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Publicado: Domingo, 25 de maio de 2014

Educação: Conselhos Surreais

Crédito: Domínio Público Educação: Conselhos Surreais
Até personagens de histórias infantis lidam com frustrações

Nunca fui a favor da palmada para educar os meus filhos, e jamais concordei com a prática existente nos lares alheios. De tanto repetirem o recurso, os pais perdem a autoridade com os tais tapinhas cotidianos, assim como também a perdem com uma lista interminável de “nãos” a propósito de tudo, que são esquecidos com a mesma rapidez com que saem da boca.

Um “não” é um “não. É coisa séria. Por isso é difícil mantê-lo e ele deve ser muito bem escolhido para estabelecer, de fato, os limites entre as dezenas de ocorrências diárias. Multiplique-se esse número pelas crianças existentes na casa: é muita ocorrência.

Livros, manuais, guias, cursos e receitas para pais desesperados fazem sucesso. Delegar a terceiros as próprias responsabilidades também. Li recentemente que crianças de cinco a dez anos freqüentam orgulhosamente psicólogos de forma preventiva, para superar futuras frustrações.

Receita é o que não falta, especialmente para os pais que “não se sentem confortáveis” para dizer “não”. As sugestões da educadora Judy Arnall “é que recorram a ordens positivas e ao bom humor, e assumam uma posição equilibrada, para serem firmes e amigáveis ao mesmo tempo.

Ao invés de dizer "não corra" ou "não chore", convidem a criança para andar ou digam que é hora de falar mais baixo. O tom empregado também pode torná-la mais combativa e predisposta a desobedecer. Para evitar isso, é preciso manter o tom de voz tranquilo, mas firme, sem usar palavras que confundam a criança (seja lá o que for isso).

Para Arnall, o humor também ajuda. As crianças não costumam aceitar bem a negativa dos pais, e podem ficar com raiva. O bom humor ajuda a impor limites e a evitar conflitos. “Um bom modo de empregar o humor é pegar uma escova de dente (ou outro objeto), falar com uma voz engraçada e explicar para a criança por que ela não deve ter certas atitudes ou se comportar mal”, ensina.

A educadora recomenda que os pais precisam conhecer os próprios limites “e pensar de maneira estratégica, conhecendo as possíveis reações do filho diante de uma negativa para não fraquejar, caso ele tenha um acesso de raiva. “Uma maneira de desviar a atenção é oferecer uma alternativa satisfatória para a criança” - estratégia que deve ser preparada com antecedência.

Causa-me espanto o talento humano para tornar ainda mais difícil o que já não é fácil. Penso nos pobres pais que para educar os seus filhos, devem aprender as artes do ilusionismo, malabarismo e ficção, para transformarem seus lares num palco e suas famílias em atores de um inacreditável espetáculo onde inexistam raiva, frustrações e conflitos. Onde fica mesmo esse mundo? Também quero ir para lá. 

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