Colunistas

Publicado: Segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Medianeras: Buenos Aires da Era do Amor Virtual

Medianeras: Buenos Aires da Era do Amor Virtual

“Medianeras” é baseado num curta do diretor argentino Gustavo Taretto. O filme é muito gostoso de assistir. Primeiro porque ele fala a verdade sobre o amor na era virtual. Abordado o ponto de vista do homem e da mulher, mas claro que cada reação é diferente quando se falam de depressão, solidão, isolamento e dependências. É incrível que esses mesmos sentimentos estejam relacionados a um só. O amor. O ponto de vista de cada personagem é único e de fácil envolvimento. Os atores principais vividos por Javier Drolas e Pilar López de Ayala dão todo um clima especial para o filme, o roteiro também é muito bem executado e super desenvolvido. Sua linguagem e seu sincronismo são espetaculares. Principalmente no começo do filme quando na narração de Javier ele fala como Buenos Aires é toda dessincronizada, e como seus prédios e ruas misturam vários estilos, e o novo invadindo o clássico.

O filme também fala de certa forma do desapego fácil a tudo como as relações, pessoas ou de certas formar eventos que são gratuitos, imediatos e descartáveis. É claustrofóbico como nós vemos em relação a nos mesmo no tempo de tela. Será que somos tão substituíveis assim? A minha personalidade pode ser medida pelo meu “avatar” das redes sociais? Nosso relacionamento só vai ser construído a partir do virtual? O filme quando aborda essas questões nos deixa filosofando por várias horas. O personagem de Martín (Drolas), um jovem “web designer” não consegue ter relações com o mundo real, a não ser que esse mundo passe primeiro pelo virtual. Mariana (Ayala) sofre por uma paixão perdida e desgastada que a consumiu. Me identifiquei bastante com a personagem principalmente em um dialogo quando ela fala que “olhou seu parceiro e viu um desconhecido”. Essa dor deve ter sido imensa e vemos isso quando ela tem diálogos intensos com manequins em sua casa. Já Martin tenta levar um vida normal cercada por ninguém, sua ex-namorada viajou para America e o abandonou com um cachorro. Suas aflições, fobias o isolam de contato com o real. Os dois formam um casal ideal, mas unido por seus medos, conflitos e paranóias. Isso leva um leve questionamento sobre o comportamento com outras mídias como a internet principalmente.

O diretor conseguiu aproximar muito os atores e o deixou além do estado melancólico um filme “fofo” e também pessoal. Os elementos mais “nerds” dão um tom mais brando ao filme, fora a cinéfilia do diretor como a cena em que eles estão assistindo “ Manhattan” de Woody Allen, e os dois choram vendo, talvez essa cumplicidade seja o que os motiva a perseguir seus sonhos. Esse “mutalismo” os une afinal, ou seja, um completa o outro.

“Medianeras” é um filme que com certeza você vai se identificar, vai se achar estranho por tamanha vivência com o não real e depois analisar como sua vida está se formando. Talvez você tome jeito ou talvez não. Ou talvez você encontre uma Mariana ou algum Martín. E se completem.

Ou talvez não...
 

Comentários