Opinião

Publicado: Quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Fábio Steinberg - Jornalismo 2.0

Crédito: Arquivo Pessoal Fábio Steinberg - Jornalismo 2.0
"Jornalismo 2.0 é um conceito revolucionário que coloca em xeque uma velha atividade"
Jornalismo 2.0 - quem tem certeza daquilo que não vê?

Houve uma época que o jornalista era o dono da verdade. Escrevia o que queria e ponto. Ninguém discutia. Aí veio uma segunda fase, a da interação com o leitor, onde a sessão de cartas ganhou um prestígio exagerado e inusitado. Quase sempre de forma gentil e sempre cerimoniosa, eram quase sempre elogios, complementações, e uma ou outra crítica velada. O jornalista ainda era rei do pedaço, jamais confrontado.
 
Pois a sopa acabou. Ponha se quiser a culpa na internet, que derrubou barreiras físicas e psicológicas, democratizou o acesso, e deu asas e poder a cada mortal para escrever o que pensa e questionar o que bem entende. Neste novo contexto, o jornalista nunca esteve tão exposto e patrulhado como agora. Um deslize seu pode representar a desgraça profissional, talvez um exagero ou injustiça como proferir sentença de morte para um reles ladrão de galinha.
 
Mas jornalista vai reclamar? Com quem? Afinal, internet não tem dono. Com isto ganha a imprensa que fica mais atenta e menos arrogante, e que em compensação leva de brinde a participação intensa e o feedback honesto e imediato do trabalho. Mais que isto, ganha uma colaboração intensa do leitor, que mostra na bucha e sem sutilezas se gostou ou não do que leu. Seja ao dar as costas para o texto sem dó nem piedade. Seja ao complementar ou corrigir generosamente com informações preciosas o que foi escrito. Seja ao debochar da forma mais irreverente a pieguice, a falta de apuração de uma informação, e até mesmo a eventual leviandade de um comentário infeliz de um jornalista.
 
Diferente do que o termo pode indicar, Jornalismo 2.0 não é simplesmente um novo release que incorpora aperfeiçoamentos ao que já existia. É um conceito revolucionário que coloca em xeque uma velha atividade. Como um divisor de águas, espécie de mar vermelho do jornalismo, em uma margem ficaram para trás os egípcios que represem a velha e previsível sociedade, e do outro os hebreus, que terão que construir do nada um novo mundo. O que vem pela frente, ninguém com um mínimo de sabedoria e consciência consegue responder. Apenas os tolos, falsos arautos da nova era, e que por isto sabem e tem certeza de tudo, têm a resposta pronta na ponta da língua.
 
Fabio Steinberg é formado em Jornalismo e Administração. Metade dos seus 36 anos de carreira foi dedicado à IBM Brasil. Tornou-se depois Diretor de Comunicação Corporativa e de Marketing da AT&T Brasil e presidente da Hill & Knowlton no Brasil, até assumir a Diretoria de Relações Externas da Rede Globo de Televisão. Colunista por um ano na revista Exame, é autor dos livros Ficções Reais (Editora Campus) e Viagem de Negócios (Panda Books). Atualmente, além de dedicar-se à consultoria em comunicação empresarial, escreve textos jornalísticos, artigos, e resenhas de livros. Edita a revista Viagem de Negócios e colabora para a revista Viagem e Turismo, ambas publicadas pela Editora Abril. Assina também dois blogs: Viagem de Negócios e Confissões de Um Consumidor e uma coluna no portal itu.com.br.  
 
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