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Publicado: Sexta-feira, 12 de setembro de 2014

A ditadura da conexão

Crédito: Arte/DC A ditadura da conexão

Em tempos de mobilidade, conforme os telefones fixos vão se tornando peças de museu, a conexão com a internet, por rede ou Wi-Fi, tornou-se mandatória. Mas de que adianta um arsenal de tecnologia de ponta de bagagem se aeroportos ou hotéis não dispõem ou cobram o olho da cara pelo acesso à internet? Mesmo o moderno terminal 3 do Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, hoje dá com uma mão de graça 30 minutos pelo serviço e tira com outra uma taxa para uso de minutos adicionais.

Não contar com a internet em qualquer lugar e a qualquer momento 24 x 7, tornou-se um martírio, principalmente para o viajante de negócios. Corresponde a aniversário sem bolo ou casamento sem vestido de noiva. Assim, estabeleceu-se uma relação direta entre a lealdade a um hotel e a sua capacidade de oferecer conexão wireless de qualidade com o mundo. De preferência, ampla, gratuita e irrestrita – sem malandragens observadas como incluir nas diárias uma internet com velocidade ridícula e precária tendo como alternativa pagar para obter um Wi-Fi decente.

No entanto, faltava conquistar um último bastião de resistência à conexão wireless, principalmente o de alta velocidade: os aviões. Pois os dias estão contados. De olho numa renda potencial de um público cativo, ocioso e com poder aquisitivo sentado a 35 mil pés de altura, a indústria se prepara para conquistar o último território inexplorado. Baseia-se em estudos globais como o da Honeywell Aerospace, que revelou que nove entre dez passageiros trocariam refeições, drinques e entretenimento de bordo pela conexão de alta velocidade para seus smartphones, laptops e tablets. Os mais ansiosos, como 13% dos americanos, 17% dos britânicos e 22% dos singapurianos pesquisados, disseram que preferem esta modalidade que banheiros nas aeronaves.

Diante disto, a Honeywell se juntou à AT&T para equipar aeronaves com antenas capazes de captar sinais 4G de bases em terra, ou banda larga do satélite da inglesa Inmarsat. Mas ainda há muitas barreiras pela frente para aperfeiçoar o “escritório do ar”, e nem sempre de ordem tecnológica. Uma delas é de tarifas: conforme os aviões cruzam fronteiras, os preços das conexões tendem a aumentar.

Não só passageiros se beneficiam de uma internet mais ágil nos céus. Os pilotos podem obter informações instantâneas sobre as condições de navegação, tornando obsoletas previsões de tempo geradas apenas antes do voo. As operações de terra e manutenção também ganham. Diagnósticos de equipamentos mecânicos e elétricos podem ser realizados no ar, evitando atrasos em terra e aumentando a segurança de voo.

Nem trens e automóveis escapam desta atração irresistível pelo Wi-Fi. Enquanto redes ferroviárias como a Amtrak, nos Estados Unidos, Deutsche Bahn e Eurostar na Europa também investem na conectividade a bordo, locadoras como a Avis, Europcar e Hertz estão instalando hotspots de Wi-Fi para atender suas frotas em vários mercados. No admirável mundo novo, é conexão na veia para todos!

* Este texto foi publicado originalmente na coluna Viagens de Negócio, de Fábio Steinberg, no dia 9 de setembro de 2014, no Diário do Comércio da Associação Comercial de São Paulo.

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