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Publicado: Terça-feira, 6 de outubro de 2015

Cinema, Aspirinas e Urubus

Cinema, Aspirinas e Urubus

A denúncia social nos filmes brasileiros é incrível quando bem feitas, é belo quando se mistura a sutileza de uma historia e deixa outro como pano de fundo para narrar algo. Podemos usar como exemplos obras-primas do cinema nacional para narrar essa situação filmes como "Cidade de Deus", "Central do Brasil" até as produções do Glauber Rocha como "Deus e o Diabo na terra do Sol" ou até mais o apolítico "Terra em transe".

"Cinema, Aspirinas e Urubus" não é diferente, trabalhado como um "Road movie", o filme conta a história de um estrangeiro alemão que foge da segunda guerra mundial, e começa a trabalhar nos sertões do nordeste vendendo "aspirinas". Johann (Peter Ketnath) é uma pessoa que vive rodando o nordeste, ele já viajou o Brasil inteiro. Ele de certa forma não é uma pessoa apegada a nada, só vive o momento presente. Johann ajuda algumas pessoas dando carona para elas, mas ao mesmo tempo as explora vendendo algo que não funciona que são as "aspirinas". No meio do caminho ele contrata Ranulpho (João Miguel), uma pessoa que deseja muito mudar de vida e vê as pessoas ao seu redor com diferença, ele se sente melhor que todos ali. E com uma promessa de mudar de vida Ranulpho começa uma jornada. O filme apresenta elementos muito bons como à própria construção dos personagens e a vida que era levada em 1942 no nordeste, se podemos chamar aquilo de vida. Uma parte interessante do filme é como Johann vende as "aspirinas" ele exibe um filme falando dos benefícios do seu remédio. Na exibição, ele mostra São Paulo e os avanços da capital. Em comparação nos vemos aquela realidade vivida nos sertões com o total esquecimento da população pelos governantes. Coisa que 72 anos depois ainda é uma realidade forte nos sertão e até no resto do Brasil. Mas a jornada de Johann e Ranulpho não tem aquela reflexão clássica ou até elementos clássicos que são fortes em "Road movies", como a redenção do personagem ou até comoção com a situação do ambiente que está. Mas o filme pula toda essas etapas, o que é bom, já que consegue explorar pelo menos o ambiente e se afasta dos personagens, no qual você os conhece nos primeiros minutos do filme e já tem uma opinião formada sobre eles.

"Cinema, Aspirinas e Urubus" peca também na parte técnica, o começo do filme tem uma péssima utilização de câmera na mão, os planos apesar de serem até bem elaborados é prejudicado pelo uso da câmera na mão que da uma impressão de amadorismo, fora a captação de áudio que é horrível. Mas a fotografia é belíssima, as paisagens do sertão são muito belas mesmo.

O filme consegue ter um "plot twist", quando o Brasil decide ir para a guerra contra Alemanha e todos os cidadãos alemães têm duas escolhas ou regressar para seu país ou irem para campos de concentração no interior de São Paulo. Johann então decide fugir e se refugiar no Amazonas, onde a extração de borracha está em alta, assim ele se despede de Ranulpho e parte para outro lugar.

O filme todo tem seus momentos legais e elaborados, mas é muito fraco no requisito empatia. O filme não consegue dialogar com o publico é como sentar na sala de cinema e ter passado 1hora e 24 minutos sem ter aproveitado nada, sem sentir nenhuma emoção. E isso não é função do cinema, ele deve provocar emoções, sentimentos e fazer o publico pensar naquilo que está vendo. Realmente um desperdício de roteiro e material, mas vale por alguns motivos, como a proposta, o período historio e sua denuncia que é mais forte e emocionante do que a trama que você está acompanhando de dois homens que não vão fazer diferença nenhuma na sua vida. Horrível isso não é?

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