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Publicado: Sábado, 2 de maio de 2015

Grama Autocortante e Mato Autoeliminante

Grama Autocortante e Mato Autoeliminante

"A imaginação é mais importante que o conhecimento", já dizia Einstein com a autoridade de quem sabia tudo desse mundo e de todos os outros, por mais que continue se expandindo esse Universo velho sem porteira.

Dois dos maiores estouros mercadológicos de que se tem notícia ilustram bem essa citação. Eles nasceram juntos em laboratório e não podem ser vendidos separadamente, até porque um complementa a ação do outro. Onde exista jardim, público ou privado, lá estão os gloriosos e insubstituíveis inventos de Alejandro Cortez de Calabares, que deram a ele fortuna e um lugar definitivo entre os grandes gênios da Catalunha.

Foi numa nebulosa manhã de julho que lhe veio à mente a redentora visão, que iria livrá-lo da dívida na mercearia e das seis parcelas em atraso no plano funerário. Profundamente sensibilizado por um drama pessoal vivido por Alícia Jimena, a dedicada governanta de sua tia-avó de Sevilha, Alejandro ergueu a ela um imaginário brinde com uma dose generosa de absinto, virou de vez e desabou espetacularmente sobre o surrado pufe da sala. A mesma sala de paredes sujas da qual, seis meses mais tarde, teria apenas uma vaga lembrança, envolvido pelo luxo de seu castelo em Palma de Maiorca.


O MATO AUTOELIMINANTE
Não se sabe se foi o conforto reparador daquele pufe, comprado em beira de estrada nas férias de 1991, ou o efeito alucinante do absinto, o fato é que naquele dia sua mente penetrou em reinos desconhecidos e inspiradores. A primeira das visões lhe surgiu aos onze minutos da fase de sono REM, já com a baba escorrendo pelo canto direito da boca. A partir de uma alteração na genética da planta, ao começar a crescer o mato enforca-se a si mesmo com os ramos que vão brotando do seu caule, numa espécie de suicídio vegetal involuntário.


A GRAMA AUTOCORTANTE
Se com o invento anterior eliminamos a fatigante tarefa de arrancar um a um os matinhos dos gramados, com sua segunda visão Alejandro nos livra para sempre daquele ícone verde da classe média americana, tão arraigado ao cotidiano ianque quanto o molho barbecue e os tacos de golfe: o cortador de grama. Ao atingir determinada altura, configurada no setup do aparelho, um sensor dispara um feixe de laser que apara eletronicamente a quantidade de grama que ultrapassar a dimensão desejada, mantendo-a sem qualquer esforço no tamanho ideal.

Esperto, Alejandro atraiu a atenção da mídia mundial ao testar simultaneamente os dois inventos nos Jardins de Luxemburgo, no Hyde Park e nos gramados da Casa Branca. Em questão de dias, nosso herói passou das filas do seguro-desemprego à lista dos bilionários da Forbes, com o saldo da conta corrente crescendo mais que mato no meio da grama.


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