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Publicado: Quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

VIVA O NATAL - O MUNDO É BOM!

Crédito: Google Imagens VIVA O NATAL - O MUNDO É BOM!
Alexander Pope (1688-1744)

Que bom que está chegando mais um Natal novinho em folha.


Por mais batida que essa frase esteja: “FELIZ NATAL!”, caro leitor.


Permita-me perguntar-lhe caro leitor: Você faria o mundo do jeito que ele é se o estivesse projetando? Provavelmente não. A maioria das pessoas acha que o mundo é ruim. Porem, esse mundo já foi muito bom, principalmente no século XVIII, quando muitas pessoas diziam que aquele mundo era o melhor mundo para se viver.


“Tudo o que é, é correto”, declarou o poeta inglês Alexander Pope (1688-1744). Tudo o que existe no mundo é do jeito que é por uma razão: é tudo obra de Deus, e Deus é bom e todo-poderoso. Doenças, inundações, terremotos, incêndios, secas – tudo faz parte do plano de Deus. Nosso erro é concentrarmos demais em detalhes individuais e não ver o contexto como um todo. Se pudéssemos nos distanciar e ver o universo de onde Deus está, reconheceríamos a perfeição que ele é, como todas as coisas se encaixam e tudo o que parece mal é, parte de um plano muito mais amplo.


Pope não estava sozinho em seu otimismo. O filósofo alemão Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716) usou o seu princípio da razão suficiente para chegar à mesma conclusão. Ele supôs que deve haver uma explicação lógica para tudo. Como Deus é perfeito em todos os aspectos – isso faz parte da definição padrão de Deus – segue-se que Deus deve ter tido excelentes razões para criar o mundo exatamente da forma como criou. Nada poderia ser deixado ao acaso. Deus não criou um mundo absolutamente perfeito em todos os aspectos, isso tornaria o mundo o próprio Deus, pois Deus é a coisa mais perfeita que há ou pode haver. Mas Ele deve ter feito o melhor dos mundos possíveis, o único com a mínima quantidade de mal necessário para obter esse resultado. Não poderia haver uma maneira melhor de juntar os pedaços do que esta: nenhum projeto teria produzido mais bondade usando menos mal.


François-Marie Arouet (1694-1778), mais conhecido como Voltaire, não via dessa maneira. Ele não se conformava de jeito nenhum com essa “prova” de que tudo está indo bem. Ele suspeitava profundamente dos sistemas filosóficos e do tipo de pensador que acredita ter todas as respostas. Esse dramaturgo, satírico, escritor de ficção e pensador ficou mais conhecido em toda Europa por suas ideias francas. A escultura mais famosa da imagem de Voltaire, feita por Jean-Antoine Houdon conseguiu capturar o sorriso cerrado e os pés de galinha desse homem espirituoso e corajoso. Defensor da liberdade de expressão e da tolerância religiosa, Voltaire foi uma figura controversa. Acredita-se, por exemplo, que teria dito: “Não concordo com o que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo”, uma forte defesa do princípio de que até mesmo as ideias que detestamos merecem ser ouvidas.


Então, caro leitor, tenha um Feliz Natal, porque o mundo já foi e continua sendo muito bom.

Retirado de O melhor de todos os mundos possíveis? Voltaire e Gottfried Leibniz. Texto de Nigel Warburton, do livro Uma breve história da filosofia. – Porto Alegre – RS - L&PM – 2013.
 

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