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Publicado: Sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Ressaca

Ressaca

O mar, como qualquer força-d'água, empurra. Violentamente, às vezes.

No mar, salinidade é flutuação. Diferentemente dos rios, que puxam para baixo nos casos de sumidouros, o mar empurra... o oceano estapeia.

Rios roncam, mares rugem. Vozes diferentes para uma mesma manifestação de existência.

Nem sempre são previsíveis. Aliás, nunca foram. Assim como boa parte da vida, fogem de qualquer controle.

Forças naturais não nos chamam para alguma derrota. Apenas são indícios de que alguma transformação precisa ser feita, realizada, executada. Jamais um convite para alguma queda, desde que respeitemos suas naturezas, de que são feitas, algo que não poderia mais continuar daquele jeito.

O ser humano é um dos poucos bichos que, ao mesmo tempo, é resiliência e resistência. Um serzinho meio infame: tudo complica. As pessoas tendem a complicar as equações: eram de primeiro grau, passaram a ser de segundo... e assim por diante.

Quando se vê, é um rastro de desespero e destruição. Leituras desequilibradas. Nada fica em pé, tudo se resume a dor e o rumo das coisas, o bom itinerário que tudo deveria ter, desaparece.

Mar, em algumas simbologias, significa útero, ou casa. Em outras, interiorização. Numa cidade litorânea, como aqui, pessoas em grande momento de aflição procuram estar diante dele para reflexão, ou alcance daquela dobra lá bem dentro de si próprio(a) que impede a fruição da sofisticação das coisas simples.

O grande desafio da vida: a navegação. E sempre considerando que o casco singra forças muito maiores do que uma nave de aço e ferro.

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