventos culturais, além do acervo de livros que cresce a cada dia, através de doações.

Ou por causa de pessoas como Manuel Bastos Tigre que, em 1915, aos 33 anos, deixou a engenharia para devotar sua vida aos livros e à biblioteconomia. Anos depois, em 1958, um decreto do governo escolheu 12 de março – data do seu nascimento – como o Dia do Bibliotecário. Manuel exerceu essa profissão durante 40 anos, e é considerado o primeiro bibliotecário concursado do Brasil.

Mais de meio século depois, quase nada se vê em comemoração a essa data e pouco se sabe sobre a profissão. “Ainda que seja uma função desconhecida de muitos brasileiros, o bibliotecário administra e gerencia a informação, esteja ela registrada em livro, audiovisual ou arquivo digital; seja a informação produzida em uma universidade, biblioteca pública ou empresa. É também o profissional responsável pela orientação ao usuário sobre as melhores formas de localização, acesso e seleção desse material”, esclarece a bibliotecária ituana Maria Cristina Monteiro Tasca.

Segundo a profissional que atua na organização dos acervos biblioteconômicos do Museu Republicano “Convenção de Itu” - extensão do Museu Paulista – desde 1995, atualmente, em meio à explosão da informação, o conhecimento técnico e científico do bibliotecário tem sido muito utilizado. “Você encontra esse profissional, por exemplo, auxiliando tomadores de decisão em empresas, ajudando o cidadão comum em suas necessidades informacionais diárias, na concepção de bancos de dados, na gestão da produção científica; enfim, onde houver conhecimento registrado, haverá necessidade de um bibliotecário para organizá-lo e torná-lo acessível”, explica.

E quem optar por seguir essa profissão dificilmente ficará desempregado, afinal há demanda comprovada para os profissionais da informação, especialmente nas grandes universidades e centros de pesquisas. No Brasil, entretanto, o bibliotecário está longe de ter lugar de destaque. “Muitos jovens se surpreendem com a exigência de graduação universitária para o exercício da profissão. O desconhecimento da mesma e o ‘baixo status’ acabaram por afastar a biblioteconomia das opções para uma carreira próspera”, conta Tasca.

Por outro lado, ela explica que durante os 25 anos nessa área, teve o prazer de acompanhar as mudanças tecnológicas. “É fantástico quando solicito parte de um livro, por exemplo, da Biblioteca da Universidade de Sevilha, na Espanha, e recebo em poucos minutos”. E completa: “Isso me faz lembrar as antigas correspondências utilizadas pelos intelectuais para troca de conhecimento e do quanto nós ganhamos com as recentes tecnologias da informação. A integração de todas as mídias é fundamental para atingir as expectativas do usuário contemporâneo, sempre muito exigente e apressado. Basta fazer bom uso de todos esses equipamentos, realizando trabalhos honestos e de qualidade”.

São sete os principais tipos de bibliotecas com características distintas e que atendem a públicos específicos: especializadas, escolares, públicas, comunitárias, infantis, empresarias e universitárias. Cada uma possui seus próprios regulamentos. Em Itu, na biblioteca da USP especializada em História da Primeira República Brasileira, qualquer cidadão pode consultar as obras e estudantes cadastrados podem fazer empréstimos - em sua maioria, alunos e professores de graduação e pós-graduação. Há restrições somente para obras raras ou pertencentes a coleções especiais. “Essas poderão ser acessadas na própria sala de pesquisa, com cuidados especiais no manuseio, considerando a necessidade de preservação dos originais”, explica a bibliotecária.

De acordo com Tasca, não há biblioteca circulante que nunca tenha tido um volume desaparecido. “Tomamos todos os cuidados para que isso não ocorra. Na biblioteca onde trabalho, temos portão eletrônico, alarmes, fechadura eletrônica e registros de circulação. Faz parte ainda desse rígido controle, o inventário anual automatizado, através do qual mapeamos toda a coleção”.

Nesse exato momento, muitos pesquisadores estão fazendo uso de informações coletadas com o auxílio de um bibliotecário, muitas crianças e jovens estão lendo um livro indicado por um bibliotecário, muitos empresários estão negociando com informações obtidas por bibliotecários. Na sociedade do conhecimento, eles estão por toda parte. “É importante destacar a função do bibliotecário como agente de transformação social. É também nossa a função de facilitar o acesso à informação, orientar e promover o desejo pela aprendizagem, pela busca de novos conhecimentos que possam, em última instância, proporcionar melhor qualidade de vida”, conclui.

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