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Publicado: Segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Wearables, companheiros de viagem

Crédito: Reuters Wearables, companheiros de viagem

Um novo jargão acaba de entrar no vocabulário do consumidor antenado. Trata-se de uma tecnologia conhecida como “wearables” – que em tradução para o português se transforma num pavoroso “vestíveis”, até que alguma alma caridosa encontre um termo mais palatável. A verdade é que a computação nunca mais foi a mesma depois que se despiu do traje formal de lata, plástico e vidro. Desde então, passou a se incorporar também em objetos do cotidiano, como telefones, carros, eletrodomésticos e brinquedos. Chegou até a ensaiar tímidos passos funcionais nas vestimentas. Desde 1980 tem se materializado sob a forma de calculadora em relógios, brincos com microfones e gravatas com câmera para espiões, luvas que aquecem quando usadas, tênis inteligentes que medem calorias e distâncias percorridas por atletas, entre outros.

Mas nada se compara ao que ocorre no momento. Dois produtos emblemáticos contribuem para a disseminação acelerada do conceito. Um deles é o recém lançado relógio Apple, capaz, entre outras iniciativas, de informar onde as pessoas estão e o que fazem – um prato cheio para aplicações de produtividade e gestão de escritórios virtuais. O outro é o Google Glass. Companhias aéreas como a Virgin Atlantic estão testando o dispositivo em suas equipes para apoiar clientes de primeira classe com informações sobre voos, programas de milhagem, upgrades e condições climáticas.

O que isto tem a ver com o universo de viagens? Tudo. Os “wearables” tendem a se tornar companheiros assíduos do passageiro, principalmente o corporativo. Esta previsão é confirmada em pesquisa feita pela SITA em 30 aeroportos do mundo. Concluiu que 97% dos viajantes levam junto um smartphone, tablet ou laptop, e pelo menos um em cada cinco pessoas traz os três ao mesmo tempo. Todos os equipamentos, é claro, adotam tecnologias compatíveis com roupas e acessórios pessoais.

Como toda ferramenta inovadora, há efeitos colaterais, que atropelam especialmente o território da privacidade. Ao tornar pública sua localização e hábitos, o usuário pode ganhar em prestação de serviços, mas perde ao se tornar presa fácil do marketing de produtos e serviços. O lado bom é que um hotel pode acompanhar o voo do viajante para providenciar um quarto bem na hora do check-in, ou mesmo gerenciar o staff visando um tratamento mais personalizado. Da mesma forma, uma companhia aérea consegue tranquilizar um passageiro de que sua mala está a bordo ao compartilhar dados sobre rastreamento da bagagem. Mas há um lado chato. Por exemplo: restaurantes, lojas e serviços dos aeroportos conseguem invadir os dispositivos pessoais do viajante nos aeroportos com ofertas, sejam elas bem-vindas ou não.

Objeto de desejo de 71% dos jovens entre 16 e 24 anos, segundo a Forbes, os “wearables” chegaram para ficar. Uma pesquisa da ABI Research concluiu que graças à sua fácil compatibilidade com smartphones e dispositivos eletrônicos, o mercado de vestimentas inteligentes deve produzir 485 milhões deles até 2018.

Voo Livre: Três ideias ousadas

No ponto em que o corpo humano atinge o limite, o “wearable” amplifica poderes. Em breve, será possível oferecer ao usuário extensões desde mais força física, capacidade auditiva e até dons artísticos. Eis algumas ideias do designer Mark Rolston de aplicações que vão além dos relógios que medem batimentos cardíacos ou atualizam e-mails. Eis três deles:

Kinésio

Bandagem adesiva de alta tecnologia que alavanca a performance física através da integração do corpo com informações. Associado ao GPS, dá um toque no ombro da pessoa para lembrar a direção correta a tomar. Ou ainda, aperta o cinto durante as refeições para prevenir comilanças excessivas.

Arte compulsória

Que tal conseguir fazer um círculo perfeito sobre o papel? Ajustado ao pulso, este dispositivo permite ajustes finos dos movimentos motores. Estão contados os dias dos cortes mal feitos pelas mãos trêmulas de cirurgiões, ou das bolas extraviadas por tenistas desastrados.

Colar anti-fotográfico

como garantir a privacidade em um mundo de indiscretos Instagrams e Facebooks? Este apetrecho capta o movimento da câmera durante o autofoco e aciona um flash que inutiliza a imagem e assegura o anonimato. Ideal para celebridades que fogem de paparazzis.
 

* Este texto foi publicado originalmente na coluna Viagens de Negócio, de Fábio Steinberg, no dia 7 de outubro de 2014, no Diário do Comércio da Associação Comercial de São Paulo.

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