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Publicado: Domingo, 13 de abril de 2014

Flores Raras

Flores Raras

Os filmes brasileiros vêm se destacando muito ultimamente por alguns fatores, primeiro pelo numero de pessoas que vão assisti-los o que é bom para a produção nacional e o reconhecimento deles, pelas produções que estão em outro nível considerando alguns anos atrás, exemplo de bons filmes temos vários como “Heleno”, “O Som ao Redor” e os mais independente que é “Colegas”. Outro fator é como o mercado internacional está se abrindo para atores e diretores nacionais como o caso do Wagner Moura, Alice Braga e o já consagrado Rodrigo Santoro e o mais recente o diretor José Padilha. Mas o que mais vem chamando atenção é o numero de atores americanos atuando no mercado nacional, caso esse filme que foi citá-lo, e também o “Até que a sorte nos separe 2” que teve como participação o deus da comédia Jerry Lewis.

Mas como disse a produção melhorou, mas e o roteiro será que sim? Bem, “Flores Raras” é um exemplo de como conseguir as melhores locações, a melhor cenografia e os planos são perfeitos. Será que algo pode dar errado? A história do filme é de certa forma polemica para os padrões brasileiros de retratar a história de duas lésbicas que se envolvem nos tempos da ditadura e também por mostrar uma atriz que já é muito consagrada que é a Glória Pirez se mostrando numa outra fase e numa outra experiência.

A história do filme é baseada em fatos reais e conta a história de Elizabeth Bishop (Miranda Otto) uma poetisa frustrada e com vários complexos que mora em Nova York, ela não consegue escrever nenhum conto, e não se identifica com eles. Então decide viajar para ter novas inspirações e novos ares, assim vem ao Brasil. O ano é 1951 o auge da boemia carioca que ia ficar tão famosa no mundo todo, quando Miranda chega ao Brasil, ela é recebida por sua amiga Mary (Tracy Middendorf) e sua namorada a arquiteta Lota (Glória Pirez). No inicio ela estranha os costumes brasileiros como a comida, o jeito brasileiro de reunir os amigos e outras coisas. Se mostrando uma pessoa no primeiro momento, estranha e a parte daquele mundo, ela decide ir embora da casa das duas amigas, mas o acaso a faz ficar mais um pouco. Lota e Elizabeth entra em conflito o tempo todo, mas quando ela fica doente, Lota começam a se aproximar dela, e logo se tem uma identificação entre as duas. O que levam elas a ficar, ter uma base para um relacionamento e transarem em questão de minutos. Essa rapidez de se criar um novo romance, deixou a história fraca, já que você não consegue ter aquela “rapport” com o personagem, e o casal fica indiferente o filme todo para você.

Mas o que num ponto é negativo a história por outro é positivo, como o aspecto técnico da produção que é maravilhosa as locações que foram muito bem roteirizadas e filmadas tanto no Rio de Janeiro como em Nova York, os elementos de época, como arquitetura, marcas, objetos e também o vestuário que é excelente e a produção de arte que é maravilhosa. Destaco também as atuações que estão muito boas, apesar do roteiro ser horrível. E a Glória Pirez que fala muito bem o inglês, quase sem sotaque e também os tempos verbais que estão perfeitos, coisa que alguns “atores” no próprio filme tropeçam.

Outro fator que prejudicou a história é o isolamento das duas com o mundo externo, quando Lota e Elizabeth começam a namorar e ficar juntas para valer, e aceitação de Mary que já tinha percebido que ela estava sobrando naquele mundo das duas, foi rápido e sem sofrimento. Já que numa noite ela surta e vai embora, no dia seguinte ela volta e de certo modo se “humilha” para que Lota tenha um convivo com ela e adotem um bebe coisa que Mary sempre quis. Mas o fato de o filme não datar direito o tempo que eles estão é horrível para o andamento da história. Se num momento eles dizem que se passa em 1951, rapidamente eles citam o assassinato do Kennedy em 1963 e logo depois o golpe militar em 64. Isso deixa a história confusa para sabermos como ela se ambienta para isso refletir nos personagens.

Os altos e baixos na relação delas faz com que as duas se separem. Elizabeth volta para Nova York, deixando Lota sozinha, ela é internada por conta da perda de sua amada, e também por conta dos militares e um projeto que ela estava desenvolvendo com eles de um parque. A história avança bastante, mas como eu disse, ela se perde no tempo a deixando solta, sem identificação com os personagens e sem você comprar direito àquela história de amor das duas.

A história avança até as duas se verem novamente. Mas como Elizabeth supera Lota e se apaixona por outra mulher, não rola aquela paixão. E ela surge na vida e na cidade como uma passagem para deixar esse passado de lado para sempre. Mas impedida de vela, Elizabeth volta para America e Lota vai atrás dela. Já no apartamento dela em Nova York, ela acha um livro com uma dedicatória da namorada de Elizabeth, e isso faz com que Lota se mate. O final que séria emocionante é cortada por essa afobação de mostrar tudo de uma vez e não ir por partes, ou mostrar pelo menos as dores das duas mulheres. Mas o ponto que quero chegar é o furo no roteiro e na personalidade de Lota, que se mata? Ela vem apresentando um comportamento “x” no filme todo, então você percebe que essa atitude não é da sua personalidade, e o que séria uma ultima cena para mostrar um ato de amor frustrado, acaba sendo no mínimo piegas, e mostrando um roteiro mal adaptado que foi preparado para esse filme. No mínimo uma reformulação ou outro tratamento nele séria valido.

Mas o que concluo é que o filme é de uma ótima produção, com um roteiro péssimo. Não é de longe um dos melhores filmes brasileiros desses tempos, mas vale como titulo de curiosidade, primeiro por mostrar uma história de duas mulheres, que foi para um circuito nacional de exibição e não ficou presa exclusivamente em festivais. E também pela atuação da Glória Pirez que está espetacular. Um olhar interessante sobre a vida de pessoas tão distintas, uma oportunidade para outros filmes quebrar conceitos e até preconceitos de uma forma geral.

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