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Publicado: Segunda-feira, 17 de outubro de 2005

Transformações irreversíveis

Sabemos que o progresso é inevitável, ele cresce a medida em que a humanidade se prolifera e se vê obrigada a tomar certas atitudes sem ter muito o que fazer, como no caso da duplicação da rodovia Dom Gabriel Paulino Bueno, entre os municípios de Itu, Cabreuva e Jundiaí - que digamos a verdade – esta sendo feito um trabalho de primeira e com certeza com a duplicação e toda a melhoria, muitas vidas serão poupadas e a velocidade do progresso aumentará.

Mas como toda grande obra tem seus impactos e destruições, e com esta não vem sendo diferente e muitas transformações irreversíveis vêm acontecendo.

Graças ao hábito de pedalar com minha mountain bike, e por conhecer caminhos e trilhas alternativas e pelo fato de que grande parte destes caminhos e trilhas, ou são cortados, ou seguem ao lado da referida rodovia, passando por pastos e contornando grotas que se formam em florestas com enormes blocos de granitos arredondados, coisas que só nesta região é comum a gente encontrar, eu e outros companheiros de pedalada, estamos tendo o desprazer de ver de pertinho o que vem sendo feito. A transformação geográfica, a mudança em um cenário que levou milhões de anos para ser construído. Formações rochosas, em que enormes pedras de granito se equilibram umas em cima das outras e emolduradas por cactos centenários, formam verdadeiras esculturas feitas pela natureza e que já serviram até de inspiração para artistas, como na tela “Abaporu” de Tarsila do Amaral, aonde a artista e musa do movimento Modernista de 22, que por vim de uma família de cafeicultores e ter passado a maior parte de sua infância e adolescência percorrendo este trajeto de Itu a Jundiaí e registrou em suas famosas telas estão sendo destruídos.

Mas como já disse acima, tem horas que necessitamos tomar certas atitudes sem termos muito que fazer, mas digo também que o mínimo que pode ser feito, que seja feito da melhor maneira possível, tentando projetar o olhar o mais para o futuro possível, visando ao máximo as gerações que estão por vir.
No caso das rochas, o impacto ambiental é bem maior do que com as arvores e vegetações, pois em uma obra como esta, a cada planta catalogada que for derrubada, mais varias outras terão que ser replantadas em contra partida.

Mas e as rochas de granito? Tudo bem que elas não sejam responsáveis pela extração de moléculas de carbono emitidas pela queima de combustíveis dos automóveis na atmosfera, mas com certeza elas têm o seu valor, seja histórico, geográfico ou mineral. Devemos lançar um olhar mais direcionado a elas, pois já faz um tempo que essas riquezas vem sendo exploradas desordenadamente e desrespeitadas, ou por simples atos de vandalismo, como pichações ou pela ação de pedreiras clandestinas que destroem as rochas transformando-as em paralelepípedos, o que na maioria das vezes é de total conhecimento do proprietário da terra, isso não só em Itu mas em toda região.

Sinto não ter registrado imagens de toda esta metamorfose, pois todos sabemos que infelizmente nossa memória também sofre transformações irreversíveis e o que iremos mostrar para nossos filhos e netos para ilustrar nossas histórias e transformações?

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