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Publicado: Segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

O nosso abuso de cada dia - Parte I

Crédito: Internet O nosso abuso de cada dia - Parte I
Descomedimento

O abuso que cada pessoa sofre, diariamente, no papel de cliente, filho (a), paciente, pai/mãe, mulher ou ainda, todos os papéis juntos ao mesmo tempo, só mostra o quanto cada um de nós é desrespeitado dia após dia.

O abuso e o desrespeito acontecem quando você está na fila do banco e vem aquele que é “amigo do cara que está na fila” e passa na sua frente – porque ele está com pressa – e ele já previu na sua bola de cristal que você não está, como se isso fosse justificativa plausível para pular a fila  e cometer sim uma atitude desrespeitosa para com todos os outros que investiram o seu tempo aguardando de forma respeitosa a ordem de atendimento.

Acontece também quando você não quer comer aquele arroz com uva passa, mas a sua tia insiste que está gostoso e coloca “só um pouquinho” no seu prato para “você experimentar”, mesmo você dizendo três vezes que não quer.

O desrespeito está amplamente internalizado nos hospitais, onde o governo e o município fazem de cada cidadão pagante de tributos (e muitos!), um pato (bobo, trouxa ou qualquer outra palavra que queira utilizar) ao fazê-lo permanecer nas filas, doente, durante horas ou agendar um exame a pedido urgente pelo médico, para daqui a oito meses.

Ele está nas escolas públicas, pagando uma merreca aos professores – aqueles que deveriam ser os profissionais mais bem remunerados dentre todos os profissionais – e também ao oferecer aos estudantes um ensino de baixa qualidade, além de uma merenda de dar vergonha até ao mais “cara de pau” de todos os políticos.

Essa sem-vergonhice, descomedimento ou descaramento está na justiça, na desigualdade de tratamento para com as pessoas e, repletamente, integrada em todas as partes do sistema – que nós já conhecemos há anos e anos. Alguns se “acostumam” ou se adaptam àquilo, já outros continuam brigando e mostrando o seu descontentamento.

Mas o que eu gostaria de falar hoje é sobre o respeito, o respeito que eu, você e ele podemos ter para com as pessoas nessa hora e nas próximas horas da minha e da sua vida, o respeito que podemos ter e utilizar agora.

Pois, apesar de, como a maioria das pessoas, não “engolir” esse monte de ladainhas e bla bla blas dos políticos, da justiça e de todos os órgãos públicos de maneira geral, eu penso que: o que é possível fazer agora é mantermos o respeito dentro das nossas relações diárias com os próximos – o que deveria ser o mínimo.

E como fazer isso?

Sabe quando o seu filho fala que não quer comer aquele legume porque ele não gosta e você força e força de novo? Pois bem, será que não existe outro legume com as mesmas vitaminas o qual você possa fazer para ele? Ou ainda, ele não pode, simplesmente, não comer hoje e quem sabe daqui um mês você não possa fazer de outra forma para ele saborear?

Sabe quando o cara que vende consignado ou trabalha no banco te para no meio da rua – naquele dia ensolarado – quando você mais deseja sair daquele local, você não quer falar com ele e justifica que “está com pressa”? Então ele insiste e fala que “só levará três minutinhos”.

Nesse momento, o seu desejo é “jogar essa pessoa para o outro lado da rua”, para se livrar logo dela, porque você sabe que cada vez que você passa naquele local, ela estará lá te pedindo “somente 3 minutinhos” e, mesmo você dizendo “não quero”, ele dirá que é uma “grande oportunidade para você”.

Mas, se fosse uma grande oportunidade para você, você não iria dizer “não” e “não” insistidamente, não é mesmo? Nesse caso, a gente sabe que o bom mesmo é para o banco, para a empresa que quer o nosso dinheiro e por isso faz qualquer tipo de negócio para te conquistar.

Para alguns, essa “tática” faz parte da força-tarefa de vendas, para mim essa é uma estratégia não muito inteligente e que pode trazer resultados positivos algumas vezes e deixar muitas pessoas enfurecidas outras muitas vezes – causando certo aborrecimento com esse ou aquele banco insistente e estafamento com relação à imagem da marca.

Parece que quando a gente fala um “não” é muito difícil para as pessoas entenderem que um “não” é um “não” – apesar de parecer tão simples! E a gente acaba, infelizmente, se sentindo mal ou culpado pois, ao invés de dizer um “não” e ser entendido, ter que dizer um “NÃO!”para se fazer entender, não é mesmo?

E sabe por que isso acontece?

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