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Publicado: Domingo, 26 de novembro de 2006

Amor, única arma contra os desequilíbrios

É interessante como devemos guardar reminiscências desde o tempo do útero materno. O amor que é dirigido ao embrião ou feto na gravidez no meu modo de entender, pode definir o temperamento da criança. Se nos adultos os sentimentos trazem reflexos profundos, imagine em alguém que está se formando física e psicologicamente. O nascimento tal como a morte já constitui um sofrimento diferente, mas igualmente profundo e o amor será o grande elemento que ajudará o recém-nascido a crescer com tranqüilidade, vigor e naturalmente propiciando o futuro adulto a passar por traumas com mais fortaleza e menos amargura.
Nunca esqueço de Marcos que aos dois anos ainda não falava nada. Por mais que a família insistisse e estimulasse  não dizia uma palavra e naturalmente sentia a ansiedade dos pais e familiares.
O pai era psicólogo, mas quando se trata dos próprios filhos torna-se um leigo e, além disso, o pediatra achava que não deveria haver precipitação e que cada criança reage de uma maneira. Mesmo assim os pais levaram Marcos a um profissional. Conversaram longamente e contaram a história do filho, suas reações, seu temperamento sensível e o Dr Gilberto abraçou a criança mostrando muitos brinquedos que encantaram o garoto. Ao final da consulta os pais se encaminharam para a porta e o garoto olhava muito para o psicólogo passando sua mãozinha na do Dr. Gilberto.
 Os adultos deram-se as mãos e se cumprimentaram.
-Boa tarde e obrigada.
E qual não foi a surpresa de todos quando marquinho que nunca tinha falado uma palavra pronunciou nitidamente as mesmas palavras que ouvira
- Boa tarde e obrigada.
O garoto falou com clareza e até hoje se admite a hipótese dele ter naquele momento ali no consultório conseguido transpor um bloqueio de insegurança. O fato é que daí em diante o pequeno passou a falar. Fala até hoje. È advogado e professor.
Assim como esse caso, já presenciei a história de uma menina linda, inteligente e alfabetizada muito cedo, que foi vítima de violência e passou seis meses sem conseguir pronunciar uma palavra. Creio que o caso dela foi um rompimento com o mundo exterior, já que sofrera uma dor muito grande. Talvez o trauma a impedisse de falar porque no seu inconsciente ficara armazenada a aflição do contato com um ser humano forte, covarde contra o qual se sentia impotente.
Só conseguiu falar seis meses depois com tratamento intensivo e principalmente muito carinho demonstrado por pessoas que lhe cercavam.
Creio que nossos pensamentos, vivências, e principalmente a forma com que começamos desde cedo a encarar a vida é o responsável pelo nosso verdadeiro eu, com suas cobranças, generosidade, compreensão ou amarguras que podem definir um caráter.
È muito sério a condução do caminho de uma criança que se tornará um adulto e que poderá semear o bem, a justiça, equilíbrio, amor ou se tornar alguém amargo e infeliz, com baixa estima exacerbada refletindo uma luz opaca de desamor que influirá então em outros seres humanos.
O amor é a única arma que poderá conter os desequilíbrios que o mundo prepotente sofre. Sem ele as crianças, fruto de uma educação fria e sem o calor da afeição se tornarão homens e mulheres infelizes e provavelmente violentos.
 
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