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Publicado: Quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Qualidade de Vida e Sustentabilidade

Qualidade de vida e sustentabilidade são termos que se tornaram bastante usuais em diferentes meios de comunicação. Das propagandas de academias de ginásticas aos anúncios de condomínios, encontramos inúmeras  promessas  e receitas de como ter uma vida de qualidade. No entanto, poucas pessoas param para pensar na estreita relação entre o desejo de ter uma vida de qualidade e a questão da sustentabilidade. Enquanto “qualidade” não possui uma definição absoluta, sendo uma resposta subjetiva e pessoal, o termo “sustentabilidade”, importado da Ecologia, diz respeito àquilo que  se sustenta ao longo do tempo e do espaço, de forma dinâmica e viva.

Qualidade de vida, em um sentido mais amplo, envolve a saúde da pessoa, assim como a sua interação com o meio, as relações sociais, a vida afetiva, a situação financeira, lazer, sono, etc.  Ao buscar o condicionamento físico, as pessoas, de maneira geral, desejam melhorar a sua qualidade de vida. Como melhorar o condicionamento físico em uma cidade cujo ar é de baixa qualidade? Como encontrar nutrição adequada em alimentos sem sabor, pobres em nutrientes e ricos em agrotóxicos? Como recuperar a energia com uma boa noite de sono, se o silêncio, indispensável para atingirmos profundo relaxamento, é artigo cada vez mais raro? Como cultivar verdadeiras relações sociais em um tempo em que as amizades se tornaram virtuais? Por que buscamos morar em condomínios fechados com áreas verdes, enquanto nossas cidades se tornam cada dia mais cinzas?  Quando começamos a fazer essas perguntas, encontramos a conexão que geralmente nos passa despercebida.

Diferentes ecossistemas tem a capacidade de se manterem ao longo do tempo, porque todas as formas de vida ali presentes  usam o solo, a água, o ar e a energia, além de diferentes materiais que servem de alimento e abrigo, de modo a beneficiar a todos os seres vivos. A natureza não é cinza, pobre, desorganizada, nem desarmônica. É exatamente o oposto do que nosso estilo de vida moderno faz com os ambientes naturais e, consequentemente,  com as cidades.

Dentro do caos urbano, estamos conectados, mas sós. O desenvolvimento tecnológico nos deu a capacidade de falar  com o mundo todo e a incapacidade de nos conectarmos com nosso coração.  Ganhamos um estilo de vida também cinza, exatamente como fizemos com a natureza. Passamos a detestar a segunda feira, trabalhamos com coisas que não nos abastecem o coração e fugimos da cidade ao sinal do primeiro feriado. Tornamo-nos off-line de nós mesmos e por isso, buscamos áreas verdes, mar, céu azul e montanhas numa tentativa de nos re-ligar.

É a ampliação da percepção das relações entre a saúde do corpo e da mente e a saúde do planeta que convida à urgente transformação de nosso estilo de vida e, consequentemente, das inúmeras escolhas que fazemos no cotidiano. Temos o desafio de conciliar o desejo do  corpo e mente saudáveis e um meio de vida também saudável, porque é impossível a existência do primeiro sem o segundo. Trabalhar  somente por status e dinheiro  não nos mantém saudáveis.  Ter uma vida saudável pressupõe escolhas cotidianas dentro de um mercado que  precisa ser radicalmente transformado para nos oferecer produtos e serviços saudáveis, como nos lembra a economista Hazel Henderson.

Ao compreendermos que  nossas escolhas individuais afetam o mundo, que cada opção de compra afeta um ecossistema e que cada ambiente natural afetado prejudica nossa saúde,  vamos despertando desse torpor civilizatório. É impossível ser sustentável sozinho(a)! A qualidade de vida não é alcançada no caro isolamento dos  condomínios verdes. Corre-se o risco de morrer de tédio ou de solidão no meio de produtos orgânicos. É preciso revisar nosso modelo mental, harmonizar nosso estilo de vida, produção e consumo dentro de um planeta que nos ensina um modelo de cooperação, abundância, beleza e alta tecnologia  open source que pode ser compreendida e  desfrutada por nós.

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