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Publicado: Segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Mensagem a Garcia

Crédito: Google Imagens Mensagem a Garcia

No ambiente corporativo, "Mensagem a Garcia" é uma expressão corrente, para designar uma tarefa muito difícil e espinhosa, mas que é absolutamente necessária, e precisa ser realizada de qualquer maneira, sob risco de grandes perdas para a empresa. Mas poucas pessoas efetivamente conhecem a história que originou a expressão.

Resgatamos a história, contada pelo próprio criador da expressão, o jornalista norte-americano Helbert Habbard, em 1899.

Leia o que o autor escreveu, numa verdadeira aula de como avaliar personalidades profissionais. O texto, escrito no século XIX, tem uma atualidade impressionante.


PALAVRA DO AUTOR

Esta insignificância literária, MENSAGEM A GARCIA, escrevi-a numa noite depois do jantar, em uma hora. Foi a 22 de fevereiro de 1899, aniversário natalício de George Washington, e o número de março da nossa revista "Philistine" estava prestes a entrar no prelo.

Encontrava-me com disposição para escrever, e o artigo brotou espontâneo do meu coração, redigido, como foi, depois de um dia afanoso, durante o qual tinha procurado convencer alguns moradores, um tanto renitentes no lugar, que deviam sair do estado comatoso em que se compraziam, esforçando-me por incutir-lhes radioatividade.

A idéia original, entretanto, veio-me de um pequeno argumento ventilado pelo meu filho Bert, ao tomarmos café, quando ele procurou sustentar ser Rowan o verdadeiro herói da Guerra de Cuba. Rowan pôs-se a caminho só e deu conta do recado - levou a mensagem a Garcia. Tal qual uma centelha luminosa, a idéia assenhorou-se de minha mente. É verdade - disse comigo mesmo - o rapaz tem toda a razão, o herói é aquele que dá conta do recado: que leva a mensagem a Garcia!

Levantei-me da mesa e escrevi "Mensagem a Garcia" de uma assentada. Entretanto, liguei tão pouca importância a este artigo que até foi publicado na revista sem qualquer título.

Pouco depois de a edição ter saído do prelo, começaram a afluir pedidos para exemplares adicionais do número de março da "Philistine": uma dúzia, cinqüenta, cem; e quando a American News Company encomendou mais de mil exemplares, perguntei a um dos meus empregados qual o artigo que havia levantado o pó cósmico.

- Esse de Garcia -, retrucou-me ele.

No dia seguinte chegou um telegrama de George H. Daniels, da Estrada de Ferro Central de Nova York, dizendo: "Indique preço para cem mil exemplares, o artigo Rowan, sob forma folheto, com anúncios estrada de ferro verso. Diga também quando pode fazer entrega".

Respondi indicando o preço, e acrescentando que podia entregar os folhetos dali a dois anos. Dispúnhamos de facilidades restritas e cem mil folhetos afiguravam-se um empreendimento de monta.

O resultado foi que autorizei o Sr. Daniels a reproduzir o artigo conforme lhe aprouvesse. Fê-lo em forma de folhetos e distribui-os em tal profusão que, duas ou três edições de meio milhão se esgotaram rapidamente. Além disso, foi o artigo reproduzido em mais de duzentas revistas e jornais. Tem sido traduzido, por assim dizer, em todas as línguas faladas.

Aconteceu que, justamente quando o Sr. Daniels estava fazendo a distribuição da "Mensagem a Garcia", o príncipe Hilakoff, diretor das estradas de ferro russas, se encontrava neste país. Era hóspede da Estrada de Ferro Central de Nova York, percorrendo o país em companhia do Sr. Daniels. O príncipe viu o folheto e por ele se interessou, mais pelo fato de ser o próprio Sr. Daniels que o estava distribuindo em tão grande quantidade, que propriamente por qualquer outro motivo.

Como quer que seja, quando o príncipe regressou à sua pátria mandou traduzir o folheto para o russo e entregar um exemplar a cada empregado da estrada de ferro da Rússia. Em pouco tempo foi imitada por outros países: da Rússia o artigo passou para a Alemanha, França, Turquia, Indostão e China. Durante a guerra entre a Rússia e o Japão, foi entregue um exemplar de "Mensagem a Garcia" a cada soldado russo que se destinava ao "front".
Os japoneses, ao encontrarem os livrinhos em poder dos prisioneiros russos, chegaram à conclusão que havia de ser uma informação valiosa e não tardaram em vertê-lo para o japonês. Por ordem do Micado foi distribuído um exemplar a cada empregado civil ou militar, do governo japonês.

Para cima de cem milhões de exemplares foram impressos, o que é sem dúvida a maior circulação jamais atingida por qualquer trabalho literário durante a vida do autor, graças a uma série de circunstâncias felizes.

East Aurora, 01 de dezembro de 1913

Helbert Habbard

 

MENSAGEM A GARCIA

Em todo este caso cubano um homem se destaca no horizonte de minha memória.

Quando irrompeu a guerra entre a Espanha e os Estados Unidos, o que importava a estes era comunicar-se com chefe dos insurretos, Garcia, que sabiam encontrar-se em alguma fortaleza no interior do sertão cubano, mas sem que se pudesse dizer exatamente onde. Era impossível um entendimento com ele pelo correio ou pelo telégrafo. No entanto, o Presidente precisava de sua colaboração o mais rapidamente possível.

Que fazer?

Alguém lembrou: "Há um homem chamado Rowan; e se alguma pessoa é capaz de encontrar Garcia, há de ser Rowan".

Rowan foi trazido à presença do Presidente, que lhe confiou uma carta com a incumbência de entregá-la a Garcia. De como este homem, Rowan, tomou a carta, meteu-a invólucro impermeável, amarrou-a ao peito, e após quatro dias, saltou de um barco sem sequer uma cobertura, alta noite, nas costas de Cuba, de como se embrenhou no sertão para depois de três semanas surgir do outro lado da ilha, tendo atravessado a pé um país hostil, e entregue a carta a Garcia, são coisas que não vem ao caso narrar aqui pormenorizadamente.

O ponto que deseja frisar é este: MacKinley, o presidente, deu a Rowan uma carta para ser entregue a Garcia; Rowan tomou a carta e nem sequer perguntou: "onde é que ele está?"

Salve! Viva! Eis aí um homem cujo busto merecia ser fundido em bronze e sua estátua colocada em cada escola. Não é somente de sabedoria livresca que a juventude precisa, nem somente de instrução sobre isto ou aquilo. Precisa sim de um endurecimento das vértebras, para poder mostrar-se altiva no exercício de um cargo; para atuar com diligência, para dar conta do recado; para, em suma, levar uma "MENSAGEM A GARCIA".

O general Garcia já não é deste mundo, mas há outros Garcias. A nenhum homem que se tenha empenhado em levar avante uma grande empresa, em que a ajuda de muitos se torna necessária, têm sido poupados momentos de verdadeiro desespero ante a imbecilidade de um grande número de homens, ante a inabilidade ou falta de disposi&cced

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