Colunistas

Publicado: Terça-feira, 30 de julho de 2013

Recordações de visita a uma biblioteca

Numa parede o quadro

da donzela nua e bela,

sem “manto diáfano”

e sem “fantasia”,

apenas  simples “Verdade crua

e nua” presidia

soberba,  artisticamente,

em cores vivas, garridas, alegres, sensuais,

a vida.

Juntamente, ao espectro espiritual de quem  tão bem soube pintar, a retratar a atmosfera,

o silêncio circunspecto daquela livraria, ricamente cuidada, encadernada

com requinte de quem ama, de quem cultiva a vida, o saber,  a sobriedade do beber  de fonte cristalina

e, a saber urdir a trama, a pensar, a  criar,  a  engendrar,  a  projetar  na alma  eterna chama.

Do outro lado, o  quadro, bem enquadrado,  austero  e doloroso em outra tela,

retratando a Cristo, sereno, sério, mártir e contrito, 

no mesmo silêncio,

agora em cores desmaiadas, solenes, deprimentes, tristes,

como tristes são as lembranças de um castigo injusto,  crú,

exercido , desalmadamente, sem piedade, sem misericórdia,

sem dó, implacavelmente, sobre inocente vocação

vital de natural pureza e transcendência.

Duas telas. Belas.  Uma só mensagem !

 Mais pelo que à alma dizem, do que pelo que se vê naquela biblioteca sem T.V.

Numa e noutra tela é evidente, a objetividade sensível à  VERDADE,

 o amor  gritantemente  sugerido ,  a perfeição presente  eloquentemente naquele silêncio diáfano e solene de  acervo cultural,  a civilizar, civilizadamente, onde sempre se guardam e divulgam esperanças, paixões, fanatismos,  ódios, invejas, ciúmes,  vida e morte, fatalismos, compostos em livros, em lembranças,

 em saudades,

que se encadeiam e  encadernam  de rumores , a bibliotecar, a guardar memórias,  remorsos, romances, poemas,  dramas,  louros e louvores, teses ou pretensas teses onde os homens  buscam luzes e favores, a pesquisar, a desvendar mistérios, histórias, sentenças, cantares, dizeres, amores,

a procurar magos, amigos,  sábios e a  encontrar ou  a descobrir horrores.

O teor  dessa vivência mística e amor puro, genuíno, autêntico,  inocente,

que o mesmo inspirou Adão e Eva, Sansão e  Dalila, Jacó e  Raquel, por certo intensamente ,

potência de todo o bem e mal , dual, corrente,

é o da razão incontida na torrente

de saber  autêntico mas carente

de verdade perene,  transcendente :

o amor que se vê  e o que se sente,

o que vive ternamente nos  livros e na gente,  latentemente , o que se projeta indefinidamente no tempo, como síntese de virtude e plenitude ingente ,  depende de razão nunca demente,

que não teme nem  é cega, não  se nega, que não é consumo, é desafio, que  não faz exigências, apenas  vidente não calcula, não cultiva remordimentos, nem remorsos, não tem começo nem fim, está presente , sã, candentemente, louva,  ama somente , proclama, atua, assume, luta , leal, idealmente , ou  respeita simplesmente,

não desmente a  verdade , a  semente,  é misericordiosa e, cria, inspira, liberta, humaniza,  constrói, compreende, perdoa, responsabiliza, responsabiliza-se,  jamais se mente, à mente ,  ao coração  sensível e latente,

a testemunhar  eternamente

o mais profícuo Amor,

ardentemente ! . . .

ERASMO FIGUEIRA CHAVES

CABREÚVA, 11/9/98

(Inspiração em visita à formosa e bem  nutrida Biblioteca do emérito  Professor João dos Santos Bispo)

Comentários