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Publicado: Segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Passos de Um Voto Casado

Crédito: Internet Passos de Um Voto Casado
Voto se faz sem baderna, mas com consciência. Ainda temos muito o que aprender em eleições.

O resultado das Eleições 2014 trouxe um feito inédito para a cidade de Itu: após a redemocratização, em 1985, nunca antes na história do nosso município conseguiu-se eleger, ao mesmo tempo, representantes para a Assembléia Legislativa Estadual e para a Câmara Federal. A proeza foi alcançada pelo casal Rita e Herculano Passos (PSD), não obstante as enormes críticas dos ituanos em geral.

A fria análise dos números nos revela que se tratou de uma bem trabalhada estratégia de marketing político, baseada no voto casado. Literalmente: quem votou na esposa, votou também no marido e vice-versa. Rita Passos teve 92.390 votos. Herculano Passos teve 95.583 votos. É quase mínima a diferença entre ambos.

Os eleitores ituanos ficaram desapontados e muitos se manifestaram nas redes sociais. Porém, neste caso, olharam apenas para o próprio umbigo (nossa cidade) esquecendo de enxergar além (outras cidades). O casal Passos, tendo uma visão mais abrangente sobre os votos que necessitavam para um pleito de níveis estadual e federal, trabalhou votos mais fora de Itu do que na própria cidade.

É o velho caso do "santo de casa não faz milagre". Enquanto em Itu manifestantes fizeram barulho e até vandalizaram o comitê local do PSD, a caravana dos Passos passeou em outros municípios e conseguiu fora de casa os votos que precisava para alcançar a eleição.

Consultei, aleatoriamente, a votação do casal Passos em 30 municípios do nosso Estado. Na cidade de Itu eles foram os mais votados:  Rita (14.224) e Herculano (11.295). Em seguida, a maior colaboração veio de São Paulo (3.495 e 4.366). A vizinha Porto Feliz contribuiu também (4.369 e 2.830). Assim como Sorocaba (3.166 e 2.254) e Cerquilho (2.712 e 1.286).

Os Passos colheram votos de praticamente todas as cidades da nossa região: Salto (1.928 e 929); Cabreúva (1.476 e 767); Indaiatuba (1.082 e 1.039); Votorantim (1.258 e 824); Boituva (813 e 533); Várzea Paulista (532 e 492); Tatuí (364 e 515); Campinas (316 e 344); Jundiaí (352 e 263); Santana de Parnaíba (964 e 562); Pirapora do Bom Jesus (132 e 353); Itupeva (100 e 72); Cajamar (78 e 39); Campo Limpo Paulista (43 e 43); Louveira (22 e 20).

Além disso, também conseguiram alguns votos na região metropolitana de São Paulo: Osasco (213 e 297); Guarulhos (207 e 280); Diadema (245 e 190), São Bernardo do Campo (120 e 152); Barueri (113 e 862).

Espantoso ainda foram os votos do casal Passos até mesmo em cidades improváveis para nós: em Bauru (118 e 205); na distante Ribeirão Preto (93 e 130); em Aparecida do Norte (36 e 34); no litoral, em Santos (1.073 e 1.013); na terra natal do reeleito Governador Alckmin, Pindamonhangaba (15 e 26); e até na impressionante Itaquaquecetuba, que ninguém sabe direito onde fica no mapa (31 e 53).

Os números nos indicam, portanto, que o casal Passos recebeu votos pulverizados por todo o Estado de São Paulo. De grão em grão, encheram a urna. Bastou-lhes conquistar uns votinhos na maioria dos 645 municípios paulistas para atingir a meta. Eleitoralmente falando, foi mesmo um feito impressionante.

Fato é que, a partir de 2015, a cidade de Itu terá representantes em nível estadual e federal em nossas Assembléias. Agora é preciso que todos, como eleitores conscientes, saibamos fiscalizar e cobrar um bom trabalho dos nossos deputados. Democracia de verdade se faz assim: acompanhando a atuação dos eleitos, cobrando sem dó nem piedade, ficando informados sobre todos os seus passos.

Precisamos insistir na democracia, pois temos muito o que aprender em eleições. Triste perceber que o povo do "vem pra rua" de todo o Brasil não protagonizou nenhuma mudança expressiva e sequer fez surgirem novas lideranças políticas. Voto se faz sem baderna, mas com consciência. E esta só se adquire com muita educação e diálogo.

Ainda somos o Brasil do protesto com vandalismo generalizado; o Brasil que acredita que sonhos, paixões e sentimentos vencem eleições; o Brasil que dá 250 mil votos a um Maluf, mesmo que seja ficha-suja; o Brasil que reelege Fernando Collor ao Senado de Alagoas; o Brasil que prefere votar numa caricatura de Tiririca porque os políticos de verdade não merecem ser levados a sério.

Não percamos o nosso tempo com lamentações e teorias da conspiração, simplesmente porque é totalmente improdutivo. Façamos a nossa parte de acompanhar e cobrar os que se elegeram. E nos preparemos para o próximo encontro com as urnas, em 2016.

Amém.

EM TEMPO: Antes que alguém se manifeste, sei que o Missionário José Olímpio (PSC) também se elegeu deputado federal. Porém, como o título indica, o presente artigo pretende abordar o fenômmeno do voto casado (literalmente).

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