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Publicado: Segunda-feira, 11 de maio de 2015

Quem precisa de líderes duas caras?

Quem precisa de líderes duas caras?

No Brasil, tornou-se banal e aceitável um líder empresarial ter duas caras: uma que indica o que ele pensa ou representa, e outra apenas para consumo externo. São pessoas que à noite fazem panelaço contra o governo, e de dia bajulam autoridades.

Um exemplo foi a recente troca de Ministros de Turismo, que ocorreu não por questões de competência, mas sim para permitir acomodações políticas. Durante quase dois meses o então titular, o engenheiro agrônomo, mestre em gestão ambiental e doutor em socioeconomia do desenvolvimento Vinicius Lages, foi fritado enquanto aguardava sua morte anunciada. Nos poucos meses que esteve à frente da pasta, tentou realizar o que foi possível em um clima, convenhamos, nada motivador. Em todos os compromissos realizados pelo setor dos quais participou - e foram muitos - recebeu dos líderes associativos manifestações de solidariedade pela sua competência e indignação pela situação enfrentada.

Até que um dia Lages foi enfim defenestrado da posição. Não se ouviram então destes líderes desagravos públicos ou um único talher batendo sobre a panela. Ao contrário: na posse do novo Ministro, lá estavam eles na plateia às palmas para os discursos ocos que pululam nestas ocasiões. Não deu nem tempo para o novo titular descobrir o caminho do banheiro da repartição para começar a receber exaltações pela nova posição. Ou esperar sua mesa de trabalho ser limpa pelo antecessor para sobre ela serem depositadas as primeiras cartas de cumprimento. E de quem? Sim, dos mesmos dirigentes associativos que louvaram o ministro anterior.

Este comportamento indigno não é exclusivo do Turismo, mas serve de metáfora para o que ocorre também em outros segmentos da economia brasileira.

Não deveria ser assim. Líder de entidade não existe apenas para fazer discursos, sair em fotos sorridentes na imprensa, e apostar só em causas com garantia de não perder. Implica, isto sim, em acreditar em ideais, abraçar cruzadas por vezes espinhosas, principalmente correr riscos. Sob pena de não obter legitimidade para representar as verdadeiras expectativas do seu grupo, mas apenas a si mesmo.

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