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Publicado: Segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Nebraska

Nebraska

Tratar de assuntos familiares com um misto de humor, drama e às vezes o suspense é uma coisa difícil. Mas é um acerto quando bem feito. Temos como exemplo de dramas familiares o clássico estrelado por Paul Newman e Elizabeth Taylor que é "Gata em teto de zinco quente" e também uma tragicomédia, outro exemplo é o filme independente "Pequena Miss Sunshine". Ambos excelentes filmes com uma temática semelhante, mas abordado de pontos de vistas diferentes. Outro exemplo de filme trágico, ou no caso trágico mesmo é "Álbum de Família" que está concorrendo em algumas categorias do Oscar esse ano junto com "Nebraska".

O diretor Alexander Payne explora novamente o que conhece que são personagens comuns que se descobrem numa jornada, e também personagens secundários que são bem peculiares que ajudam a formar aquela fauna familiar ou situação pouca ortodoxa. Como é o caso de George Clooney em "Os Descendentes" ou Paul Giammati e Thomas Haden Church em "Sideways". Ambos os filmes tem em comum a experiência de algumas pessoas em se mudar para um lugar novo ou redescobrirem o passado.

Em "Nebraska" o diretor explora a vida de Woody Grant (Bruce Dern) um senhor de idade que recebe uma carta dizendo que ganhou "um milhão de dólares". Crente que essa carta é verdadeira, ele tenta chegar até o local do premio de qualquer jeito. David (Will Forte) é filho de Woody, um homem solitário que não sabe bem o que quer da vida, principalmente no campo emocional. Quando Woody tenta sair de casa para pegar o premio, David o ajuda a chegar até a cidade com contradições de sua mãe Kate, que é vivida pela atriz June Squibb, ela, aliás, faz um excelente trabalho como uma idosa que não agüenta mais viver com o marido naquele estado e fala o que pensa. O gozado de mesmo ela sendo um alivio cômico no filme, ao mesmo tempo ela passa um ar de respeito e seriedade, até quando ela manda o seu para alguns familiares "Fuck Yourself", aliás, o clímax dessa cena foi excelente. 

David leva o seu pai até o premio, mas no caminho eles param na antiga cidade de onde seus pais vieram. Lá Woody encontra várias pessoas do seu passado e David descobre mais um pouco sobre o passado e a verdade de seus pais. E ele começa a ver seu pai de outra forma, como sua mãe também. Eles ficam hospedados na casa do irmão de Woody. Sem saber do premio a cidade não parece ligar para eles, mas quando descobrem que Woody e David ficaram milionários, eles virão celebridades e com isso surgem "velhos amigos" trazendo contas para tratar. O engraçado do filme é como Payne trata a família Grant, mesmo os mais velhos, são os piores e os mostra como urubus. A viagem também serve para aproximar David de seu pai, mas parece que só ele enxerga isso. O filme não explora tão bem o passado e a relação de pais e filhos, só sabemos que Woody era alcoólatra, mas de resto, são informações que o filme não aborda. Gostei como Payne deixou isso de lado para abordar mais o passado de Kate e Woody.

"Nebraska" é um típico filme de jornadas e relações que precisam ser fechadas. A fotografia foi em preto e branco, é perfeito como se encaixa com o enredo da historia, tanto pela melancolia que o filme passa em relembrar o passado, explorar algumas peças esquecidas na memória dos seus personagens e o presente delas também, tanto dos pais de David como o de Woody também. A cidade por onde David e seu pai ficam me lembrou não só a fotografia que também é preto e branco como a narrativa, que é o filme "A Ultima Sessão de Cinema" de Peter Bogdanovich, que fala de uma cidade em que eles não têm muito que fazer a não ser aceitar as situações que vem para eles. 

Com o roteiro do estreante Bob Nelson o filme conta a história de gerações diferentes, ambas com os seus problemas e decisões que devem ser tomadas até o fechamento de um ciclo. Gostei muito como o filme termina e mesmo com uma não aparente aceitação amorosa de pai e filho, David deixa de lado algumas coisas para tratar seu pai no ato final. Não com uma lição de moral para ambos, mas como ostentar, ou melhor, dar uma impressão para uma cidade que virou as costas para Woody e agora ele está devolvendo tudo.

Talvez o filme não ganhe o Oscar que é uma pena, principalmente para personagens excelentes que é Kate e Woody. Mas só de ver "Nebraska" já é uma delicia independente de prêmios o filme por si só já fala muito, e considero Payne um excelente diretor e criador de personagens icônicos como é o casal de "Nebraska", o advogado traído pela esposa em coma que é os "Descendentes" e a "Wine Road Trip" que é "Sideways" personagens bem elaborados num cotidiano peculiar em situações extraordinárias e divertidos.

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