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Publicado: Quinta-feira, 12 de março de 2015

O Abutre

Crédito: Independent O Abutre
Até onde vai o sensacionalismo?

A imprensa mundial sempre deu muito destaque para crimes bárbaros, acidentes e tragédias diversas. Sangue vende jornal. E isso não é de hoje – nem algo restrito ao Brasil, repleto de programas como o “Cidade Alerta”. Nos EUA, matérias sanguinolentas também chamam a atenção do público e rendem uma boa audiência para os telejornais. “O Abutre”, filme de Dan Gilroy, faz uma grande crítica a isso.

Jake Gyllenhaal interpreta formidavelmente o jovem Louis Bloom, um ladrãozinho que procura uma oportunidade de emprego dentro da legalidade. Com dificuldades em alcançar seu objetivo, ele vê no jornalismo policial uma grande oportunidade de ascender na vida. Bloom compra uma câmera e começa a descobrir os meandros da profissão, procurando sempre chegar antes da concorrência na ocorrência em questão.

O filme todo se concentra na grande atuação de Gyllenhaal, que lhe rendeu uma indicação ao Oscar. Ele consegue transmitir de maneira exemplar as emoções – ou falta de – de um personagem que só pensa em crescer na vida e não nutre nenhuma simpatia pelas pessoas. Louis Bloom é mais um que vai integrar a grande lista de sociopatas do cinema e da literatura, que conta com nomes como Anton Chigurh (“Onde Os Fracos Não Têm Vez”) e Alex (“Laranja Mecânica”).

“O Abutre” vai além de apresentar um personagem bem construído e interessante. O filme faz uma grande crítica ao “vale-tudo” pela audiência. Qual o limite do jornalismo? O que é aceitável e o que não é na guerra da informação? Esse sensacionalismo barato que é tão comum em programas e jornalecos populares tem relevância? Todos esses questionamentos ficam na cabeça do espectador após o filme – principalmente da minha, que sou jornalista.

Rene Russo e Riz Ahmed são os coadjuvantes do filme. Ela interpreta Nina, uma experiente produtora de uma emissora de TV que quer manter seu cargo e que acaba criando uma estranha parceria com Bloom. Já Ahmed faz o jovem e problemático assistente do freelance – que tenta equilibrar o lado sociopata do chefe. Ambos estão muito bem, mas servem apenas como “escada” para o personagem de Gyllenhaal – o que não é ruim, já que “O Abutre” se concentra nas ações de Bloom.

Tanto pela excelente crítica ao mundo do jornalismo sensacionalista quanto pelo suspense bem-produzido, com altas doses de cinema noir e a grande atuação de Jake Gyllenhaal, “O Abutre” é um filme muito bom que merece a sua atenção.

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