"A Vida de Rafinha Bastos" revela novo ator e humor promissor
Série teve sua pré-estreia no FX.
Leandro Ferreira
Por Leandro Sarubo
O primeiro episódio da série "A Vida de Rafinha Bastos", exibido em pré-estreia no FX no dia 16 de junho, apresentou um interessante híbrido de ficção e realidade, modelo que provou, pelo menos neste piloto, ser capaz de arrancar risos, entreter e surpreender.
O projeto, idealizado pelo humorista, líder do Saturday Night Live Brasil (domingos, 20h30, RedeTV!), tem um atributo incomparável em relação aos demais projetos de comédia em exibição na TV aberta e paga. Se os atores algumas vezes decepcionam (falta presença de cena para alguns colegas de stand-up de Rafinha, mas nada que torne o show uma novela mexicana), o roteiro é bem alinhavado e o texto é ágil. As piadas fluem naturalmente, sem deixas aborrecidas ou dependência de cacos manjados. Um ganho e tanto em comparação à concorrência.
O tema da estreia, claro, foi a função "social" da piada. Como alegoria ficcional, a possibilidade de ruptura do casamento de Rafinha, alegoria esta apoiada por um importante ingrediente: a participação de Minotauro. Um dos pontos altos do episódio, o lutador se revelou mais talentoso e afeito às câmeras que a maioria dos intérpretes escalados para os grandes filmes brasileiros. É verdade que superar os protagonistas de, por exemplo, "E Aí, Comeu?" (Marcos Palmeira, Emilio Orciollo Netto e Bruno Mazzeo), película nacional que estreia dia 22 de junho nos cinemas, é fácil, porém é necessário lembrar que o ofício do campeão do UFC é outro, bem diferente.
Marília Gabriela, outra estrela em participação especial no episódio, puxou a ponta mais "realista" do capítulo. Em uma entrevista fictícia, ela aprofunda o mantra "a sociedade amansou a fera?" ao Rafinha da série. Desde a piada sobre Wanessa Camargo, contada durante o CQC, o país se colocou em uma questão filosofal e injusta. Além do processo lançado pela cantora, um direito legítimo dela, o comediante foi patrulhado incansavelmente. Até suas apresentações no Comedians Club, casa de shows lançada por ele, Ítalo Gusso e Danilo Gentili, alimentaram pautas para a "avaliação pública" de sua postura, a tentativa direita da sociedade "amansar a fera".
Rafinha não amansou na vida real. Reconheceu que a piada foi ruim - foi mesmo - mas limitou a reação a esta constatação. Seu argumento: piada é piada. Argumento direto e bastante aceitável. O Brasil, porém, sempre teve problemas com conceitos diretos. A existência de Mestres e Doutores para justificar a importância do Carnaval ou do voto obrigatório são bons exemplos deste problema de interpretação fisiológico. Na série, no entanto, ele tenta amansar. E com pílulas bem sutis, revela a verdade sobre o caso. Se a acidez de Rafinha cessasse, ele desapareceria. A Bastos (não o personagem) cabe um único desafio: não se tornar refém da própria agressividade.
Com treze episódios ao todo, a primeira temporada de "A Vida de Rafinha Bastos" faz sua estreia oficial apenas no segundo semestre, em mês a definir. Espero honestamente que o FX não demore. Porque não é sempre que uma série nacional lembra "Curb Your Enthusiasm". Em formato e qualidade.