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Publicado: Segunda-feira, 20 de fevereiro de 2006

Atividades diversificadas visam à formação integral do aluno

"No processo de construção do conhecimento, as crianças se utilizam das mais diferentes linguagens e exercem a capacidade que possuem de terem idéias e hipóteses originais sobre aquilo que buscam desvendar. Nessa perspectiva, as crianças constróem o conhecimento a partir das interações que estabelecem com as outras pessoas e com o meio em que vivem. “O conhecimento não se constitui em cópia da realidade, é fruto de um intenso trabalho de criação, significação e ressignificação.” (VYGOTSKY)

Dança, teatro, futebol, inglês, música, educação física, informática, educação ambiental, culinária, artes, boas maneiras, ética, cidadania... São tantas as atividades que permeiam o dia-a-dia dos alunos, que os pais podem se perguntar: "Isso tudo é mesmo necessário?"
É cada vez maior o consenso entre os educadores sobre a importância da formação integral dos alunos. Para isso, é indispensável que a escola seja um ambiente onde sejam trabalhados aspectos sociais, psicológicos e de afetividade. Esse é um dos grandes desafios das escolas atualmente: oferecer uma formação sólida sem esquecer a formação humana.
Sem a formação integral, as escolas, por mais competentes que sejam no domínio científico, artístico, linguístico ou outro, não cumprirão por inteiro a sua função que é a de preparar não apenas peritos nas diversas áreas, mas de formar pessoas responsáveis e livres.
Por isso, à escola cabe não só a transmissão de conhecimentos, mas também, em colaboração com os pais, o desenvolvimento da consciência de valores, de uma perspectiva ética sobre a vida, a pessoa humana e os seus direitos.
Nesse contexto, oferecer atividades variadas, que levem o aluno ao conhecimento de si mesmo,de suas capacidades e dificuldades, não é um diferencial, e sim uma obrigação das escolas que se propõe a prestar um serviço de qualidade. Atividades que contemplam as diferentes áreas e permitem o desenvolvimento das múltiplas inteligências ajudam o aluno a identificar suas potencialidades, características básicas de personalidade e limitações, preparando-o para futuras escolhas.
Nas últimas décadas, os debates em nível nacional e internacional apontam para a necessidade de que as escolas incorporem, de maneira integrada, as funções de educar e formar integralmente.
Recentemente, tive a oportunidade de conhecer in loco um pouquinho do ensino nas escolas canadenses (somente como referência, o Canadá está entre as nações mais desenvolvidas do mundo e ocupa a 5ª posição no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano - IDH). Lá, pude conferir a importância que governantes, educadores, pais e sociedade em geral dão à educação integral. Algo muito diferente do que ocorre no Brasil, onde valoriza-se em demasia a educação voltada à preparação para os vestibulares e vê-se como algo supérfluo, desnecessário, a formação integral do aluno por meio de atividades específicas, principalmente com relação à educação de crianças pequenas.
O desenvolvimento de diferentes competências requer um sistema de ensino que permita ao aluno o desenvolvimento nas mais diversas áreas do conhecimento, de uma forma que ele possa participar de seu processo de aprendizagem. As atividades específicas devem ser introduzidas no currículo de forma a complementar e enriquecer o trabalho pedagógico, pois possibilitam a construção de conhecimentos significativos e a apropriação da identidade cultural.
O próprio Referencial Curricular para a Educação Infantil (RCN), documento criado pelo MEC para nortear os trabalhos desenvolvidos na Educação Infantil, coloca como fundamental o trabalho com experiências de "Conhecimento do Mundo", no qual estão inseridas as atividades específicas. Além disso, é importante lembrar que a estrutura da personalidade se desenvolve até os 6 anos de idade, ou seja, durante os anos da Educação Infantil, o que torna essa fase de extrema importância.
A escola, como um espaço de encontros, deve repensar a sua rotina, propiciando um planejamento que contemple as múltiplas linguagens expressivas da criança, preservando momentos de aprendizagens individuais e coletivas, de socialização de decisões, de descobertas, de discussão de opiniões divergentes e enfrentamento de conflitos, assumindo-se, portanto, como um espaço de construção de identidades de sujeitos-aprendizes.
O objetivo é criar uma criança protagonista, investigadora, capaz de descobrir os significados das novas relações e de perceber os poderes de seus pensamentos por meio da síntese de todas as linguagens: expressivas, comunicativas e cognitivas.
Aos pais, um alerta: muito cuidado com discursos do tipo "Atividades específicas tomam um tempo excessivo que deveria ser destinado a atividades mais importantes, que caracterizem o verdadeiro aprendizado, e por isso são desnecessárias."
A escola infantil tem a obrigação de oferecer inúmeras oportunidades para a criança expressar-se por meio de atividades prazerosas: pintura, desenho, música, movimento, leitura, escrita, escultura, dança, teatro, etc. Além disso, toda e qualquer atividade na escola infantil deve ser permeada pelo lúdico, para que tudo se transforme numa grande festa. Os jogos, os brinquedos e as brincadeiras devem estar sempre presentes, para que a criança vá construindo hábitos e atitudes, competências e habilidades, valores e conhecimentos de uma forma leve, natural e agradável.
A criança deve ser encorajada a explorar seu ambiente, que é rico em possibilidades, e a expressar-se por meio de todas as suas “linguagens” (desenho, palavras, movimento, montagens, dramatizações, escultura, música), o que a conduz a surpreendentes níveis de habilidades simbólicas e de criatividade. Além disso, ampliar seu círculo de relacionamentos e conviver com vários professores, que possuem características e conhecimentos diferentes, fazem com que a criança entenda a diversidade e possa descobrir-se como ser atuante e participativo na sociedade, desde cedo.

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