Colunistas

Publicado: Sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Comprar a felicidade! Será que é possível?

Não há como ignorar: o materialismo toma conta da humanidade. O ter está vencendo a guerra contra o ser. Vive-se para consumir, consome-se para viver. Ignora-se a dimensão metafísica do homem, vítima da lavagem cerebral de que é possível uma vida apenas baseada na fartura de bens, nos recursos proporcionados pela ciência e pela técnica.

Decorre o inevitável: a soberania do dinheiro como senhor da vida. Admite-se que ele pode tudo, resolve tudo e pode até mesmo comprar a felicidade.

Para isso, a felicidade precisaria ser algo inerente às condições materiais; só assim, o dinheiro teria poder sobre ela. Se assim fosse, os ricos seriam os mais felizes e os pobres os mais infelizes. Mas essa não é a realidade. Encontramos infelizes entre os muito ricos e felizes entre os pobres.

Os pobres muitas vezes buscam as riquezas materiais como forma de resolver sua vida. Se os pobres desejam ficar ricos, estes desejam ficar mais ricos, sinalizando que as riquezas materiais realmente não satisfazem.

Entretanto, o dinheiro em si não é um mal. Sempre teremos diferentes classes sociais e econômicas. É fundamental que se tenha bem determinado o valor do dinheiro e dos bens que ele consegue comprar. Vale ainda lembrar a responsabilidade dos ricos pelo uso cristão de sua riqueza em favor daqueles menos favorecidos tornando possível a justiça social (“a quem muito é dado, muito será cobrado”).

Lembro aqui uma historinha do homem que queria ser rico a qualquer custo. Foi procurado pelo diabo que lhe prometeu a riqueza mediante uma condição: entregaria a ele sua alma caso não conseguisse consumir a riqueza. Fácil, pensou o homem. E aceitou. De início foi realmente fácil: foi comprando tudo... Mas como dinheiro chama dinheiro, ficava mais rico a cada dia e não conseguia mais gastar sua riqueza. Tentou convencer o diabo que era impossível o exigido e deveria ser desfeito o contrato. - Acontece que você foi avarento, pensou só em você; seria fácil se você pensasse nos outros, os necessitados, e repartisse com eles...

Como vemos, o dinheiro é um bem, dependendo de como nos relacionamos com ele e de como o gastamos. É o que defende o livro "Happy money: the science of smarter spending" (algo como "Dinheiro feliz: a ciência de como gastar melhor").

Garantem os autores que o dinheiro pode tornar a vida mais feliz, desde que ele seja bem empregado.

É o caso do dinheiro usado para comprar experiências: viagem, passeio, um bom filme, um teatro... trazem mais felicidade do que a compra de bens.

É o caso do dinheiro investido nos outros: traz mais felicidade do que gastar dinheiro consigo mesmo.

É o caso ainda do dinheiro gasto para comprar tempo: pagar a alguém para fazer um serviço, mudar-se para um apartamento mais próximo de seu local de trabalho (mesmo que ele seja menor ou traga despesas maiores) de modo a perder menos tempo no trânsito. Assim, ao comprarmos tempo, criamos oportunidades para experiências que podem nos tornar mais felizes. Seja o caso de uma visita, um serviço voluntário...

Portanto, a riqueza material pode tanto atrapalhar a felicidade como colaborar com ela.

Fica claro, porém, que a felicidade está dentro de cada um, faz parte da essência do nosso ser. Assim como os valores e as virtudes cristãs, ela não pode simplesmente ser comprada.

Comentários